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Autoeficácia da escola: ensino e aprendizagem (2)

Por: Olímpio Tavares*

O processo de ensino e de aprendizagem constitui a essência da relação pedagógica entre o professor e o aluno. Cabe ao professor liderar esse processo através do ensino de um conjunto de conhecimentos, habilidades e competências prescritos no currículo, em que terá de ser correspondido pela respetiva aprendizagem do aluno. No entanto, essa correspondência pretendida por parte do professor nem sempre acontece. E quando isso não acontece, a autoeficácia do processo é posta em causa. Nesta reflexão, pretendo mostrar porquê que o processo de ensino e de aprendizagem padece de autoeficácia desejada, no nosso sistema de ensino. Para isso, vou considerar cinco aspetos, de entre muitos, que, a meu ver, contribui para esse fracasso. São: ensino centrado no professor; conteúdos extensos; avaliação excessivamente sumativa; alunos passivos; falta de atualização pedagógica e científica dos professores. 

Ensino centrado no professor

Em geral, temos um sistema de ensino muito centrado no professor. Isso significa, em termos práticos, que o professor faz quase tudo, e deixa pouco espaço para o aluno contribuir para melhorar aquilo que se ensina em determinados momentos. Aliás, são frequentes as queixas dos alunos em relação a alguns professores que só consideram a sua opinião, excluindo a opinião daquele, independentemente da sua validade, ou seja, esses professores seguem o lema “magíster dixit”. E com isso deixam bem claro ao aluno que é ele que tem direito à opinião verdadeira. Neste contexto, só resta ao aluno obedecer ao professor para não ser prejudicado na nota, como se costuma dizer. Este procedimento por parte do professor, que é uma realidade frequente no nosso contexto, acaba por relegar o aluno à passividade, contribuindo assim para a ineficácia do processo de ensino e de aprendizagem. 

Alunos passivos

Uma vez relegados à passividade, como vimo atrás, o aluno limita-se de ora a vante a repetir os procedimentos rotineiros do professor, tornando assim o seu processo de aprendizagem um ato de simples memorização acrítica, que terá consequências desastrosas na sua formação como homem integral e cidadão ativo. A sua aprendizagem será basicamente concordar com o professor em tudo o que ele diz e faz. E quanto mais próximo for a sua imitação, maior será o seu resultado em termos de notas. Em suma, o aluno limita-se a ter uma aprendizagem mecânica, cujo objetivo é, infelizmente, agradar o professor e ter notas. 

Conteúdos extensos

Outro item que contribui para a ineficácia do processo de ensino e de aprendizagem é a extensão dos conteúdos. Ou seja, professor tem um programa extenso a cumprir. Isso faz com que trate cada item de conteúdo previsto no currículo, de forma superficial, porque tem pouco tempo para cumpri-lo. Além disso, há uma pressão por parte do Ministério da Educação no sentido de os professores lecionarem todos os conteúdos custo que custar, a fim dos alunos poderem conhecer todos os conteúdos que figurarão nas provas nacionais e nos exames. Fica a ideia de que o professor trabalha para as provas nacionais. Se assim é, o processo de ensino e de aprendizagem fica profundamente debilitado, contribuindo assim tanto para a ineficácia do ensino como da aprendizagem. 

Avaliação sumativa

As provas nacionais e os exames são instrumentos de avaliação sumativa a nível externo. A nível interno, os professores têm diversas avaliações a realizar ao longo do trimestre. Muitas vezes essas avaliações são feitas à pressa, contribuindo assim para que os alunos tirem pouco proveito delas a nível de aprendizagem. Além disso, para além dos testes, os alunos têm de fazer mais três ou quatro trabalhos por cada disciplina. Mas o maior problema é que os professores, muitas vezes, não conseguem dosear os trabalhos, de forma a serem mais eficazes e mais práticos, contribuindo, por um lado, para que o aluno aprenda mais e melhor, e por outro lado, fazer com que o aluno tenha menos cansaço. 

Atualização do professor

Por fim, a atualização do professor, conhecido no contexto educativo como formação contínua. O professor precisa de uma formação contínua de qualidade, não nos moldes que é feito atualmente pelo Ministério da Educação, em formato Webnar, que pouco contribui, a meu ver, para o desenvolvimento profissional do professor. Defendo um modelo presencial ou b-learning, com um número reduzido de professores. Assim, os professores terão oportunidade de trabalhar aspetos críticos da sua prática pedagógica que o ajudarão posteriormente a responder melhor às necessidades dos alunos, e consequentemente contribuirá para melhorar a eficácia do processo de ensino e de aprendizagem. 

Em suma, posso afirmar que a autoeficácia da escola sob o ponto de vista do processo de ensino e de aprendizagem é muito fraca, por aspetos que invoquei acima e outros possivelmente. O que é certo, temos sinais claros de que esse processo não é eficaz. O que significa que temos de fazer alguma coisa para inverter a situação de que nos encontramos neste momento. Isso também dependerá de outros fatores do qual debruçarei no próximo artigo. 

*Mestre em Supervisão Pedagógica

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