A defesa dos cidadãos estrangeiros, em julgamento, por alegados crimes de tráfico de droga de alto risco e de associação criminosa, considerou hoje como “questão central” do processo se “sabiam ou não que havia droga no veleiro”.
Ao fim do segundo dia da audiência de discussão e julgamento do caso que envolve os cidadãos brasileiros Daniel Guerra, 36 anos, Daniel Dantas, 43 anos, e Rodrigo Dantas, 25 anos, e o francês Olivier Thomas, 49 anos, o advogado Osvaldo Lima veio dizer que a defesa se encontra “plenamente convencida” de que o quarteto acusado não tinha o “mínimo conhecimento” que havia droga a bordo.
“Os culpados estão por aí, algures, mas estes que se encontram aqui como arguidos são inocentes e não têm nada a ver com isso, e vamos a prova no sítio próprio, que é na audiência de discussão e julgamento”, declarou o advogado, que classificou a audiência da tarde de hoje, em que foram ouvidas sete testemunhas abonatórias dos arguidos, todas brasileiras, entre familiares e amigos dos três arguidos brasileiros, de um dia “de todas as emoções”.
Osvaldo Lima considerou que o dia “correu bem” à defesa, por julgar estar a fazer o que lhe compete para “demonstrar a inocência dos quatro arguidos”, ainda que o “ónus da prova caiba a quem acusa”.
“E nós não vamos deixar esse ónus apenas na mão de quem acusa, vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para, não só demonstrar que os quatro arguidos não praticaram os crimes que vêm acusados, e ainda defender de toda e qualquer acusação, pois para nós está por provar aquilo que o Ministério Público alega na acusação”, finalizou.
A Inforpress abordou, no fim da audiência da tarde de terça-feira, o representante do Ministério Público neste processo, o magistrado Manuel Reis, sobre as declarações por ele proferidas durante o julgamento, na manhã de hoje, em que acusou a Comunicação Social de “estar ao serviço da defesa” neste processo e de, até, ter já “desenvolvido a tese de absolvição” dos arguidos do processo.
O procurador informou ao jornalista que tem “o direito de reserva”, por isso “não presta declarações à imprensa” e que “tudo o que disse na sala de audiências encontra-se no processo”.
A audiência de discussão e julgamento, ouvidas todas as testemunhas arroladas no processo, que já conta cerca de 600 páginas distribuídas por cinco volumes, prossegue esta quarta-feira com uma visita ao veleiro RichHarvest, apreendido num dos cais do Porto Grande do Mindelo.
Trata-se de uma diligência para os intervenientes no processo se aquilatarem de como as coisas aconteceram, “tirar dúvidas” em relação à localização dos tanques na embarcação e “algumas outras questões” que surgiram na audiência de discussão e julgamento.
O juiz já informou que no final da visita, Ministério Público e defesa deverão proceder às alegações finais, para, logo de seguida, ser marcado o dia da leitura da sentença.
O Ministério Publico acusa os quatro tripulantes do veleiro RichHarvest de tráfico de droga de alto risco agravado e de associação criminosa, após a apreensão, no mês de Agosto do ano passado, na Marina do Mindelo, de 1.157 quilogramas de cocaína, escondidos na embarcação.
Pelo menos três dos quatro tripulantes terão sido contratados, por uma agência de recrutamento de tripulação, denominada “The Yacht Delivery Company”, com sede na Holanda, para transportarem um veleiro de 72 pés, de bandeira inglesa, na rota Natal (Brasil) – Madeira (Portugal).
Daniel Dantas seria chamado mais tarde para integrar a tripulação e os três, movidos pelo sonho de realizarem a travessia do Atlântico e adquirirem experiência (milhas navegadas), sustentam que “não tinham conhecimento” da droga que foi encontrada a bordo do iate na Marina do Porto Grande do Mindelo, até porque a embarcação tinha sido alvo de uma inspecção por parte da Polícia Federal brasileira, antes de largar do porto de Salvador.
Fonte: Inforpress