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Cultura

Após 10 anos sem expor Amândio Oliveira “repensa” a sua arte

Amândio Oliveira, 59 anos, é um pintor que, depois de vários anos sem expor, conta retomar em breve a sua actividade, suspensa desde 2014. Em confissões ao A NAÇÃO diz-se “desapontado” consigo próprio, por não produzir na quantidade de que “tanto gostaria”.  

Natural de São Vicente, gestor de profissão, artista plástico por paixão, Amândio Oliveira abriu ao A NAÇÃO as portas da sua casa, no Mindelo, onde tem recriado o seu atelier, o seu espaço de trabalho, quando resolve criar e pintar. Um local acolhedor que coaduna com a sua forma reservada de ser e de estar na vida, num momento em que, como refere, se encontra em fase de “reorientar tudo”. 

E é com esta intenção, de retomar o caminho suspenso, que o entrevistado do A NAÇÃO, que viveu na Praia, ilha de Santiago, um período da sua vida, quer voltar a experimentar o desafio de se mostrar ao público, neste caso, através de uma nova amostra criativa. Exposição, essa, ainda sem data fixa, mas que, pelo desafio que isso haverá de representar, “requer cuidado e planeamento”. 

Amândio revela que a pintura surgiu na sua vida de forma natural, “como uma resposta aos apelos interiores que sentia desde muito jovem”, fase em que sempre se sentiu “fascinado pelas cores, pelas formas e pelas expressões artísticas”.

A sua primeira exposição aconteceu em 1998, na cidade da Praia, durante uma colectiva. Depois dessa experiência bem-sucedida, seguiram-se outras exposições, nomeadamente, em São Vicente e Sal, tendo um quadro seu sido exposto nas Canárias. Como diz, por sua própria culpa, deixou passar várias oportunidades para expor no exterior. 

“Pontualmente, fiz umas amostras e por não ter sido constante, por vezes, tenho dificuldades em considerar-me um artista”. Mesmo assim, confessa, “o meu percurso é algo que me enche de emoção e entusiasmo, embora haja momentos em que me sinto Desapontado comigo mesmo, por não produzir na quantidade de que tanto gostaria”.  

Questionado sobre a paragem na sua vida artística, quando já era um nome conhecido, Amândio Oliveira responde que por trás disso houve um “combinar de factores diversos”, particularmente, entre a profissão e a pintura, uma gestão que, no seu caso, acabou por se revelar problemática. 

Como diz, “viver de pintura em Cabo Verde”, como em muitos lugares, “chega a ser desafiador”, porém, no nosso caso, pela dimensão do mercado, “o desafio acaba por ser maior”. 

 “A pressão financeira e a necessidade de garantir um sustento estável podem levar os artistas a direcionar sua energia para outras áreas”. No entanto, assegura, “a arte é uma parte fundamental da minha identidade e algo que não posso simplesmente deixar para trás”, “um mundo de emoções”, sem igual.

“À medida que mergulho na criação, sinto uma mistura de concentração intensa e liberdade criativa. Viajo em cada traço ou em cada pincelada, é a viagem pela minha mente e coração onde posso livremente explorar as minhas ideias e transmitir as minhas emoções de forma visual. É um processo catártico e inspirador, onde me sinto verdadeiramente conectado comigo mesmo e com o universo ao meu redor”. 

O artista, que transmite a suas ideias, emoções ou a sua visão do mundo através da sua pintura, afirma não estar para “agradar pessoas ou seguir tendências”, revela que teve a sua fase de autodescoberta mas que “actualmente é uma maneira de se expressar livremente, sem restrições externas”, ao mesmo tempo que sente a inspiração para pintar vir dentro de si, “de forma bastante natural, como uma correnteza que flui suavemente”. 

Pintura Cabo-verdiana

A questão da existência de uma pintura genuinamente cabo-verdiana é uma discussão que já suscitou debates e reflexões interessantes. Às vezes, acalorados… Para o nosso entrevistado, não existe uma pintura especifica de Cabo Verde, mas, em vez disto, “existem temas específicos que são frequentemente explorados pelos artistas cabo-verdianos”. 

“É essa repetição de temas que podem ter ajudado a criar a ideia de uma pintura cabo-verdiana distintiva”, quando, na verdade, “a pintura é uma forma de expressão universal, que transcende fronteiras geográficas e culturais”.

Isto pese embora seja igualmente verdade que certos lugares têm as suas próprias características, e no caso de Cabo Verde, a sua rica história e paisagens diversas, certamente que oferecem uma fonte de inspiração única para os artistas. 

No entanto, e para concluir, “isso não significa que a arte deva ser limitada por uma definição estreita de pintura cabo-verdiana, mas sim celebrada pela sua diversidade e originalidade dentro do contexto da arte de uma forma global”.  

João A. Rosário 

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