Cinco grupos oficiais contam desfilar no carnaval deste ano na Praia. Apesar do atraso, sobretudo da verba da autarquia, os blocos prometem muita folia, novidades e surpresas, com temas voltados para a cultura e identidade cabo-verdiana/africana, prevendo-se, inclusive, uma homenagem a Amílcar Cabral, alusivo ao seu centenário. A festa arranca a 10 de Fevereiro com o desfile dos jardins infantis.
O Carnaval, que este ano se festeja a 13 de Fevereiro, move já os foliões espalhados pelos bairros da Praia, com ensaios e batucadas. Cinco deverão ser os grupos oficiais que vão disputar o concurso na Avenida Cidade de Lisboa: Samba Jó, Vindos d’ África, Vindos do Mar, Bloco Afro Abel Djassi e Deusa do Amor Sem Fronteiras.
A ansiedade do “Samba Jó”
No Palmarejo, A NAÇÃO conversou com Jó Reis, responsável do grupo “Samba Jó”, vencedor do carnaval da Praia, no ano passado.
“Estamos num bom ritmo de preparação, com ansiedade, tendo já muito stress e a perder muito sono. Mas tudo vai valer a pena no dia do desfile, pois somos um grupo em ascensão, que procura melhorar e trazer coisas novas a cada ano”, conta.
“Porton di nós ilha, abraça bu comunidade sem máscara” é o enredo que o grupo pretende levar à avenida, com a promessa de muito brilho e folia. “Este tema é pertinente para mostrar a nossa cultura, o que temos e o que somos. Estamos a todo o vapor para conseguir levar ao público toda a folia do Samba Jó”, explica referindo que a expectativa é o de sempre:
Sem concurso, “não tem piada”
“Nós trabalhamos para divertimento e embelezamento do carnaval da Praia e não só para vencer o concurso. Contudo, se não houver concurso não tem piada e os grupos não mostrarão tanta garra. Mas, mesmo assim, o mais importante é brincar e levar folia ao público que nos espera na avenida”.
Jó adianta que o Samba Jó, grupo que já caminha para os 12 anos de existência, vai contar com 350 foliões divididos em sete alas. O orçamento ronda os 1500 contos, considerando os mil contos da Câmara Municipal da Praia (CMP), os 350 contos do Ministério da Cultura, mais alguma verba do grupo.
“O subsídio da Câmara chegou atrasado, obrigando o grupo a comprar todos os materiais na cidade da Praia num preço mais elevado”, salienta, referindo que um outro desafio do grupo foi encontrar espaço adequado para os ensaios à noite, depois de ter sido recusado o pedido da placa do antigo Campus da Uni-CV, actual Campus da Justiça.
“Vindos D´África” a dar o seu melhor
Do Palmarejo, esta reportagem deslocou-se ao Bairro Craveiro Lopes onde também decorrem os preparativos do “Vindos D´África”, um nome que dispensa apresentações. “Os preparativos estão, como sempre, na correria”, avança José “Breu” Gomes, responsável do Vindos d’ África. “Recebemos a primeira tranche do subsídio da Câmara no dia 15 de Janeiro, portanto, muito tarde. E no mercado, as encomendas estão atrasadas. Quando queremos materiais de qualidade e não temos dinheiro a tempo é este o risco que corremos. Mas, estamos a dar o nosso melhor, como sempre”.
Vindos d’ África, que vinha ganhando o carnaval da Praia nos últimos seis anos, antes da pandemia da covid-19, promete novidades, lembrando que a cada desfile tenta chamar atenção da sociedade através dos temas que leva à Avenida Cidade de Lisboa.
“Corda Cabo Verde” para homenagear Sportinho
“Este ano escolhemos como tema ‘Corda Cabo Verde’, um ‘despertar’ com outras vertentes para homenagear Sportinho, um dos fundadores do Vindos D´África que também fez parte do grupo cénico Korda Kauberdi”, adianta o nosso entrevistado. “A ideia é mostrar um carnaval ligado à nossa identidade africana e não copiar, por exemplo, o carnaval do Brasil, como tem acontecido”, acrescenta.
