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Economia

São Vicente: Emigrante e antigo guarda-redes Djassa quer apostar na formação de mecânicos

Da baliza da Selecção Nacional de Futebol a emigrante nos Estados Unidos da América, o agora aposentado Jacinto Gomes, ou simplesmente Djassa do Castilho, quer realizar o sonho de criar uma escola de formação na área de mecânica. De volta a São Vicente, a sua ilha natal, tem quase tudo pronto. Apenas precisa de uma “parceria” para tocar para frente o seu projecto, que diz ser sem fins lucrativos.

Aos 65 anos, e de regresso à terra natal,  depois de vários anos a viver nos EUA, Djassa disse ao A NAÇÃO que sempre sonhou instalar em São Vicente uma escola de formação em mecânica, sua área profissional, enquanto aluno da antiga Escola Técnica do Mindelo, Centro de Formação Náutica e profissional da Electra, antes de tentar a sorte na América. Neste país trabalhou na reparação automóvel das mais diversas marcas, depois de capacitado para o efeito, em termos de diagnóstico, reparação e peças.

Ao constatar a necessidade de se apostar na modernização da reparação mecânica em Cabo Verde, Djassa decidiu apostar na instalação do seu “projecto escola”,  em bases que considera sólidas para, assim, iniciar a parte formativa dos seus alunos. E, para isso, anda à procura de eventuais parcerias junto de instituições públicas e privadas, de modo a poder receber os seus primeiros formandos.

“A minha intenção é arrancar o mais breve possível e se tudo caminhar bem penso ter tudo pronto ainda este ano”, revelou ao A NAÇÃO. Como faz questão de sublinhar, não tenciona ganhar dinheiro com o projecto, sendo esta, acima de tudo, a forma que encontrou para retribuir o que a vida lhe deu, ajudando a formar novos mecânicos, um sector sempre em falta numa ilha como São Vicente, com grandes carências formativas.

“Embora a minha intenção não seja ser uma instituição com fins lucrativos, preciso, mesmo assim, de alguma parceria para poder arcar com alguns custos de funcionamento, como água e energia eléctrica, por exemplo”.

A formação

Com a escola, Djassa diz pretender lidar com jovens do nono ao 12º ano de escolaridade, e também com os profissionais que necessitam de adquirir ou aperfeiçoar conhecimentos na área do diagnóstico e reparação da mecânica auto, tendo em conta que este é um sector sempre em modernização. O objetivo, como realça, é fazer com que os formandos saibam proceder à manutenção, diagnosticar anomalias e efetuar reparações nos diversos sistemas mecânicos, eléctricos e electrónicos de automóveis ligeiros.

Isso tudo de acordo com os parâmetros e as especificações técnicas definidas pelos fabricantes e com as regras de segurança e de proteção ambiental aplicáveis e aos profissionais que tenham contacto ou trabalhem em veículos eléctricos e híbridos.

 

Relembrando tempos de futebolista

Hoje, aos 65 anos, é com alguma nostalgia e boa disposição que Djassa do Castilho lembra os seus tempos de desportista, mais concretamente de guarda redes, que chegou inclusive a alinhar pela Selecção Nacional, numa altura em que os Tubarões Azuis não tinham nem a pujança, nem o prestigio que hoje apresentam. 

Entre o futebol do seu tempo e o de agora, Djassa é peremptório em reconehcer que a diferença é, obviamente, grande. “Hoje os atletas são semi-profissionais, não têm ou não jogam com o mesmo amor à camisola com que se jogavam em outros tempos”.

Desportivo da Praia 

Apesar de ser mais conhecido como Djassa do Castilho, das mais antigas equipas de futebol de São Vicente, o primeiro time pelo qual alinhou oficialmente foi o Desportivo da Praia, quando esteve na tropa, na cidade da Praia, tendo integrado também no “onze” que na altura chegou a jogar na Guiné-Bissau. Concluída a tropa e no regresso a São Vicente, jogou pelo Castilho e Ribeira Bote, tendo sido chamado à Selecção Nacional, em 1982.

“Comecei cedo e tive de abandonar cedo também, apesar das boas qualidades que muitos diziam que eu tinha”, recorda o nosso entrevistado um quanto nostálgico. 

Outros Vozinhas 

Tendo como ídolo o seu irmão mais velho “Tio Balde”, hoje, Djassa aponta o guarda-redes dos Tubarões Azuis, Vozinha, como um caso extraordinário, mas acredita haver mais atletas indicados para aquele posto. “Sempre tivemos tradição de grandes guarda-redes e acredito que temos outros grandes valores para sucederem o Vozinha quando chegar a hora dele ser rendido”. 

Uma das grandes virtudes de Djassa era sair com a bola jogável nos pés e colocava-a direitinha, conforme disse, no jogador em qualquer parte do campo. Como recorda também, já antes dele o irmão mais velho jogava na baliza do mesmo jeito. “Foi vendo o meu irmão a fazer isso que aprendi”, admite. 

Muita malagueta na comida 

Das peripécias passadas na Selecção Nacional, este antigo guarda-redes recorda a ocasião em que, num torneio da Zona II, Taça Amílcar Cabral, lhes foi servido comida com muita malagueta e da recomendação do médico da equipa, Dr. Santa Rita Vieira, para ninguém comer aquela comida sob pena de acontecer o pior dentro do campo, devido ao calor intenso que se fazia sentir. “Nesse dia tivemos de sair e comer pão e leite fora do hotel onde estávamos”.

Na altura em que foi chamado para integrar a Selecção Nacional para a Taça Amílcar Cabral realizada no Mali tinha acabado de ocorrer o golpe de Estado na Guiné-Bissau, em Novembro de 1980, golpe esse que acabou por pôr fim ao projecto da unidade entre Cabo Verde e esse país.

Desporto e política 

Djassa conta que nesse torneio, um dia, chegou ao local da concentração da equipa um governante a dizer-lhes que, por razões políticas, podiam vencer todas as equipas menos a da Guiné-Bissau. Rindo, Djassa revelou: “Mesmo assim ganhámos por 3-0”. 

Na altura, como recorda, havia “muita política” no meio desportivo africano. “Ainda hoje nem sempre vence a melhor equipa”, sem esquecer, no caso dos cabo-verdianos, esta recomendação: “É muito importante a nossa selecção integrar sempre um chefe de cozinha, porque pode haver actos de sabotagem, como aquela vez em que nos deram comida com muita malagueta”.

João A. do Rosário

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