O aniversário dos 158 anos da fundação do município de Cabo Verde, em Minas Gerais, foi o pretexto para uma visita inédita de um representante do Estado cabo-verdiano, o embaixador José Pedro Chantre de Oliveira, “Djopan”, a essa localidade do Brasil.
O diplomata presenciou o tradicional desfile cívico do aniversário do município, cujo tema foi “Raízes Negras” neste ano.
“Agora, vamos misturar esses dois ‘Cabos Verdes’ com muita paz, muito amor, muito carinho e temos muita coisa pela frente que teremos que fazer em comum”, afirmou o embaixador. “Esta data de grande aniversário, 158º aniversário, é uma oportunidade para estreitarmos esses laços e sabermos de onde estamos vindo e construindo um futuro comum”.
Acompanhado pelo presidente da Associação de Imigrantes Cabo-verdianos no Brasil, Armindo Cohen, o embaixador chegou ao Cabo Verde mineiro na terça-feira (30) e aí permaneceu por dois dias. Entre outras actividades, os visitantes cabo-verdianos participaram num encontro na Câmara Municipal com vereadores, secretários, além de lideranças políticas e sociais.
Num encontro com pesquisadores “cabo-verdenses” buscou-se discutir possíveis origens históricas e oportunidades económicas entre o país africano e o município brasileiro de Minas Gerais.
O historiador cabo-verdense Luís Eduardo Oliveira teve a oportunidade de trocar suas pesquisas recentes sobre a população negra do município com os conhecimentos do africano. Para o pesquisador, a visita do embaixador José Pedro Chantre de Oliveira representou um avanço na busca pela conexão entre o nome dos dois lugares.
“Para a gente, o encontro foi importante para fixarmos em nossas cabeças a ideia de identidade, partindo para uma questão de que estamos perto de poder afirmar a origem do nome de Cabo Verde”, comemorou.
A antropóloga cabo-verdense Lídia Torres também esteve presente na reunião e acredita que a relação entre um Cabo Verde e outro não é uma mera coincidência, havendo pesquisas antropológicas e historiográficas sobre o assunto em andamento. No entanto, destaca que a demora para a existência de estudos mais aprofundados significa um apagamento histórico, algo que não devia acontecer.
“A gente sentiu que foi um passo importante, porque pela primeira vez a perspectiva histórica plural, que não narra só a chegada europeia, mas traz a presença indígena e africana como formativa do município, foi colocada nas narrativas”, disse Lídia Torres.
Conforme a assessoria da prefeitura, a ideia da visita do diplomata cabo-verdiano ao município mineiro de Cabo Verde surgiu durante um almoço, em Brasília, em Junho passado, ao convite do o diplomata cabo-verdiano, altura em que o prefeito Cláudio Antônio Palma decidiu convidar o José Pedro Chantre de Oliveira para as festas dos 158 anos da autarquia.
Entre várias hipóteses para a existência de um município chamado Cabo Verde, no sul de Minas Gerais (uma região produtora de café), consta a possibilidade de os escravos utilizados no seu povoamento tenham vindo das ilhas de Cabo Verde, hoje República de Cabo Verde.
No entanto, apesar da coincidência dos nomes, nunca houve de parte a parte qualquer esforço de aproximação. Apenas agora, com José Pedro Chantre de Oliveira, em Brasília, parece desenhar-se algo neste sentido. Isto numa altura em que Cabo Verde, no próximo ano, irá celebrar os seus 50 anos de independência.