Estabelecer um paralelismo entre a literatura cabo-verdiana e a açoriana é um dos pressupostos de “Literacia Literária e Cultural das ilhas de Açores”, projecto que trouxe a Cabo Verde uma equipa de duas professoras, uma aluna da Universidade de Açores e uma assistente social. Direccionadas às crianças, as actividades iniciaram-se no dia 03, nas cidades da Praia, Assomada e Tarrafal, na ilha de Santiago. Nesta primeira etapa o grupo trabalhou, na Assomada, com cerca de 60 crianças do primeiro Campo de Férias organizado pela Câmara Municipal de Santa Catarina, assim como na colónia de férias organizada pela ACRIDES, para crianças desfavorecidas.
Os idosos do Centro de Dia de Castelão, na cidade da Praia, também puderam interagir com o grupo. Aqui, a delegação açoriana reuniu-se com a direcção da ACRIDES – Associação de Crianças Desfavorecidas, para a partilha de experiências e apresentação de um convite a uma visita aos Açores onde serão estabelecidos contactos com várias instituições de solidariedade social.
Ou seja, de acordo com Graça Castanho, coordenadora do projecto e professora na Universidade dos Açores, a espectativa é de também vir a receber um grupo de Cabo Verde naquele outro arquipélago, talvez, no próximo ano. “Estamos num processo de partilha e aprendizagem conjunta. O mesmo oceano que nos afasta é o mesmo que nos aproxima. Fala-se muito pouco da literatura cabo-verdiana nos Açores, assim como fala-se muito pouco da literatura açoriana em Cabo Verde. Somos povos atlânticos que deviam estar mais próximos a nível cultural”, realça.
Terapia do riso
O referido projecto visa promover a literatura dos Açores e a de Cabo Verde, adoptando estratégias de promoção e declamação da poesia, através da terapia do riso, uma estratégia que, no dizer de Graça Castanho, tem implicações positivas na saúde, no sucesso escolar e no equilíbrio emocional de cada pessoa, principalmente as crianças e idosos.
“É um elo unificador e um factor que permanece em todas as actividades e intervenções. Está estudado e comprovado que em todos os contextos educacionais, quando se trata de populações fragilizadas como são os idosos e crianças, as estratégias e actividades que produzem alegria, felicidade e bem-estar são extremamente importantes e gratificantes”, explica.
Contudo, para aquela responsável, é preciso também revitalizar o próprio conceito e práticas de felicidade e do riso, que, na sua opinião, devem ser vistos como direitos humanos. “Muita coisa há a fazer, porém, passos significativos já foram dados. O nosso entusiasmo mantém-se e cá estaremos para o ano para dar continuidade a este projecto, ampliando o seu campo de intervenção noutros contextos e com outras iniciativas”, adianta Graça Castanho.
Literatura Infantil
Há já dois anos que a equipa começou a pesquisar a literatura infantil cabo-verdiana, na tentativa de “criar este paralelismo entre Cabo Verde e Açores”. Os contactos foram feitos e agora surgiu a possibilidade de vir a Cabo Verde para finalmente consomar esta ideia. Para a nossa entrevistada, a Literatura é um veículo “importantíssimo” de expressão e compreensão do Mundo, em especial da nossa condição arquipelágica.
No campo da Literatura Infantil, Cabo Verde, tal como os Açores, está num processo de evolução e poucos são os escritores a escreverem para crianças. “Muitas vezes, o que acontece é que quando se escreve é numa postura de adultos a escrever para crianças. Perde-se a noção de que a linguagem e temáticas têm que ser na perspectiva da criança. Contudo, nos últimos anos temos sentido que cada vez há mais gente a escrever para crianças”, admite a coordenadora do projecto que “pretende dar um contributo de elevar a literatura junto das crianças”.
Para além de Graça Castanho, a equipa de “Literacia Literária e Cultural das ilhas de Açores“ é composta ainda por Ana Isabel Ferreira e Manuela Bulcão, escritoras e poetisas açorianas, e Cláudia Pereira, estudante da área de Educação na Universidade dos Açores.
ACN