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Cultura

Arte Africana Contemporânea: Cabo Verde mostra ‘Atlantidades’ na Bienal de Dakar

O projecto colectivo de cinco artistas – Tchalê Figueira, Bento Oliveira, Melissa Rodrigues, César Schofield e Irineu Destourelles – pretende reflectir a condição atlântica dos cabo-verdianos, na maior Bienal de arte africana contemporânea de África, em Dakar, no Senegal. Mas o sucesso já começou para outros artistas das ilhas, que acabaram por vender todas as obras, na vertente não oficial e mais comercial da Bienal.

Cabo Verde e os Estados Unidos são os dois países convidados da 15ª Bienal de Arte Africana Contemporânea de Dacar, que decorre na capital senegalesa, de 7 de Novembro a 7 de Dezembro. A edição deste ano tem como lema ‘Despertar’ (“The Wake, l’Eveil, le Sillage”), nesta Bienal que já é um dos maiores encontros de arte africana a nível mundial e que movimenta a capital senegalesa durante todo este período. Presentes no pavilhão oficial de Cabo Verde estão as obras de Melissa Rodrigues, Bento Oliveira, Tchalé Figueira, Irineu Destourelles, César Schofield Cardoso.

Participa ainda com a música do grupo Sizal e os visitantes podem ainda ver obras de Alex Silva, Bela Duarte, Luísa Queirós e Manuel Figueira, artistas já desaparecidos.

A proposta apresentada por Cabo Verde, a partir da nota conceptual da Bienal, como explica Arturo Marçal, comissário do pavilhão de Cabo Verde, resulta num projecto denominado por Atlantidades, “que é uma reflexão sobre a nossa condição no Atlântico, já que o conceito da Bienal tem que ver com o Negro e o Oceano Atlântico. E a partir desta ideia, questionamos qual o nosso posicionamento no oceano Atlântico.” E a ideia, a palavra composta Atlantidades, conjuga o espaço onde Cabo Verde se encontra e a sua identidade.

“Ao contrário de outras regiões de África, a nossa colonização é diferente, as ilhas não eram habitadas, daí sermos fruto de uma mistura e essa mistura que depois criou o nosso distanciamento com o continente africano”, diz Marçal.

A realidade criada pelo colonialismo, a pequenez do território, a escassez de água, tudo concorre, como diz Marçal, “para essa matéria que é alvo da nossa reflexão.” E é a partir desta realidade, linha conceptual, que cada um dos artistas convidados definiu o seu trabalho. E se tratando de um projecto colectivo, de cindo artistas, obrigou a uma linha seguida por todos.

“Acabámos por ancorar este colectivo num outro que é a Cooperativa Resistência, que entendemos ser importante. Assim, levámos um conjunto de linguagens artísticas, cada artista tem a sua, naturalmente, Tchalé Figueira na pintura, a Melissa no vídeo-performance, o Irineu e o César Schofield também vídeo e Bento Oliveira com uma instalação. Cada um propõe uma reflexão sobre esta ideia de Atlantidades, com a Melissa em torno da mulher africana, o Tchalé sobre o processo da colonização africana explica Arturo Marçal.

Para o comissário cabo- -verdiano, a participação é positiva. “Está a dar-nos uma grande visibilidade, na medida em que para visitar o pavilhão do Senegal e o dos Estados Unidos, os visitantes têm de passar pelo pavilhão de Cabo Verde. O que confirmámos quando lá estivemos foi muitas pessoas admiradas com a qualidade dos trabalhos que apresentámos, tendo em conta de que a arte cabo-verdiana não é muito conhecida, não só no continente africano, mas a nível mundial.”

Sucesso na Bienal Off

À margem do programa oficial, a Bienal IN, decorre também a chamada a Bienal OFF, onde expõem artistas de outro nível. E foi neste âmbito que outros artistas cabo-verdianos – Tutu Sousa, Omar Camilo e o franco-cabo-verdiano Jacques Chopin (presentes), e Gildoca e Edson Garcia (obras) – também foram convidados a apresentar as suas obras, em algumas galerias de arte, no recinto da Bienal.

A abertura aconteceu no passado domingo, 10, e aqui só se pode falar em sucesso, sobretudo de vendas, para todos os artistas das ilhas – o que não acontece no circuito da Bienal IN. Para além de muitos visitantes, o momento contou ainda com a actuação do cantor de origem senegalo-cabo-verdiano Filipe Monteiro.

Visivelmente satisfeito, Tutu Sousa destaca o convite feito pela curadora Therese Diata. “É claro que podemos ir mais longe. É o que falamos sempre, artistas cabo-verdianos raramente participam na Bienal por falta de apoio do Estado e de empresas privadas.”

Por seu turno, Omar Camilo, que vendeu todos os quadros no evento, mostrava- -se maravilhado, à semelhança dos restantes artistas, afirmando que “ir à Bienal teve o efeito de uma baleia subir à superfície para respirar.”

Jacques Chopin, que também vendeu quatro obras, destacou a qualidade da organização da Bienal e a forma como toda a cidade, desde o aeroporto, se engalanou para receber os convidados.

Salvador Dali traz Casanova à Praia

Depois do catalão Joan Miró, no ano passado, é a vez dos praienses poderem admirar, a partir desta quinta-feira, algumas obras do pintor surrealista espanhol, Salvador Dali. A exposição decorre na Delegação das Canárias e são 14 gravuras coloridas, originais, de uma série que Dali designou por Ilustra Casanova.

Trata-se de uma personagem histórica, do século XVIII, multifacetada: humanista, músico, botânico, bibliotecário, diplomata, que ficou mais conhecido na literatura pelas suas aventuras amorosas.

Jorge Colegan, responsável pela Delegação das Canárias, em Cabo Verde, chama a atenção para o aspecto erótico destas obras que vão ser exibidas ao público, “um bocadinho picante”, que reflectem as aventuras de Casanova. “Tudo isto é a expressão típica de Salvador Dali, com um olhar satírico, ao mesmo tempo conceptual, que é o surrealismo, que deforma a realidade.”

Já que os cabo-verdianos têm dificuldade em viajar para ver obras de grandes artistas, o protocolo de cooperação assinado entre o Governo das Canárias e a FUNIBER (Fundação Universitária Ibero-Americana) permite trazer as obras até aos cabo-verdianos, explica Jorge Colegan. “Faz parte desse protocolo fazer a divulgação, em Cabo Verde, da cultura espanhola.”

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Doménech (1904-1989), mais conhecido por Salvador Dalí, foi um pintor surrealista, nascido na Catalunha, Espanha, e um dos mais importantes representantes desta corrente artística do século XX. A exposição estará patente na Delegação das Canárias, no Platô (ao lado da Casa Cor de Rosa, sede do IILP) até ao final do mês de Dezembro.

Joaquim Arena

Publicado na edição 898 do Jornal A Nação, de 14 de Novembro de 2024

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