Por: Kenny Chantre
O projeto que apresentei em Hamburgo teve uma boa receção, já que a missão da ICANN é ajudar a garantir uma internet global estável, segura e unificada. A ICANN pretende expandir a presença global de seus servidores raiz, adicionando dois clusters gerenciados e ativos pela ICANN em África aos clusters existentes na América do Norte, Asia e Europa.
Em meados de agosto 2023, recebi um email confirmando a minha seleção para uma bolsa da ICANN NextGen 78. Uma surpresa agradável, não consegui esconder o entusiasmo pela oportunidade de poder participar num grande evento internacional, a realizar-se em Hamburgo, Alemanha, de 21 a 26 de Outubro, no âmbito das celebrações do vigésimo quinto aniversario da ICANN.
Capacitar jovens líderes da área de tecnologia e internet
E para quem não sabe a ICANN – Internet Corporation For Assigned Names and Numbers – é uma organização, sem fins lucrativos, responsável pela coordenação e supervisão dos aspetos técnicos e operacionais do sistema de nomes de domínios da internet, endereços IP e protocolos relacionais. Já o programa da NextGen é uma iniciativa que visa envolver e capacitar jovens líderes e profissionais da área de tecnologia e internet.
Os trabalhos e o meu envolvimento com esta organização começaram bem antes da deslocação à Alemanha. Dias depois da seleção, convidaram-me para as reuniões online, via Zoom, uma espécie de preparação da missão que nos aguardava em Hamburgo, pois exigia-se de cada jovem selecionado a definição de um tema ligado às questões das novas tecnologias de informação e comunicação para ser apresentado no programa da NextGen.
O programa oferece oportunidade de participação em reuniões e conferências da ICANN, onde os selecionados têm a chance de conhecer o trabalho da organização, interagir com especialistas e contribuir para as discussões e decisões relacionadas com a governança da internet. O objetivo é promover a diversidade e a inclusão na comunidade da ICANN, permitindo que vozes e perspetivas da juventude, sejam ouvidas e consideradas.
Diplomacia tecnológica
Não sendo estudante da ciência de computação ou de áreas cientificas, mas de Relações Internacionais e Diplomacia, certamente questionarão sobre a pertinência da minha participação num fórum que, a priori, parece ajustar-se mais aos afetos das ciências. Mas não! Participar no programa NextGen, essa experiencia enriquecedora, diga-se de passagem, ampliou a minha compreensão sobre a importância da diplomacia tecnológica e como ela pode moldar o futuro das Relações Internacionais.
Com base nessa experiencia, meu objetivo, doravante, é dedicar-me à diplomacia tecnológica no futuro, pois reconheço a necessidade de se estabelecer politicas e acordos internacionais que promovam a cooperação e a segurança no ambiente digital.
Ao desenvolver o meu tópico, graças aos vários cursos gratuitos que me permitiram fazer na página da ICANN, tive que me basear igualmente na “Estratégia para a Governação Digital de Cabo Verde” e na “ICANN Africa Regional Plan for Fiscal Years 2021-2025”, donde surgiu o tema: “Cabo Verde as a Regional Digital Hub” – Cabo Verde como um Hub Digital na Sub-região Oeste Africana.
Devo confessar que me encantaram os discursos do Secretário de Estado para a Economia Digital sobre a transformação de Cabo Verde num hub das TICs do continente africano, com argumentos da sua importância para a diversificação da economia destas Ilhas Atlânticas ainda muito dependentes das ajudas externas e onde o desemprego jovem, segundo os dados do INE, ronda os 12%.
Traçar como meta fazer da economia digital um dos pilares da economia nacional, com uma participação de cerca de 25% do PIB até 2030, é deveras fascinante e inspirador. Sim, foi com esse fascínio e inspiração que saí do encontro com o Secretário de Estado da Economia Digital, Sr. Pedro Lopes, que amavelmente partilhou comigo informações pertinentes para o meu projeto. O mesmo se pode dizer dos encontros com os dirigentes da NOSI e da ARME.
