Morreu esta madrugada, na cidade da Praia, o combatente da liberdade da pátria Júlio de Carvalho, vítima de doença prolongada. Natural de São Vicente, tinha 81 anos. Foi comandante destacado do PAIGC na guerrilha na Guiné-Bissau, ministro da Administração Interna e da Defesa, na década de 1980, tendo depois da democratização passado para a vida civil.
Júlio César de Carvalho, também conhecido por Julinho, aderiu ao PAIGC e à luta pela independência da Guiné e Cabo Verde, em Portugal, na primeira metade dos anos 1960, numa altura em que era estudante universitário. Com Manecas dos Santos e Joaquim Pedro Silva (Baró) fogem juntos para Paris, para se juntarem ao PAIGC.
Em França, na região de Moselle, Carvalho participa com Mário Fonseca, Baró e Olívio Pires, na mobilização daquele que viria ser o primeiro contingente de guerrilheiros cabo-verdianos do PAIGC. A ideia era depois de capacitados em Cuba desembarcar o grupo em Cabo Verde para aqui abrir uma nova frente militar, projecto que acabou por não sair do papel.
Em vez de Cabo Verde, esses quadros formados em Cuba e na então União Soviética acabaram, na verdade, por desembarcar na Guiné, reforçando, sobretudo na artilharia, as forças militares do PAIGC, numa altura em que este movimento de libertação começava a reivindicar a libertação de uma parte desse território, as chamadas zonas libertadas.
Na Guiné, juntamente com Manecas Santos, Honório Chantre e Joaquim Pedro Silva, Júlio de Carvalho foi dos comandantes cabo-verdianos que mais tempo permaneceu no interior da Guiné, trabalhando com Nino Vieira, Umaru Djaló e outros históricos da luta armada nessa antiga colónia portuguesa, particularmente na chamada Frente Sul. A sua forma de lidar com as pessoas granjeou-lhe a estima da grande massa dos combatentes guineenses, que se referiam a ele como “Comandante Julinho”.
Depois da independência Guiné, cuja independência foi proclamada a 24 de Setembro de 1973 e reconhecida por Portugal um ano depois, já com o PAIGC em Bissau, Júlio de Carvalho foi designado comissário geral das Forças Armadas.
Com o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, que derruba o presidente Luís Cabral, passando o poder para as mãos de João Bernardo Nino Vieira, pondo fim ao projecto da unidade entre a Guiné e Cabo Verde, Júlio de Carvalho e a família regressam para o país natal. Aqui é nomeado, primeiro, ministro do Interior, e mais tarde ministro da Defesa e Segurança, cargo em que permanece até Janeiro de 1991.
Depois que deixa o governo naquele ano, fixa-se na ilha do Sal, onde passa a exercer actividade empresarial.
Até ao momento do fecho deste artigo não se sabia ainda a data, a hora e o local do funeral de Júlio César de Carvalho.