Luís António Barreto, “Nelito”, baleado com dois tiros, em 2011, na zona de Sucupira, alegadamente, por uma inspectora da Polícia Judiciária (PJ), diz que, volvidos sete anos, continua a aguardar por justiça. Este antigo lavador de carros, hoje motorista de profissão, diz que, como cidadão, este é um direito seu, do qual não abre mãos.
“Nelito” conta que na manhã de 9 de Julho de 2011 foi abordado pela Inspectora Marlene, por suspeita de tráfico de drogas, após uma falsa denúncia.
“Na altura, eu lavava carros na zona de Sucupira e naquele dia um indivíduo, conhecido por “Beto”, trabalhador da Adega, disse que tinha comprado drogas em mim. A inspectora dirigiu-se para o local onde lavava carros para averiguar a denúncia. Ela pediu-me para indicar onde tinha droga escondida e respondi-lhe que não tinha droga nenhuma. Então, insatisfeita com a resposta, ela começou a agredir-me sem sequer me ter dado voz de prisão, ou de qualquer tentativa de fuga da minha parte, uma vez que estava sentado, no chão, por ordem dela”.
Conforme o queixoso, a inspectora deu-lhe dois tiros, um no pé esquerdo e outro nas costas. “Ela agarrou-me no peito da camisa e fez-me levantar do chão e tentou dar-me uma coronhada na cabeça, mas sem sucesso porque desviei-me a tempo. Foi então que ela me deu um tiro no pé esquerdo e quando me debrucei para ver a gravidade do ferimento, fui de novo alvejado com um tiro nas costas”.
“Comigo no chão”, prossegue, “ela tentou por diversas vezes impedir que os presentes me socorressem para hospital. Inclusive, ela disse que estava a matar-me e ameaçou atirar contra quem se atrevesse em avançar para me socorrer”.
Mesmo assim, Nelito conta que foi socorrido por um jovem que tinha acabado de chegar ao local, viu o que se estava a passar e teve a coragem desobedecer a referida agente, levando-o para Hospital Agostinho Neto (HAN), num táxi.
“A inspectora foi no táxi juntamente comigo até à porta do HAN, mas não entrou. Fiquei internado durante uma semana e fui submetido a uma intervenção cirúrgica e depois fiquei a recuperar em casa. Mas, até hoje, deixei de poder fazer trabalhos pesados. Tenho três filhos menores, que dependem de mim. Actualmente, trabalho como condutor de Toyota Dyna e no dia-a-dia sinto-me as sequelas das lesões quando tento carregar uma caixa”.
Apresentação da queixa
Devido ao ocorrido, Nelito revela que apresentou uma queixa-crime contra a referida inspectora, por tentativa de “homicídio agravado”. A queixa, segundo ele, deu entrada na Procuradoria da Comarca da Praia, no dia 14 de Julho de 2011, sob o nº 8347/11.
“Um ano depois, foram chamadas todas as testemunhas para serem ouvidas nas instalações da PJ, debaixo de intimidações. Depois disso, não fomos chamados. Sei que não foi aberto nenhum inquérito para apurar os factos e muito menos instauração de processo disciplinar. Apenas fiquei a saber que a inspectora foi transferida para ilha do Sal, se calhar, para disfarçar. Mas agora já voltou para Praia”.
Nelito adianta que através dos seus advogados já submeteu ao Ministério Público dois pedidos de aceleração processual, sendo último no passado dia 22 de Junho. “Já se passaram sete anos ainda não tive nenhuma resposta e não há nenhuma acusação formada contra a inspectora. Se fosse o contrário, eu já tinha sido julgado e condenado logo no dia seguinte. Até pode ser que nem metade da pena tinha cumprido porque seria pesado”, desabafa.
Temendo que o caso caia no esquecimento, Nelito procurou A NAÇÃO para expressar a sua indignação. “Este processo já demorou tempo de mais, até porque, pelo que me foi informado, normalmente, o caso devia ser resolvido no prazo de 18 meses. Em vez disso, já se passaram sete anos e ainda nada”.
Para ele, tudo aponta para uma tentativa deliberada de prescrição do prazo legal da queixa e a inspectora em causa possa ficar impune. “O que me aconteceu não pode acabar em nada, enquanto puder vou fazer de tudo que estiver ao meu alcance para que a justiça seja feita. Como cidadão, tenho este direito”, avisa.
O A Nação contactou a PJ para obter esclarecimentos, mas foi-nos dito que a inspectora visada (Marlene) não poderia prestar declarações ao abrigo do sigilo profissional.
SM