Por: António Medina
Cabo Verde, um pequeno arquipélago no Atlântico, tem enfrentado desafios económicos históricos, com uma economia frágil que depende fortemente de fatores externos. A ajuda internacional, as remessas enviadas pelos emigrantes e o turismo são pilares essenciais para a sustentação da nossa economia. No entanto, um cenário global em constante mudança, marcado por políticas de austeridade e restrições no fluxo de pessoas e capitais, coloca o futuro de Cabo Verde em risco, especialmente com as recentes movimentações do governo dos Estados Unidos, que prevê a suspensão de ajudas externas e a intensificação das deportações de emigrantes. O que esperar dessa nova realidade? Como Cabo Verde, com suas altas taxas de pobreza e desemprego juvenil, enfrentará essas mudanças?
A diáspora cabo-verdiana, especialmente nos Estados Unidos, sempre foi um alicerce económico vital para o país. As remessas enviadas por nossos emigrantes sustentam milhares de famílias e contribuem diretamente para o PIB de Cabo Verde. No entanto, a recente decisão do governo dos EUA de suspender a ajuda externa ao MCC (Millennium Challenge Corporation) tem gerado grandes apreensões. Essa suspensão, que pode afetar diretamente os recursos destinados a projetos de infraestrutura e desenvolvimento no país, representa um golpe significativo para a economia cabo-verdiana, especialmente em um momento em que a nação já enfrenta sérias dificuldades financeiras.
Simultaneamente, a intensificação das deportações de emigrantes, uma medida política que tem afetado milhares de cabo-verdianos nos Estados Unidos, poderá agravar ainda mais a situação. Além da perda de remessas, que são um pilar fundamental para muitas famílias, a volta de emigrantes sem perspectivas claras de reintegração no mercado de trabalho em Cabo Verde criará pressões adicionais sobre um sistema de emprego já saturado. A situação pode resultar em um aumento da pobreza e do desemprego, afetando diretamente a qualidade de vida dos cidadãos, que já enfrentam desafios significativos.
Além disso, a ajuda externa, que tem sido um fator decisivo para o financiamento de projetos essenciais em Cabo Verde, corre o risco de sofrer cortes drásticos. Projetos de infraestrutura, educação e saúde, que têm sido parcialmente financiados por recursos internacionais, podem ser paralisados. A dependência excessiva de ajuda externa coloca o país em uma posição vulnerável, sem alternativas claras de financiamento interno e com uma economia ainda em processo de diversificação.
Outro problema crucial que agrava a situação é a alta taxa de desemprego juvenil. A geração mais jovem de cabo-verdianos, frequentemente sem qualificações suficientes para o mercado global, enfrenta um futuro incerto, especialmente em um cenário onde as políticas externas estão restringindo fluxos migratórios e afetando a chegada de novos investimentos. Sem políticas públicas eficazes para promover o empreendedorismo e a formação profissional, os jovens poderão se ver forçados a migrar para outros países ou se envolver em atividades informais.
Neste cenário de incertezas, a diplomacia de Cabo Verde torna-se ainda mais importante. O país precisa diversificar suas fontes de ajuda e investimento, buscando parcerias não apenas com países desenvolvidos, mas também com economias emergentes e países africanos. Reforçar os laços com organizações regionais, como a CEDEAO e a União Africana, pode ser uma maneira de garantir uma rede de suporte e recursos. Além disso, o fortalecimento da imagem de Cabo Verde como um destino turístico e como uma plataforma para investimentos pode abrir novas portas para o desenvolvimento local.
Apesar das dificuldades, há espaço para a esperança, desde que o governo, a sociedade e os parceiros internacionais se unam para enfrentar este desafio. A mudança de mentalidade e de práticas económicas será fundamental para que Cabo Verde consiga reduzir sua dependência externa e caminhar em direção a um futuro mais estável e independente. O incentivo ao setor privado, ao turismo sustentável e à inovação tecnológica pode ajudar o país a diversificar sua economia e abrir novas possibilidades para o crescimento.
Embora as incertezas globais representem um desafio, elas também podem ser uma oportunidade para Cabo Verde repensar sua estratégia económica e fortalecer sua autonomia. O país possui recursos humanos e naturais suficientes para se reinventar e garantir um futuro mais resiliente e autossuficiente para as gerações futuras, se agir com sabedoria e estratégia.
Medina 2025