Por: Olímpio Tavares
A objetivo desta reflexão é indicar e caraterizar, de forma sucinta, alguns elementos que influenciam negativamente o processo de aprendizagem no nosso sistema de ensino básico e secundário. Para tal, vou recorrer a alguns tópicos que considero relevante nesse processo. De entre muitos, posso salientar: a extensão do currículo; fragilidade das técnicas de ensino; gestão pedagógica deficiente; ingestão de produtos açucarados; o calor; fragilidade das técnicas de estudos; falta de condições de estudo em casa e o ensino em língua cabo-verdiana.
A extensão do currículo
Em geral, o currículo do ensino básico e do ensino secundário são extensos. O que dificulta o trabalho do professor em cumprir o programa. Dá a ideia que o currículo foi elaborado pensando na capacidade de memorização acrítica dos alunos. O que interessa parece ser a fixação superficial dos conteúdos, que serão esquecidos em pouco tempo, e que não possibilita nenhuma competência relevante aos alunos.
Fragilidade das técnicas de ensino
As técnicas de ensino, na maior parte dos casos, continuam a ser tradicionais. Com aulas demasiado expositivas, com exercícios rotineiros, que são basicamente a repetição dos procedimentos do professor, ou seja, um excelente aluno é aquele que imita o professor de forma mais perfeita possível. Para agravar a situação, as aulas são ministradas pensando essencialmente nos testes sumativos, apesar do novo sistema de avaliação atribuir 50% na nota final do aluno a este elemento de avaliação. Os outros 50% são dedicados aos outros elementos da avaliação, que muitas vezes são feitos à pressa, com caraterísticas semelhantes aos testes sumativos. Enfim, não existe uma aposta clara nas técnicas mais modernas de ensino, onde é utilizado, por exemplo, um ensino por resolução de problemas, por projetos, ou na confeção de um portfólio reflexivo por parte do aluno.
Gestão pedagógica deficiente
A subdireção pedagógica, que tem a função de avançar com propostas pedagógicas inovadoras, normalmente limita-se a imprimir testes e pouco mais do que isso. Quando tem a função de interagir com os professores através da assistência às coordenações, através de assistências às aulas com o respetivo feedback, entre muitos outros atributos previstos na lei.
Ingestão de produtos açucarados
Independentemente de existir cantinas escolares ou não, o que é certo, na maioria das escolas, os alunos comem na maior parte das vezes alimentos açucarados, quer vendidos internamente quer nas portas dos estabelecimentos. O consumo desses produtos não favorece a concentração e atenção dos alunos, uma vez que são calorias vazias, e para agravar a situação, cria a ansiedade no aluno dentro da sala de aula, fazendo com que este aspire pelo intervalo para repor o stock de açúcar, que, como se sabe, é prejudicial à saúde, sobretudo quando é usado de forma excessiva, como é o caso.
O calor
Outro aspeto importante que influencia negativamente a aprendizagem do aluno são as altas temperaturas em alguns meses do ano, nomeadamente, em setembro, outubro, maio e junho. Nestes meses, na maior parte das nossas escolas, as aulas são insuportáveis tanto para alunos como para os professores, comprometendo seriamente o nível de aprendizagem dos alunos. Sugiro que o ministério providencie ventoinhas de teto ou enveredar para uma solução ideal que seria dotar as salas com o aparelho de ar condicionado.
Fragilidade das técnicas de estudos
A maior parte dos alunos entendem que estudar é ler a matéria nas vésperas dos testes. Normalmente, não são ensinados técnicas eficazes de estudo que lhes permitem aprender e ter bons resultados nas diversas avaliações. Apesar de existir no currículo uma disciplina cujo nome é apoio ao estudo, mas na prática, quando existe, não passa de um conjunto de receitas que não foram testados, e consequentemente fadados ao fracasso.
Falta de condições de estudo em casa
A maior parte dos nossos alunos não possui ambientes favoráveis de estudo em casa. O que tem implicações diretas nos seus resultados. A falta de ambientes de estudo em casa pode ser devido a vários fatores: barulho da televisão e outros aparelhos; conversas entre as pessoas; vício do telemóvel por parte do aluno; desempenho de outras tarefas alheias ao estudo; falta de interesse dos pais pelo estudo dos alunos; entre muitos outros.
Ensino em língua cabo-verdiana
Por fim, o uso massivo da língua cabo-verdiana na sala de aula, e, em alguns casos, na própria disciplina de língua portuguesa. O aluno, em geral, vê a língua portuguesa como um mal necessário. Ou seja, precisa dela para fazer as avaliações formais. A contradição está exatamente aí, porque muitas vezes recebe a aula em língua cabo-verdiana e é obrigado a fazer as avaliações formais em português. O resultado são as interferências, que geram muitas vezes um discurso pouco claro em relação a aquilo que o aluno pretende expressar, criando assim uma barreira para o seu processo de aprendizagem.
Em suma, posso afirmar que esses problemas podem e devem ser debelados pela comunidade educativa, que inclui um esforço sinérgico entre a direção da escola, o professor, o aluno, os pais, as delegações, o Ministério da Educação. Já vamos tarde porque os nossos alunos saem do sistema cada vez mais fracos. Este facto é reconhecido no país e no estrangeiro. Se não agirmos com urgência, estamos a hipotecar o futuro de várias gerações de cabo-verdianos. O que é mau para eles e para o país.