Que destino a dar à outrora emblemática Praça Estrela, hoje mercado do Sucupira, do Mindelo, volta e meia é motivo de discussão entre os mindelenses. O arquitecto César Freitas defende a construção, aí, de um Centro Cultural, moderno e com várias valências. Embora custoso, conforme admitiu ao A NAÇÃO, esse complexo é contudo possível e serviria para uma dar nova vida a essa parte histórica do Mindelo.
A Praça Estrela é um marco na vida de São Vicente, por diversas razões. Serviu de palco a vários acontecimentos que marcaram para sempre a história e a vida da ilha do Porto Grande. Em 1975, ganhou o nome de Praça da Independência. Mas, para as gentes do Mindelo, ela continua a chamar-se Praça Estrela, como vários outros toponímicos onde o povo impõe soberanamente a sua vontade, ignorando os humores e as modas dos políticos. É assim que a Rua de Lisboa continua a chamar-se Rua de Lisboa, apesar dos vários nomes que, ao longo dos tempos, os regimes políticos lhe foram dando, sem sucesso, diga-se.
Nos últimos anos, a antiga zona de Salinas, Praça Estrela, foi transformada num mercado a céu aberto de roupa, artesanato, frescos e verduras, além de vários outros produtos, sendo por isso considerada o Sucupira do Mindelo (ver xxx).
E, como a cidade que se renova todos os dias, o arquitecto César Freitas diz ter um projecto para a construção no local de um moderno complexo cultural, com múltiplas valências, mas sem todavia perder de mira “o equilíbrio entre a preservação do património e o desenvolvimento da cidade do Mindelo”.
E, numa altura em que a ilha do Monte Cara vai sendo um “cemitério de obras inacabadas”, ou de projectos que não saem do papel, ou da maquete, César Freitas diz acreditar que a sua proposta, se implementada com cuidado e sensibilidade, seria “uma excelente oportunidade para a regeneração urbana, social, económica e cultural” do Mindelo. Algo, enfim, que poderia “honrar a história da Praça Estrela”, através de um espaço “vibrante e multifuncional” ao serviço de São Vicente e de Cabo Verde.
Pois, como advoga, “acima de tudo, o novo Centro Cultural do Mindelo haverá de revitalizar a Praça Estrela, hoje decadente e descaracterizada, transformando-a num empreendimento vistoso, com forte impacto na economia local e nas indústrias criativas. O projecto inclui a construção de um anfiteatro, salas de aula, biblioteca, espaços para exposições e eventos, além de áreas verdes e de lazer”.
E quanto aos custos, estes, diz também o entrevistado do A NAÇÃO, situam-se em “cerca de 1,5 milhões de contos”. Nada que intimide o nosso interlocutor, pois, como assegura, “o retorno para a cidade e a ilha será imenso”.
Como tudo que se mostra ousado e ambicioso, a implementação do Centro Cultural na Praça Estrela não está isenta de desafios, a começar pela mobilização dos recursos financeiros e a obtenção de todas as licenças necessárias, tendo em conta a complexidade do projecto, numa zona a água das chuvas desagua.
“Mesmo assim, acredito que os benefícios do projecto superam largamente os desafios. Os custos elevados, sem dúvida, se devem principalmente à complexa infraestrutura e à necessidade de preservar o património histórico da área”, contrapõe quando questionado.
Impacto no desenvolvimento
Segundo César Freitas, uma vez concluído, o Centro Cultural poderá, por exemplo, atrair turistas, criar empregos, estimular a economia local e fortalecer a identidade cultural da ilha. “O investimento em projectos como este é fundamental para o futuro próspero de São Vicente”, afirma o nosso interlocutor. “Se o projecto vier a contar com o apoio da comunidade, do governo e do sector privado, o mesmo poderá criar um espaço único para Mindelo, São Vicente, e Cabo Verde”, conclui.
João A. do Rosário
Veja na íntegra na edição nº 881 do Jornal A Nação, do dia 11 de Julho de 2024