O projecto de dessalinização da água, financiado pelo Governo de Cabo Verde em cerca de 240 mil contos e implementado em 2022, a partir do mar da Ribeira da Barca, tem sido alvo de críticas por parte dos moradores da localidade de Cruz Grande, em Santa Catarina. As queixas recaem principalmente sobre a escassez e a qualidade da água fornecida, que, segundo os residentes, é insuficiente e apresenta problemas.
Na altura da inauguração, tanto a Câmara Municipal de Santa Catarina quanto a empresa intermunicipal Águas de Santiago (AdS) acreditavam que a dessalinizadora da Ribeira da Barca resolveria os problemas de abastecimento de água na região. No entanto, segundo os moradores ouvidos pelo A NAÇÃO, o que deveria ser uma solução acabou por se tornar um novo desafio, dificultando ainda mais o acesso ao recurso essencial.
O projecto, que inclui 17 quilómetros de condutas, quatro reservatórios construídos e outros quatro reabilitados, além de cinco estações elevatórias, tem uma capacidade de produção estimada em 1.200 metros cúbicos por dia (m³/dia). Porém, a realidade vivida pelos habitantes é bem diferente do esperado: a distribuição de água piorou em comparação com anos anteriores. Diante disso, muitos questionam: “Será que foi apenas para alimentar a esperança dos agricultores e criadores de gado que fizeram o que fizeram?”
Moradores enfrentam dificuldades
Sónia Tavares, moradora da zona, relata que a escassez de água é um problema antigo, que se agravou com o tempo. “Anos atrás, a água só chegava de madrugada, por volta da uma da manhã. Quem estivesse a dormir tinha de se levantar rapidamente, pois, se perdesse esse momento, poderia passar meses sem água novamente. Quando anunciaram o projecto de dessalinização, pensamos que a situação iria melhorar, mas, na verdade, ficou pior. A qualidade da água é questionável e a produção insuficiente. Estamos há três meses sem uma única gota de água nas torneiras”, desabafa.
Outra moradora, Ângela Miranda, afirma que os custos com água aumentaram significativamente. “Mesmo sem água, continuamos a pagar as facturas. Além disso, temos de comprar água semanalmente aos bombeiros, que só passaram a vir à zona neste mês de Fevereiro, depois de dois meses sem qualquer abastecimento. E como a água fornecida é suja e não tratada, somos obrigados a gastar ainda mais dinheiro em água mineral”, lamenta.
Sem água também para o gado
A situação é ainda mais preocupante para os moradores que dependem da água para a criação de animais e cultivo de hortaliças. Armindo, um criador da região, conta os desafios que enfrenta diariamente.
“Quem não tem um tanque para armazenar água da chuva está a sofrer muito. A água que compramos aos bombeiros não é suficiente para os animais, as plantas e as tarefas domésticas. Faço um apelo à entidade fornecedora para regulamentar o fornecimento de água semanalmente, conforme foi prometido na inauguração do projeto”, reivindica.
Tentámos entrar em contacto com a ADS, para obter esclarecimentos sobre a situação, mas, até ao fecho desta edição, não obtivemos resposta.
Cláudia Cruz – Estagiária
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