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Santiago

São Domingos perde uma das suas figuras mais ilustres, Manuela di Nha Canda

Foto - Jacques Chopin - via Hermínio Silves

Faleceu, Quinta-feira, 14 de Setembro, vítima de doença, Manuela di Nha Canda, ilustre figura do município de São Domingos, muito conhecida pelo seu famoso Ponche de Calabaceira. Manuela di Nha Canda, embora não reconhecida oficialmente, teve um papel preponderante no apoio à luta clandestina pela independência de Cabo Verde.

A notícia do seu falecimento foi partilhada nas redes sociais por familiares e conhecidos, que lamentam a partida de um dos rostos do concelho, cuja residência tem sido paragem obrigatória para muitos que visitam São Domingos.

Consta que Manuela di Nha Canda foi pioneira na produção de ponche de calabaceira e mantinha, até os dias actuais, o selo de preferência no que toca a esta bebida, embora hoje muito popular na ilha de Santiago.

Paragem obrigatória 

Também, terá sido das primeiras a fazer churrasco de frango de terra, prato que atraia para o seu estabelecimento, por onde passaram ilustres figuras nacionais e internacionais, de músicos a chefes de Estado.

Aliás, como recorda o jornalista Hermínio Silves, Manuela sempre se destacou pelas suas criações, pouco comuns, a nível, também, de doçarias.

“Havia sempre algo diferente na casa da Manuela, que fugia ao habitual e ao vulgar, desde o pequeno almoço com chá de abacate (diariamente) ao pudim de pão que era (ou ainda é) uma autêntica raridade”, escreveu o jornalista, numa homenagem a Manuela di Nha Canda.

Luta pela independência

Embora esta seja uma vertente menos conhecida, e não reconhecida oficialmente, Manuela di Nha Canda foi, segundo a mesma fonte, uma verdadeira combatente da liberdade da Pátria, ao receber, em sua casa, reuniões clandestinas de jovens revolucionários que lutaram pela libertação de Cabo Verde.

“Mulher de fibra, é uma das heroínas anónimas da independência nacional: na sua casa reuniam-se em clandestino, a partir da meia-noite e alumiados por candeeiros e velas, jovens revolucionários que traçavam os seus próximos passos e estratégias para fugir à PIDE”, escreveu o jornalista.

A máquina que Manuela utilizou para coser a bandeira da independência

Costureira

Manuela também costurou, diz Hermínio Silves, dezenas de bandeiras que foram hasteadas e içadas antes e no dia da independência, mas nunca foi homenageada nem foi merecedora do estatuto de combatente da liberdade da pátria.

Aliás, ainda está intacta, no corredor da sua sala, a máquina utilizada para coser a bandeira da independência.

“Não gostava desses reconhecimentos, mas nos últimos tempos, por influência de uma comadre sua percebeu a importância de exigir ser reconhecido o seu papel na história, me pediu que a ajudasse a tratar do assunto… já era tarde para reconhecimento oficial, para mim continuará a ser uma combatente, heroína anónima sem armas. Uma mãe”, declarou Silves.

Manuela ladeada por Jacques Chopin, ex-adido cultural da embaixada de França (à direita), e por Joaquim Arena, jornalista e escritor.

Dotes musicais: mornas em noites de tocatina e fado para visitantes portugueses

Manuela também foi conhecida pelos seus dotes musicais como refere o jornalista Hermínio Silves, citando o são-dominguense Lema di Nha Preta, segundo o qual, Manuela, com a sua voz fina, não só cantava mornas em noites de tocatina, como também o fado com o qual brindava os portugueses do tempo colonial que iam fazer as suas refeições em Cutelo Branco, na casa de António Soares.

Aliás, Lema di Nha Preta, ainda citado por  Hermínio Silves, recorda que Os Tubarões, com Ildo Lobo à cabeça, eram clientes assíduos em Cutelo Branco.

Nascida em São Domingos, mas criada desde menina na Rua Sá da Bandeira, no Plateau, Avenida Amílcar Cabral, Manuela di Nha Canda viria a instalar-se, já crescida, no município de São Domingos.

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