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Sociedade

Inquérito sobre qualidade da democracia e governação: 65% dos cabo-verdianos consideram que o “país está a caminhar na direção errada”

Cerca de 65% dos cabo-verdianos, a maioria jovens dos 18 aos 35 anos, consideram que o país está a “caminhar na direção errada” enquanto 20% da população “defende a possibilidade de intervenção militar no Governo”, ou seja, que os militares deveriam governar pelo tempo necessário para beneficiar o país. Estes dados do décimo inquérito sobre a “A qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde: condições económicas e satisfação com a democracia”, foram divulgados esta Terça-feira, 28, na cidade da Praia, pela empresa Afrosondagem.

Conforme sublinhou, José Semedo, diretor-geral da Afrosondagem, os dados deste inquérito, realizado de 27 de Agosto a 10 de Setembro de 2024, e cuja divulgação já vai na sua terceira fase, confirmam a tendência negativa dos últimos anos, nomeadamente em relação ao facto de a maioria dos cabo-verdianos considerar que Cabo Verde está na direção errada.

Do ponto de vista socio-económico, os resultados do inquérito apontam que cerca de um terço da população cabo-verdiana ainda está na situação de pobreza, sendo que mais de metade, cerca de 54%, considera que as condições económicas do país são muito más.

84% dos cabo-verdianos descontentes com os políticos

Apesar da confiança na democracia, o estudo aponta que 20% da população “defende a possibilidade de intervenção militar no Governo”, ou seja, que os militares deveriam governar pelo tempo necessário para beneficiar o país.

A maioria dos inquiridos, cerca de 84% da população, considera que os políticos pouco ou nada fazem para ouvir as suas opiniões e preocupações, demonstrando um descontentamento generalizado com a forma como os líderes lidam com o povo.

Os dados indicam que 79% das pessoas em situação de elevada pobreza consideram que o país segue na direção errada, enquanto 70% ainda mantêm esperança de um futuro melhor nos próximos 12 meses. 48% tem falta de água em casa e 31% enfrenta períodos sem alimentação.

O estudo destaca que dois terços da população não têm rendimento em dinheiro, 46% sem combustível para cozinhar e 36% sem acesso a cuidados médicos.

Dados preocupantes sobre governo militar

O estudo avaliou igualmente o papel das Forças Armadas, tendo em conta que Cabo Verde está inserido numa sub-região marcada por intervenções militares cada vez mais frequentes.

Os resultados indicam que 36% dos cabo-verdianos concordam com a ideia de que as Forças Armadas devem intervir no processo político do país, e, além disso, 56% consideram legítimo que as Forças Armadas assumam o controlo do Governo em situações onde os líderes eleitos abusam do poder para benefício próprio.

Distanciamento entre a classe política e os cabo-verdianos

O director-geral da Afrosondagem, José Semedo, sublinhou que a crise democrática presente a nível mundial e também em Cabo Verde, exige reflexão e acção política, considerando o distanciamento entre políticos e cidadãos e o crescente deficit de participação dos cabo-verdianos.

Durante a apresentação do estudo, disse ainda que 84% dos cabo-verdianos sentem que os políticos não os ouvem, refletindo descontentamento com a classe política, mesmo mantendo confiança no sistema democrático.

Para o director-geral, é fundamental ultrapassar o mero plano das intenções e focar na melhoria concreta das condições de vida dos cabo-verdianos, sendo que a população precisa de sentir que existem políticas reais e eficazes com impactos positivos.

Alternativas credíveis para os jovens

De acorco a Afrasondagem, os resultados do inquérito mostram que os jovens necessitam de alternativas credíveis que lhes ofereçam perspectivas de futuro uma vez que a falta de oportunidades leva muitos a considerarem a emigração como única saída, não obstante o facto de Cabo Verde ter potencial para encontrar soluções viáveis que revertam essa tendência.

No entender do director-geral da Afrosondagem cabe aos políticos, ao Governo e à oposição refletir e agir de forma a atender às expectativas da população dentro das possibilidades reais.

Décimo estudo da Afrosondagem sobre qualidade da democracia e da governação

Esta é a terceira apresentação faseada pela afrosondagem dos resultados do décimo estudo sobre “A qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde: condições económicas e satisfação com a democracia”, realizado de 27 de Agosto a 10 de Setembro de 2024, em que foram inquiridas 1200 pessoas maiores de 18 anos, nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santiago e Fogo, represdentando 96% da população adulta cabo-verdiana.

Nesta terceira apresentação, realizada esta Terça-feira, 28, na cidade da Praia, o foco recaiu sobre as condições económicas do país e dos cabo-verdianos, a pobreza e a satisfação com a democracia, cujos resultados divulgados continuam com a tendência negativa dos últimos anos.

C/ Inforpress

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