Por: Olímpio Tavares*
Cabo Verde é considerado um país de desenvolvimento médio há já algum tempo. No entanto, tem um grande desafio que é passar a ser a médio prazo um país desenvolvido.
De entre esses desafios, podemos elencar: uma educação de qualidade; uma economia produtiva; políticos competentes e resilientes; e uma matriz cultural que promove uma mentalidade proativa. Todos esses desafios são muito difíceis de serem concretizados a médio prazo, tendo em conta a situação que o país vive desde a independência.
Educação de qualidade
Relativamente à educação de qualidade, estamos muito longe daquilo que se pratica nos países desenvolvidos. Aliás, a nossa situação nesse setor é deveras preocupante. Senão vejamos alguns factos que qualquer cidadão atento pode constatar: política educativa incoerente, ou seja, prevê-se algo nas legislações que regulam o sistema educativo, que de resto está bem concebido, salvo algumas exceções, mas a prática é completamente enviesada; uma estratégia de formação de professores que não consegue dar vasão às reais necessidades dos alunos; uma gestão escolar fundamentada em compadrios políticos, que leva muitas vezes à chefia pessoas, na sua maioria, mal preparadas do ponto de vista científico e pedagógico, e em termos de relações humanas deixam muito a desejar; programas, na sua maior parte, mal concebidos, violando de forma clara as regras básicas para a sua conceção, que as ciências da educação já estabeleceram há já algum tempo.
Economia produtiva
Outro desafio que o país tem de vencer é passar a ter uma economia produtiva. Porque neste momento temos uma economia de consumo e baseado em serviços, em especial o turismo, cujo maior parte das receitas vai para estrangeiro. O setor primário e secundário está pouco desenvolvido.
O setor primário, a agricultura, pesca e criação de animais, apenas contribui para a subsistência das famílias, sendo raros os casos com propensão industrial e lucrativa. A modernização deste setor é uma promessa que atravessa os sucessivos governos, desde 1975. O mais grave é que não se vislumbra nada de bom nesse setor, a não ser promessas vazias sem condições reais de concretização. O setor secundário é praticamente inexistente. Das que existem, as mais lucrativas pertencem aos estrangeiros, para não variar.
Políticos resilientes
Por isso precisamos urgentemente de políticos competentes e resilientes para criar condições para termos uma educação de qualidade, uma economia produtiva, criar condições para se fazer um estudo aprofundado sobre a nossa matriz cultural, envolvendo as universidades, de forma a descobrir e tomar consciência de aspetos da nossa cultura que são vantajosas e aspetos que são comprometedores para se ter uma mentalidade proativa.
Políticos competentes e resilientes escasseiam em Cabo Verde. Temos alguns casos, mas poucos. A maior parte limita-se a fazer gestão corrente da situação, sem ter uma perspetiva de médio/longo prazo que contribui realmente para as pessoas saírem da situação da pobreza em que se encontram.
Na verdade, Cabo Verde precisa de líderes políticos competentes e resilientes, comprometidos com o desenvolvimento do país, e não apenas interessados em ganhar as eleições para se perpetuarem no poder. O país precisa de políticos capazes de tomar decisões que impactam positivamente na vida das pessoas. Políticos capazes de ouvir os anseios da população. Políticos que sejam capazes de fazer a autocrítica das suas próprias decisões. Políticos capazes de lidar com a crítica alheia de forma natural. Enfim, políticos que se guiam por alto padrão ético, que é no fundo colocar o bem comum sempre em primeiro lugar.
Mentalidade proativa
Por fim, há que trabalhar a mentalidade dos cabo-verdianos, com base no estudo da nossa identidade cultural. Até agora o que se tem feito é importar modelos culturais de outros países, que muitas vezes contraria a nossa própria matriz cultural. Há, a meu ver, uma necessidade urgente de se fazer um estudo aprofundado da nossa matriz cultural, de forma a salientar os aspetos positivos, que podem ser ensinados nas escolas, na formação de pais, nas associações comunitárias, entre muitas outras formas de influenciar positivamente a mentalidade das pessoas, de modo a tornar cada cabo-verdiano um cidadão autónomo, crítico e resiliente. Com esse estudo, acredito que vai contribuir para inverter a situação que existe neste momento, que é sobretudo uma mentalidade passiva, consumista, que pode ser observado em muitos cabo-verdianos, e que contribui grandemente para a nossa pobreza existencial.
Em conclusão diria que para Cabo Verde ser um país desenvolvido temos de ter políticos competentes e resilientes para colocar o país a funcionar de forma eficaz e eficiente, coisa que não tem acontecido nos últimos 49 anos. O desafio é grande e o futuro não se afigura nada risonho se não mudarmos de rumo o mais urgente possível, e colocar Cabo Verde na rota do desenvolvimento sustentável.
*Mestre em Supervisão Pedagógica