Any Keila Pereira, jovem cabo-verdiana residente em Portugal, lançou o livro “Resilience To Cyber-Attacks in Critical Infrastructures of Portugal”, na Livraria Pedro Cardoso, na Praia. É a realização de “mais um sonho” desta “data Science” destacada “por excelência” numa área dominada por homens.
Natural de Santa Catarina de Santiago, residente em Portugal, Any Keila Pereira explica que esta obra resulta de um trabalho que tinha como objectivo identificar os Sistemas de Controlo Industrial (ICS) expostos à Internet em Portugal e investigar o seu nível de risco em termos de segurança.
A apresentação de “Resilience To Cyber-Attacks in Critical Infrastructures of Portugal” é a realização de mais um sonho desta jovem de 26 anos que se apaixonou pela informática ainda na adolescência.
“Na altura, fui presenteada com um computador portátil. Depois, fui para o ensino secundário e escolhi a área de informática de gestão. Foi o meu professor de informática que me despertou o interesse por esta área, mais na ótica de ‘construir’ para não ser apenas um utilizador”, conta ao A NAÇÃO.
No ensino superior, resolveu fazer o curso de engenharia informática. Depois de licenciada numa universidade portuguesa, fez mestrado em Informática e Sistemas.
Concretizou assim, o sonho de ser uma “data scientist” que seguindo a tradução literal é um cientista de dados, responsável por transformar dados em informação relevante.
“Essa transformação envolve desde a limpeza, organização e análise de dados, à construção/aplicação de algoritmos e modelos de inteligência robustos com capacidade de aprendizagem e previsão a partir dos dados a que foram treinados”, acrescenta sobre a área de formação que lhe tem rendido reconhecimentos nacionais e internacionais.
Any Keila é autora de alguns artigos científicos em revistas internacionais, tendo um deles vencido o Best Position Paper Award in the 13th International Conference on Software and Tecnologies (ICSOFT), em 2018. Em 2022, ganhou a primeira edição de Cabo Verde Prize for Girls and Women in ICT (PGW), um dos Prémios Científicos promovidos pelo Programa Nacional da Ciência do Ministério da Educação de Cabo Verde.
“É sempre bom quando somos reconhecidos por qualquer trabalho nosso em qualquer parte do mundo. Mas para mim é ainda muito mais gratificante ter esse reconhecimento de e em Cabo Verde”, conta.
“CV precisa apostar mais na cibersegurança para ser hub tecnológico africano”
Para Any Keila Pereira, o mercado cabo-verdiano na sua área de formação é, neste momento, “perfeito e propício” para a investigação. “Tudo ainda está por fazer, desde questões de cibersegurança em si até ao estudo dos dados armazenados nos sistemas até agora”. No seu ponto de vista, tem-se feito muita coisa, mas ainda há muito por fazer, pelo que “a hora é agora”.
“Cabo Verde precisa apostar mais na questão da cibersegurança se quer se posicionar como hub tecnológico africano. Precisa focar no estudo dos dados para transformá-los em informações viáveis que ajudem na tomada de decisões”, aponta.
Por outro lado, diz que o país precisa também apostar na internet se quiser ser atrativo para nómadas digitais e empresas internacionais. “Devemos aproveitar o benefício geográfico do nosso fuso horário que é um dos mais convenientes do mundo”, complementa.
Ajudar a consolidar o digital em África
No futuro, Any Keila quer contribuir para a construção e consolidação do digital em África. “Quero fazer parte da era da transformação de Cabo Verde como um grande hub tecnológico africano de referência mundial. Acredito muito neste potencial porque temos o intelecto, a localização e o fuso horário perfeito para fazer isso acontecer”, termina.
De salientar que o lançamento do seu livro aconteceu na sexta-feira passada na Livraria Pedro Cardoso, Fazenda, Praia. A apresentação esteve a cargo de Sónia Semedo e Juvenal Pereira, promovido no âmbito do Programa Nacional da Ciência.