A aproximação de Angola aos Estados Unidos terá o seu ponto alto na visita que Joe Biden fará a este país africano, de 13 a 15 de Outubro, cujo objectivo maior é reforçar as parcerias económicas e lançar o projecto da criação da primeira rede ferroviária transcontinental de acesso livre em África. Este projecto, conhecido como o Corredor de Lobito, parte da cidade angolana do Lobito para ligar o Oceano Atlântico ao Oceano Índico, atravessando a República Democrática do Congo e a Zâmbia.
Designado por Parceria para as Infra-estruturas e o Investimento Global, o projecto, a ser formalizado durante a presença de Biden em Luanda, engloba Angola e o GT, grupo das sete maiores economias do Ocidente. A nota de Washington, sobre a visita, fala em discutir “uma maior colaboração nas prioridades partilhadas, incluindo o reforço das parcerias económicas, que mantêm as nossas empresas competitivas e protegem os trabalhadores.”
Será o seguimento dos acordos de financiamento assinados por Angola e os Estados Unidos, em Maio de 2023, em Dallas, para o desenvolvimento do Corredor de Lobito, no valor de 1,3 mil milhões de dólares. Para além do aspecto económico, de acordo com a Casa Branca, os dois presidentes deverão abordar o reforço da democracia e do envolvimento cívico, para além de aspectos relacionados com a segurança climática e de transição de energias renováveis, da paz e da segurança. matéria de segurança climática e de transição para as energias limpas e, ainda, o reforço da paz e da segurança.
Do lado de Washington, a visita do Presidente Biden a Luanda é vista como uma celebração da relação entre os dois países, para além de “sublinhar o compromisso contínuo dos Estados Unidos para com os parceiros africanos e demonstra como a colaboração para resolver desafios partilhados é benéfica para o povo dos estados Unidos e de todo o continente africano.
Luanda muda posicionamento
A visita de Biden, já no final do seu mandato – por sinal a primeira de Biden a África, como presidente, e a primeira de um presidente dos Estados Unidos a Angola – é vista como mais do que o simples cumprimento de uma promessa. Observadores internacionais estão de acordo em como é um passo importante na luta de influência entre os gigantes chinês, russo e americano, neste continente. Uma celebração e agradecimento pelo reposicionamento geopolítico de Angola em relação a Washington.
Outro indicador da evolução no alinhamento com os Estados Unidos tem sido um aumento da compra de material militar, por Angola, quando o país foi sempre um aliado da Rússia e seu comprador. Há também a destituição e a reforma de generais formados na Rússia e no Leste da Europa, por João Lourenço, e sua substituição por uma nova geração de líderes militares alinhada com o Ocidente.
E já internamente, não há também dúvidas de que a presença de Biden em terra angolana é vista como um grande triunfo para o presidente João Lourenço, que vê reforçado o seu prestígio a nível internacional. Por outro lado, apesar de observadores e parte da classe política nacional esperarem que Biden possa integrar no seu discurso assuntos como direitos humanos, a governação, a pobreza e a corrupção, tal deverá ser pouco provável. Embora possa haver tentativas da parte de alguma imprensa. O que poderá ser bom para João Lourenço, a braços com uma crescente contestação, e servindo a visita de Biden como ‘distração’, de acordo com analistas, para aos assuntos de política interna.
A presença de Joe Biden em Angola indica, por outro lado, a movimentação das peças no xadrez político da região, com as disputas entre a China, a Rússia e os Estados Unidos. Os sinais desta viragem de Luanda para Washington surgiram quando o presidente angolano João Lourenço decidiu mandar, como seu representante à última cimeira China-África, realizada entre 4 e 7 de Setembro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Numa clara e explícita posição política, da diplomacia angolana, mas que em nada agradou às autoridades chinesas – sobretudo por vir da parte do presidente do Estado seu maior devedor, no continente.
A culminar estas mexidas geoestratégicas e diplomáticas, entre os dois países, está a 17ª Cimeira de Negócios Estados Unidos- -África prevista para Luanda, em 2025.
Após o 11 de Novembro de 1975, os Estados Unidos reconheceram a independência de Angola, mas não o governo do país declarado pelo MPLA. A recusa do reconhecimento manteve-se enquanto se mantiveram tropas de combate cubanas em Angola e o seu envolvimento em conflitos regionais – contra as tropas sul-africanas. Após as primeiras eleições livres de 1992 e o acordo assinado com a UNITA, o presidente Bill Clinton reconheceu formalmente o novo governo de Angola, em 1993. Desde então os dois países vêm procurando estreitar as suas relações, tendo em conta que a presença americana no sector petrolífero angolano, nomeadamente em Cabinda, data desde os anos 1950.
Joaquim Arena
Publicada na edição 892 do Jornal A Nação, de 03 de Outubro de 2024