Uma denúncia anônima de um recruta da região militar do Morro Branco aponta que Davidson Barros, falecido no dia 13 durante uma marcha, terá manifestado cansaço extremo e pedido ajuda, que, no entanto, foi-lhe negada. A mesma fonte aponta ainda agressões por parte de graduados e diz que foram instruídos a não dizer nada para fora da instituição. As Forças Armadas já abriram um inquérito para apurar os factos.
A denúncia foi encaminhada à página do Facebook do movimento SOKOLS 2017, por um indivíduo que se identifica como recruta e que terá presenciado os acontecimentos.
“Sou recruta. Fizemos uma caminhada de Morro Branco até Galé e quando voltávamos para Morro Branco Davidson, mais conhecido por Big, se cansou. Mesmo assim, os graduados insistiram para que ele continuasse a caminhar”, revela a mesma fonte.
Segundo o e-mail, divulgado este domingo, 15, ao mostrar-se cansado, o rapaz, de 20 anos, terá sido então agredido com “pescoçadas, socos no capacete que levava à cabeça, chutes e empurrões”.
Para além disso, ele terá ainda recebido mais uma mochila para carregar, ficando com duas mochilas de cerca de quatro a cinco kg/cada e uma arma AKM de dois a três kg.
“Não o deixaram descansar”
O jovem, segundo a mesma fonte, pesava cerca de 110 kg e estava “mesmo cansado”, porém “não o deixaram descansar” pelo caminho.
Até que em um determinado momento, continua, um graduado o terá empurrado, fazendo com que caísse no chão, para depois dizer : “Big estás a morrer? Morre Big, morre!”, revela o recruta, segundo o qual os camaradas presentes na marcha tentaram prestar apoio a Davidson, mas terão sido impedidos.
Depois de chegarem ao campo de tiros para assistir à demonstração de explosão de bomba, alega, viram um carro a ir com a maca para levar o recruta, para, no dia seguinte, receberem a informação de que ele morreu.
“Instruíram-nos a não dizer nada aqui fora”, garante o denunciante.
Inquérito a decorrer para apurar os factos
Procurada pelo A Nação para reagir a estas alegações, a instituição, através do Gabinete do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, informou que encontra-se a decorrer um inquérito para apurar os factos.
“Quanto às causas da morte, por meio da autópsia, as Forças Armadas emitirá um comunicado oportunamente”, indicou, ainda, a mesma fonte.
Manifestação na Praia
Esta terça-feira, 17, amigos e colegas de Davidson, que era estudante de Criminologia e Segurança Pública no Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, na Cidade da Praia, saíram às ruas numa marcha em homenagem ao jovem.
O caso
Na passada sexta-feira, 13, as FA emitiram um comunicado dando conta do falecimento do recruta, após se sentir mal disposto na etapa final de uma marcha administrativa.
No documento, a instituição garante que o recruta recebeu “de imediato” os primeiros socorros do médico militar e do socorrista que acompanhavam a referida marcha.
“Na sequência, foi transportado para a enfermaria do Centro de Instrução Militar do Morro Branco, onde foi assistido e evacuado imediatamente para a Banca de Urgências do Hospital Batista de Sousa”, referiu.
Davidson da Silva Barros, tinha 20 anos, era natural do concelho de São Filipe, ilha do Fogo, e estudante do 2ºano do curso de licenciatura em Criminologia e Segurança Pública no Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais.