Os deputados da Comissão Especializada dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos, Segurança e Reforma de Estado consideram que Carlos Reis “não reúne condições objetivas” para se manter no exercício do cargo de administrador da RTC. Pela primeira vez um cidadão, depois de sabatinado, é chumbado por essa instância parlamentar.
De acordo com o relatório da Comissão Especializada dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos, Segurança e Reforma de Estado (primeira Comissão), a que A NAÇÃO teve acesso, os deputados do MpD e do PAICV entendem que Carlos Reis (administrado da RTC desde 2020), “não reúne todas as condições indispensáveis para ser reconduzido no cargo”.
“Se por um lado demonstrou de forma evidente o desconhecimento dos recursos humanos da instituição em
causa, apresentando inclusive números totalmente díspares em relação ao quadro de técnicos por cada departamento. Por outro lado, admitiu nas suas declarações a sua incapacidade na implementação do PCCS, que para além de ser uma responsabilidade sob sua alçada, igualmente foi um dos principais compromissos assumidos no mandato pelo conselho da administração cessante, gerando uma enorme expetativa aos colaboradores da instituição”, realça o relatório.
O documento destaca ainda as declarações de “muita desconsideração e falta de respeito”, ao longo de toda a
audição, para com os profissionais da RTC, “o que antecipa um clima de tensão pouco salutar” e que por si
“explica” “o insucesso e a consequentemente não implementação do PCCS na instituição em causa”.
O relatório destaca ainda as afirmações de Carlos Reis que apontam que a RTC não é viável e que não tem sustentabilidade financeira. “Neste sentido não se compreende a pretensão do referido auditado em ser reconduzido ao cargo”, além “da sua postura questionável enquanto administrador durante toda a audição com a 1ª Comissão”.
Para os deputados do PAICV é fundamental um Conselho Administração “pujante”, com administradores que acreditem na instituição e que “trabalhem arduamente na implementação de reformas, medidas e projetos, na valorização dos seus quadros e profissionais, no apoio aos seus técnicos e na dignificação da instituição no seu todo”.
Por seu turno, no entendimento dos deputados do MpD, Carlos Reis “deixou de reunir condições objetivas” para o exercício do cargo, uma vez que as suas respostas na primeira Comissão motivaram “grande indignação e repúdio público” dos jornalistas e demais profissionais da RTC.
Repúdio
Esse repúdio, como recordaram os membros da Comissão, advém do facto de o mesmo gestor ter afirmado que “atualmente, de acordo com a consideração de um consultor, a RTC é uma empresa gorda, preguiçosa e que não dá respostas e que se trata de uma questão que ultrapassa o Conselho de Administração, que está impedido de mandar trabalhadores para casa, devido a questão social e a falta de meios financeiros para o efeito”.
Entendem os deputados do MpD que, não obstante o auditado ter reportado a um consultor da RTC, “na verdade, não só, não se demarcou da opinião do consultor como, ao não identificar o seu autor, acabou por assumir o seu conteúdo e isso foi suficiente, para minar o relacionamento entre ele e os trabalhadores, o que desaconselha de todo a sua continuidade na administração da RTC”.
Défice financeiro principal problema da RTC
No que concerne à motivação da sua candidatura, Carlos Reis começou por dizer, durante a sua audição parlamentar, que, no mandato 2020/2023, “ficou muito por fazer devido ao défice financeiro”, o que, no seu entender, “impede que qualquer outra nova administração nomeada tenha boa prestação sem solucionar esta questão”.
Apesar disso, advogou que a RTC deu respostas positivas, operando uma engenharia financeira para o pagamento dos salários dos colaboradores. Disse também que com o recebimento de trinta e um mil contos da
Electra pagou-se parte da dívida com o INPS, ficando por pagar as dívidas com os credores e com o Estado.
Destacou, entre outros, “avanços” a nível técnico e dos recursos humanos durante o seu mandato, realçando a melhoria do aparelho de comunicação da rádio e dos meios de captação de imagens, a instalação do estúdio
digital, a aquisição de novas mesas de informação para o estúdio três da RCV, etc.
Afirmou ainda que a maior fatia do orçamento da empresa se direcciona para os recursos humanos, concretamente um valor de 21 contos para duzentos e 68 colaboradores, com um número de absentismo elevado, sendo que a maioria tem tido fraca produção e com trabalhadores que apenas trabalham três horas por dia, pese embora muitos se esforçarem para desempenhar as suas funções.
Indignação
As afirmações de Carlos Reis geraram uma forte reacção dos trabalhadores da RTC, acusando-o de não estar à altura da função de gestor, dando provas de não conhecer durante a audição à Comissão Especializada dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos, Segurança e Reforma de Estado.
Que seja do conhecimento do A NAÇÃO esta é a primeira vez, nos anais da Assembleia Nacional, que um cidadão ouvido em Comissão Especializada pelos deputados é chumbado, dado que até aqui esses momentos de sabatina têm sido uma mera formalidade.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 849, de 07 de Dezembro de 2023