“Cabo Verde as a Digital Regional Hub”
O meu tópico, “Cabo Verde as a Digital Regional Hub”, desvenda o trabalho que este arquipélago tem feito para se transformar num Regional Digital Hub, os investimentos feitos em infraestruturas, como por exemplo, o cabo de fibra óptica Ellalink, o Parque Tecnológico, investimentos em Recursos Humanos, através das ofertas formativas existentes nas Universidades, como por exemplo em Engenharia Informática, Multimédia e Telecomunicações e o Projeto WebLab, enquanto iniciativa do Governo visando transformar contentores em laboratórios informáticos em todas as Escolas Secundárias do país.
Demostro também a taxa de penetração da internet em Cabo Verde, onde segundo dados da Statista.com 2023, o país aparece numa posição privilegiada em África, fazendo parte do Top 10. Cabo Verde reúne, pois, todas as condições para receber uma cópia da DNS Root-Server, ainda inexistente no país, de acordo com a página Root-Servers.org. Uma cópia da DNS Root-Server é uma réplica exata de um servidor da DNS, que é responsável por fornecer informação sobre os domínios de nível superior na hierarquia do DNS.
As cópias são usadas para aumentar a resiliência e a disponibilidade do sistema de DNS, permitindo que os usuários acessem os domínios, mesmo se um servidor raiz estiver indisponível, reduzindo o tempo necessário para que um site seja carregado, principalmente, quando há picos de uso da Internet.
O mais importante é que com uma cópia da DNS Root-Server, pode-se reduzir o impacto de um potencial ataque cibernético. Os ataques cibernéticos de negação de servidor distribuído (DDoS) funcionam por servidores gigantescos com uma grande quantidade de consultas. Com uma cópia da DNS Root-Server no país, diminui-se a dependência de servidores DNS de outros países. Isso pode ser útil em situações em que a conectividade internacional é interrompida ou quando há ataques direcionados a servidores DNS externos.
O projeto que apresentei em Hamburgo teve uma boa receção, já que a missão da ICANN é ajudar a garantir uma internet global estável, segura e unificada. A ICANN pretende expandir a presença global de seus servidores raiz, adicionando dois clusters gerenciados e ativos pela ICANN em África aos clusters existentes na América do Norte, Asia e Europa.
Com o rápido desenvolvimento da Internet, torna-se necessário apostar-se em infraestruturas, e a ICANN dá uma contribuição essencial nesse domínio.
Em Hamburgo, tive a oportunidade de assistir a diversas conferências com experts a discorrer sobre as complexidades do ecossistema da internet e sobre a problemática e desenvolvimentos geopolíticos, legislativos e regulatórias.
Hamburgo: a cidade mais inteligente da Alemanha
Eu percebi que a escolha de Hamburgo não foi por acaso. Antes da viagem pude efetuar várias pesquisas sobre a cidade e constatei que é a cidade inteligente número 1 da Alemanha, tendo sido premiada 4 vezes nos últimos 5 anos. Encantou-me a quantidade de carros, motociclos, trotinetes e transporte público, todos elétricos, circulando pela cidade e a existência de WiFi a cada esquina, numa demonstração de que a internet hoje é efetivamente um bem essencial para todos.
Outro aspeto que me chamou atenção foram as formas de pagamentos digitais. No último dia, combinei com um amigo para irmos junto ao aeroporto já que o nosso voo era no mesmo horário. Com um aplicativo no telemóvel conseguiu chamar um táxi para vir nos apanhar no hotel, foram apenas 5 minutos de espera. Ao chegarmos no aeroporto, projetou um QR code no seu telemóvel e fez o pagamento do táxi, simples e prático.
Mas, ao mesmo tempo, ocorreu-me a preocupação com a segurança dos dados bancários, principalmente se se esta a efetuar um pagamento utilizando WiFi de um espaço público. A transformação digital de um país deve caminhar junto com a segurança cibernética. São dois lados da mesma moeda.
Desde a minha chegada a Cabo Verde tenho estado a entrar em contacto com os diversos atores que podem estar envolvidos para que o meu projeto se torne uma realidade. Foi uma experiência incrível levado com muita seriedade e responsabilidade. Espero poder participar mais vezes, mas será como bolsista da Fellowship já que através da NextGen só se pode participar uma vez.
It’s time.!