Por: José Sanches
Rezam os anais da história, que a liderança num partido político não se impõe e muito menos deve ser um processo hereditário. Hoje, mais do que nunca, as lideranças devem ser frutos de um trabalho permanente, coerente e consistente entre os putativos líderes, a base eleitoral dos partidos, a sociedade e a dinâmica social, bem como, a conjuntura nacional e internacional, uma vez que vivemos numa aldeia global, que no dizer de muitos teóricos da filosofia política e não só, se convencionou chamar de globalização.
Na esteira de liderança, o PAICV vai a votos no mês de março de 2025, para que os militantes possam ter o dever cívico de escolher o novo Presidente e os delegados ao congresso eletivo, que elegerão o Conselho Nacional – órgão máximo entre 2 congressos, e o Conselho Nacional, por sua vez, elegerá os demais órgãos do PAICV a nível nacional, a saber: Comissão Política Nacional, Comissão de Jurisdição e Fiscalização Nacional, Comissão Permanente e o Secretariado Geral.
Hodierna, o PAICV não precisa de nenhum líder palaciano, venha ele de que Palácio for. A nossa história recente, comprova que os líderes que vieram de Palácios nunca deram resultados. Recordamos a década de 90 quando alguém quis impor a Cabo Verde a aos cabo-verdianos um primeiro-ministro da sua exclusiva escolha dentro do partido no poder, resultou na tremenda derrota daquele partido nas eleições legislativas de 2001, e aquele líder autocrático, nunca mais se recompôs com a história política em Cabo Verde, provando que o povo das ilhas tem memória e é muito atento.
Outrossim, em 2011, no PAICV ou na família estrela negra, depois da grande vitória nas eleições legislativas, os cabo-verdianos quase que de forma unânime queriam o Dr. Aristides Lima como seu candidato favorito às eleições Presidenciais. Contudo, num certo Palácio, forjou-se uma candidatura, que todo o mundo veio a chumbar, elegendo destarte, um candidato apoiado pelo MPD, sem que ninguém estivesse à espera, depois da grande vitória do PAICV nas legislativas do mesmo ano. Mais uma vez, o povo das ilhas mostrou que rejeita os candidatos palacianos.
Quem não se lembra das disputas internas no PAICV em 2014? Quando todos estavam preparados para um combate político entre Felisberto Vieira – Filú e a Janira Hopffer Almada, eis que num certo Palácio se engendrou uma candidatura da Cristina Fontes. Estranho, estranhíssimo, átomo isolado naquele combate, apenas porque alguns acham que devem determinar quem deve liderar o PAICV, quando deve liderar e como deve liderar. A verdade é que a “emenda saiu pior do que o soneto”, como diz o adágio popular. Ou seja, esta candidatura forjada pelos pseudos donos do PAICV, mais uma vez brotada do Palácio e dos seus algozes, teve um resultado miserável.
Hoje, em 2025, passados 14 anos de 2011 e 11 anos de 2014, vejo com uma certa preocupação as eleições internas no PAICV. Penso, que o momento é de ouvirmos todos os candidatos com as suas propostas de governação do PAICV e de governação do país. O mesmo será dizer, quero que os candidatos à liderança do PAICV tenham agenda própria, determinação genuína, projetos ambiciosos, trabalho e autonomia no processo de liderança e de campanha para a liderança. O PAICV precisa de um líder que face a desatrosa governação por parte do MPD, seja a esperança esperante num futuro melhor para Cabo Verde e a população em geral. Precuisanos de um Presidente do Partido que não seja réplica de ninguém nem apenas o cumpridor de agendas ocultas. Não podemos ancorar na tese de que em Cabo Verde, há líderes fabricados em Palácios e que tiveram uma educação / preparação aristotélica para o exercício de liderança da Res Publica, e que os outros, nasceram apenas para lhes ajudar a cumprir a profecia. A modernidade é orientada ou deve ser orientada pelo espírito das luzes ou do iluminismo que guiou e determinou a revolução francesa com a célebre trilogia: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE.
A tentação é grande! Mas os militantes do PAICV, certamente, esclarecidos que são, saberão escolher entre o trigo e o joio. A batalha contra o MPD não está ganho como muitos querem fazer passar a ideia de que qualquer um ganhará o Ulisses Correia e Silva e o seu governo gordo. Ou ainda, que ao PAICV somente falta marcar a data de tomada de posse! Temos que lutar e muito para ganhar as legislativas de 2026, mas para isso, é necessário que os militantes do PAICV, inspirados pelo seu líder moral e histórico que é Amílcar Cabral, saibam colocar os destinos do PAICV no líder que vem de base, que vive com o povo, que sente as necessidades do povo, que combate para o bem do povo e que quer realmente servir o povo e que não tenha nenhuma agenda pré-fabricada em palácios, mas que a sua ambição é servir o PAICV e Cabo Verde.
Deixemos todos os candidatos serem realmente candidatos! Que mostrem o portefólio! A nossa geração tem que ter a agenda e a ambição da nossa geração. Valorizemos sim o passado e os líderes do passado. Mas, não devem ser os líderes do passado a escolher e a determinar por nós. Não esqueçamos que nas eleições internas, o voto de todos os militantes conta da mesma forma. Cada militante 1 voto! Assim como, cada militante tem o direito de escolher e ser escolhido. Não existem militantes predestinados a serem líderes e muito menos profetas de novos tempos a anunciar a vinda do novo líder. É tempo de exercitarmos a autonomia da nossa consciência!
Um PAICV com um líder federador, humilde, escolhido de forma livre, sufragada pela base do partido, uma campanha feita em pé de igualdade por todos os candidatos, será o garante de vitória nas legislativas de 2026.
Que cada candidato à liderança do PAICV faça o seu caminho.
Termino com o poeta José Régio:
“Vem por aqui”- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
(…)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos.”