Breu Gomes diz que o Vindos d’ África não celebra o carnaval apenas para ganhar títulos, salientando que “se for pelos títulos já temos suficiente”. Mas, ainda assim, admite: “Tratando-se de uma competição almejamos claramente o título. Nós trabalhamos sempre, por meio das dificuldades, para merecer isso”.
Para este ano, com 500 folhões e sete alas, o Vindos d’ África promete “um carnaval de alto nível”, com muito brilho e folia, tudo aquilo que acostumou o seu público, sobretudo antes da pandemia.
“Vindos do Mar” com “Mitologias do mar”
Na Achada Grande Frente, o “Vindos do Mar” está também a dar o seu máximo para uma boa prestação no Carnaval 2024.
“Estamos um pouco atrasados em relação aos anos anteriores. Este ano o carnaval chega mais cedo e, mesmo assim, as verbas atrasaram. Mas esperamos conseguir neste curto período de tempo idealizar o que pretendemos apresentar ao publico”, avança Amélia da Rosa, responsável do Vindos do Mar.
Com o enredo “Mitologias do Mar”, este grupo, que representa comunidade piscatória da Achada Frente, pretende levar à avenida 350 figurantes, repartidos em sete alas, prometendo muita novidade e surpresa.
“Polvos, sereias, dragões do mar, entre outras figuras, vão estar representados no nosso carnaval que homenageia a pesca, principal actividade da nossa comunidade. Estamos a caprichar para levar muitas novidades e surpresas”, conta a nossa entrevistada.
“A expectativa é sempre boa, pois damos o melhor de nós na preparação de cada detalhe. A nossa perspectiva é melhorar a cada ano para ganhar prémios, pois todos que estamos na competição queremos títulos e prémios”, adianta referindo que o grupo tem um orçamento de cerca de 1600 contos para o festejo deste ano.
Bloco Afro Abel Djassi exalta Amílcar Cabral, “um simples africano”
Na Achada Santo António, acompanhamos também os preparativos do Bloco Afro Abel Djassi que tem como responsável Gamal Moneiro.
Com o enredo “Mi é um simples Africano”, o grupo formado por jovens de diversos bairros da Praia pretende, este ano, homenagear Amílcar Cabral, no quadro do centenário de nascimento deste Herói Nacional de Cabo Verde e Guiné.
“Como sempre, vamos, este ano, exaltar a África antes da colonização, não deixar morrer o objectivo inicial do grupo que é ultrapassar o complexo do colonialismo. E desta vez vamos fazer isto enquadrado nas comemorações do centenário de Amílcar Cabral, exaltando os seus princípios”, adianta Gamal, para quem os preparativos decorrem a um bom ritmo.
Sempre na “contra a corrente”
“Os trajes estão já avançados, assim como os carros alegóricos. A música também já está pronta, num ritmo que estamos acostumados, que não vai ao encontro dos outros grupos. Aliás, o nosso carnaval sempre foi diferente, contra a corrente, não sendo uma cópia de outras paragens. Vamos levar para a avenida 200 figurantes e cerca de 15 alas”, adianta.
A expectativa, segundo avançou, não é de que vai conquistar o título de melhor carnaval da Praia. Mas espera superar a prestação do ano anterior, ganhando bons prémios para animar o grupo e melhorar auto estima dos integrantes.
Valorizar o que é nosso
Gamal Monteiro diz-se expectante com o desfile em si, considerando que este ano, “o carnaval da Praia vai ser muito bonito, tendo em conta que os grupos estão a trabalhar temas voltados para a nossa cultura, a nossa identidade. Isso é muito bom, mostra que estamos a tomar consciência que devemos valorizar o que é nosso”.
Deusa do Amor Sem Fronteiras
Ainda entre os grupos oficiais da cidade da Praia, está o grupo “Deusa Do Amor Sem Fronteiras”, que o A NAÇÃO, infelizmente, não conseguiu localizar até ao fecho desta edição.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 857, de 01 de Fevereiro de 2024