Por: Jorge Eurico*
O escritor e filósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527) caiu em desgraça depois de ter sido preso em Florença por alegado envolvimento numa conjura que tinha como escopo derrubar uma poderosa e influente família italiana: a Médici! Foi nesse período que começou a desdita do pensador e filósofo florentino. Maquiavel foi detido e selvaticamente torturado. Foi mantido durante um largo período em prisão domiciliar. A pão e água! Sequentemente foi arrastado para as catacumbas de uma prisão local. Foi a partir da sua “cripta prisional” que redigiu “O Príncipe”, um manual político atemporal e de leitura obrigatória para quem anda política e não só.
“O Príncipe” é nada mais nada menos que uma série de conselhos que Maquiavel dá ao soberano enquanto lambia as suas feridas nas masmorras do regime da época. Maquiavel recomenda ao Príncipe, no seu opúsculo, o equilíbrio do poder entre os sectores de sociedade. Sugere que adote medidas para que os cidadãos o obedeçam sem tergiversar. Adverte ao Príncipe para que adote a força do leão e a astúcia da raposa para que possa reinar e manter o poder sem sobressaltos. Maquiavel redigiu “O Príncipe” na vã esperança de ganhar empatia e perdão dos Médici. Não há, todavia, evidências de que a família reinante e toda poderosa florentina. Tudo isso aconteceu na transicional Florença do século XV para o XVI.
Maputo 14 de Fevereiro de 2019. O director do desk Nacional de da Inteligência Económica do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), António do Rosário, é preso pelas autoridades moçambicanas pelo seu envolvimento no caso “Dívidas Ocultas”, um esquema de corrupção no aparelho do Estado moçambicano que causou um rombo de 2 bilhões de dólares nas contas públicas aquele País lusófono. António do Rosário serviu como “Oficial de Inteligência” nas administrações Chissano, Guebuza e nos primeiros meses de Nyusi até à sua prisão.
No dia 30 de Outubro de 2023, o Palácio da Ponta Vermelha recebe uma carta do “Individuo A”. Era o codname de António do Rosário no SISE. A epístola foi escrita na prisão e tinha um destinatário especial: O Presidente da República. Na carta, o antigo director Nacional do desk de Inteligência Económica do SISE expõe as suas inquietações devido à instabilidade causada pela realização das sextas eleições autárquicas, realizadas no dia 11 de Outubro de 2023.
O antigo “homem forte” do SISE manifesta, na carta enviada a Filipe Nyusi, a sua vergonha por testemunhar no “Moçambique multipartidário” a contestação generalizada dos resultados das eleições autárquicas acompanhada de actos de violência protagonizada pela Polícia da República de Moçambique. António do Rosário externa a sua consternação por ver um presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) que se absteve na votação que validou os resultados das eleições que deram vitória à FRELIMO em todas as autarquias do País, excepto na Cidade da Beira.
O “Indivíduo A” questiona, na sua carta, porque razão é que pela primeira vez na história de “Moçambique multipartidário” as eleições autárquicas criam tanta tensão e violência. Pergunta o que é que está em jogo e o que é que se pretende com a referida tensão e violência. António do Rosário sugere a Filipe Nyusi que se siga as lições aprendidas com os presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza, a quem define como sendo sábios líderes, para que se evite a tensão e violência pós-eleitoral.
O antigo Oficial de Inteligência do SISE aviva a memória de de Filipe Nyusi rememorando que Chissano e Guebuza compreenderam, durante os seus mandatos, que não se deve lutar contra o povo. Aí está! Afinal não faltaram alertas ao Presidente de Moçambique e da FRELIMO no sentido de conduzir a “Pérola do Índico” para o caos. Ignorou com sucesso o alerta. Recusou-se a seguir os métodos dos seus predecessores. Foi porfioso. Agora aí estão os resultados da teimosia. Os teimosos, por norma, os resultados da sua pertinácia com os olhos. Estamos todos a ver! Que Deus salve e guarde Moçambique! Que faça prevalecer o bom-senso! E (se) livre de Filipe Nyusi e todos que com ele se parecem política e intelectualmente do Palácio da Ponta Vermelha.
*Jornalista