“A Origem Social e a Trajetória dos Estudantes Cabo-verdianos no Ensino Superior” é o título da primeira obra de Antonieta Ortet, docente da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), lançada no passado dia 4 de Abril. Como o título indica, a obra pretende traçar o quadro social dos jovens que, através do ensino superior, procuram singrar no mercado de trabalho.
Fruto da tese defendida pela autora em 2015, “A Origem Social e a Trajetória dos Estudantes Cabo-verdianos no Ensino Superior” aborda a questão da desigualdade social no acesso ao ensino superior, bem como as estratégias de sobrevivência escolar, tendo a origem social como um factor determinante nesse processo.
A autora, Antonieta Ortet, explicou ao A NAÇÃO que o seu estudo tem como base a legislação que atribui ao Estado a necessidade de inverter o número de estudantes que estudam fora do país e aumentar os universitários no país. Isto, sobretudo com a criação das instituições do ensino superior no país, primeiro com a abertura da Universidade Jean Piaget, depois a Uni-Mindelo e mais tarde o aumento das ofertas por via da Uni-CV.
Com isso, segundo Ortet, foi possível constatar uma realidade social “caracterizada por elevada percentagem de pobres (mais de 60% da população)”, num contexto de redução do número de bolsas destinadas a cada estudante.
“Aqui, em Cabo Verde, os estudantes nacionais recebem a propina direccionada praticamente para as instituições onde frequentam estudos. Perante este cenário temos uma transferência da maior parcela das despesas suportadas pelas famílias ou pelo próprio estudante”, acrescenta Antonieta Ortet.
Do outro lado, prossegue, “temos um grupo de estudantes filhos dos mais favorecidos, da elite política e económica, que tendem a estudar no exterior”. E, com isto, “o que se verifica é que as universidades nacionais tornaram-se palco dos desfavorecidos economicamente e as universidades estrangeiras para os estudantes com mais posse económica”.
No que diz respeito à qualidade, questão sempre presente quando o assunto é educação e formação, a autora entende que a democratização do ensino, por si só, “significa igualdade no acesso, desempenho e resultados e benefícios”. Mas, a realidade, poderá ser outra. “Um aluno que acede à universidade, filho de uma mãe solteira de baixa renda por exemplo, como é que consegue sobreviver para atingir a qualidade almejada?”, questiona.
Para Antonieta Ortet, os dados apurados indicam que o sistema de bolsa implementado não é eficaz e não corresponde à realidade. “O discurso diz criar escolas de qualidade e no fundo o que se vê é alunos a desenrascar, passando por várias vicissitudes para superarem as dificuldades que encontram. Muitos não conseguem e acabam por desistir dos estudos”, lamenta, ao que se acresce a representação social de que um curso feito no estrangeiro tem mais “valor simbólico” do que o curso feito no país.
Instrumento de apoio à sociologia da educação
Sobre o livro lançado na sexta-feira, 4, na Uni-CV, a autora considera-o um instrumento para dar a conhecer a real situação dos estudantes cabo-verdianos do ensino superior, sendo ainda, a nível académico, um instrumento de apoio aos professores que laboram com a sociologia da educação.
“A Origem Social e a Trajetória dos Estudantes Cabo- -verdianos no Ensino Superior”, de Antonieta Ortet, foi apresentada pelo também docente da mesma universidade, Adilson Semedo.