Por: Carlos Carvalho
Foi um dia “histórico”!!
Largas semanas sendo tema de conversa em becos e belecos… de nossa “tapadinha”… a Língua Portuguesa (LP) foi declarada, debaixo de salabankus, PCI de Cabo Verde.
A “original” proposta foi adoptada, entre chumbo 1°, e aprovação, no fim.
Proposta, no mínimo, estranha, k ká tá passaba pá kabesa de ninguém, nesta altura do campeonato!!
Estou quase certo que a ideia original desta tão inusitada iniciativa não vem de quem a apresentou.
Repito.
Estou quase certo… não digo que não foi mesmo!!
Iniciativa, aparentemente, sem um quê… sem um porquê!!
É que tanto a LP, como a nossa língua materna, está “vivinha da silva”, cada um com seu (não) estatuto.
Porque não entendi efectivamente a oportunidade desta iniciativa, fiz de tudo para seguir o “caso” no nosso Par(a)lamento.
“Procedi-Mentares”
Ouvi com atenção a apresentação.
Ouvi igualmente a leitura, trémula, para não dizer coisa pior… de um Parecer…
Ouvi um “Relator” pati-patir para ler um simples Relatório, dando razão à Proponente, de tão maltratada que foi, nesse “histórico” dia, a língua que pretendemos preservar e salvaguardar, como nosso futuro PCI!!
Dos pareceres
Ouvi, não entendi bem, o Parecer de minha casa, aquele que foi lido, “gaguejado”!!
Gostaria de o conhecer, para entender seus fundamentos. Como foi lida, aliás, gaguejada, duvido que alguém, o comum “dja people”, não os nossos doutos deputados… o tenha entendido.
O PARECER que nosso “Chefão” assumiu desde início… sem pestanejar!!
Dado, recebido, assumido!!
Assumido… com a arrogância de sempre.
Verdade absoluta!!
Voltarei à S.E., no fim.
Parecer Português
Ouvi, fiquei sem entender, se foi pedido um PARECER ao Instituto Camões (IC) e, se este emitiu algum!!
Se foi…mais uma caboverdura!!
Como pode passar pela cabeça o Parlamento, do povo cabo-verdiano, solicitar PARECER à uma instituição como o IC numa matéria como esta!!!
Faltou pedir PARECER ao CHEGA ou à A. R. Portuguesa!!
Mas… continuemos.
Ouvi de seguida o “atrapalhamento” da Mesa da AN quando um Deputado levantou dúvidas sobre a conformidade dum regimento qualquer.
Pior foi, na sequência dessa chamada de atenção, dar-se o dito… por não dito, com um Parecer negativo, virar, positivo… riba d’hora!!
Bom, o Tanta diria…
Paxenxa!!!
Creio até o Presidente da AN ficou “à nora”, gago, com aquela trapalhada toda!!
Como o nosso Par(a)lamento baixou de categoria!!
Ai que saudades dos tempos… do antigamente… com deputados di mé di vera…e uma Assembleia com classe!!
De trapalhada em trapalhada… o Chefe da AN, já “kololu”, mandou todos para casa…
Até amanhã.
Fiquei puto!!
É que… n’pensa… má ká tá obiba AN na otu dia.
Os fundamentos
Na trapalhada sessão, ainda deu para eu ouvir e o cabo-verdiano ouvir, os “fundamentos históricos” do porquê da sua, sui-generis, proposta.
É verdade!!
O Português é nossa Língua Oficial (LO), estampada na Bíblia do ex-PR, JCF… nossa Carta Magna!!
Valorização maior… não pode haver!!
A LP chegou às ilhas desde o séc. XV, juntamente com as línguas galega, veneziana… e de etnias do continente que, entretanto, foram diluindo…até desaparecerem!!
É verdade que a nossa Língua Materna (LM), kel k é di nós, má k pá nada dés mundu nu ká kré valoriza, é tributária da Língua de Camões!!
Voltarei a nossa LM…um dia.
É verdade que a LP é importante… é com ela que contactamos com o mundo…
É verdade que Cabral já havia dito que LP é a maior herança que os “tugas” nos deixaram!!
É verdade que nossos escritores, no passado e no presente, todos escreveram/escrevem em PT!!
Consequentemente, os nossos maiores romances e poesias foram escritos em PT!!
Tudo isto é verdade!!
Bem fundamentada a importância de nossa LO!!
PT é a única LO da República de Cabo Verde.
Valorização maior… não precisa!!
Porém, também é verdade que ela vem sendo tão maltratada, até na AN, que nos leva a conclusão que ela precisa, efetivamente, de “adequado tratamento”.
Tão-somente isso!!
Sobre o “tipo de tratamento”… não compete a AN!!!
É coisa de ciência… e de cientistas!!
O debate
Quando o “Tamanhon” mandou todos para a casa… pensei que já perdera o debate sobre tão importante assunto. Porém, de tão atribulada que foi esta iniciativa, acabei ainda ouvindo o debate, n’otu dia.
Ouvi os argumentos de uns e de outros!!
Argumentos quase nenhuns com argumentação técnico-cientifica que, como disse um deputado, a AN não tem. Estou quase certo que:
A maioria dos deputados não conhece a nossa Lei do Património de 2020, k stan, aprovadu pa tudu diputadus;
A maioria não conhece a Convenção Mundial do Património Imaterial, de 2003, nem a da diversidade cultural de 2005;
A maioria não conhece a Lei do Património Cultural Português onde vamos sempre copiar nossas Leis.
Assim, foi confrangedor ouvir gente discutir sobre assunto que não domina… so pabia alguen obi fladu, na kafé, na bar, na butikis, na loja xinês, na undi ta konpodu kabelu…má é preciso “salvar”, proteger, valorizar o português!!
Sinceramente!!
Como a nossa AN dja kaba na nada!!
Pessoas que nos representam, com tão baixa cultura nacionalista!!
Estou aqui pensando que se pusermos uma urna, hoje, e disserem aos cabo-verdianos que decidam o seu futuro… n’ten kuazi serteza má kes k tá prifiri ser sidadon di sigunda…tá serba mas txeu…kés k ká tá xintiba orgulhu di ser kauberdianu… sima kanta pueta-maior di nos muzika, Manel…és tá serba mas txeu!!
Triste constatação!!
Mas…real!!
O que penso
Ouvidos os (des)argumentos de “nós riprizentantis” na AN, pus-me a pensar sobre: Onde estamos? Para onde vamos?? O que queremos deste país?? Onde falhamos?? Ou onde começamos a falhar??
Para responder a estas, teria que escrever um “Tratado do Complexo Caboverdiano”, pois, não caberia neste artigo os fundamentos para as respostas.
O cabo-verdiano é mesmo complexado!!
E… o complexo cabo-verdiano chega a irritar!!
Quase 50 anos independentes ainda não assumimos que somos um país livre e independente!!
Tecnicamente, não consigo ajuizar da justeza da iniciativa, e dos Pareceres emitidos, porque não os conheço… de ler mesmo.
Estou fazendo diligências a ver se consigo os dados para uma análise mais desprendida de apriorismos… com cientificidade.
À 1ª vista, duvido que a démarche empreendida seja incorrecta… mesmo utilizando o que a UNESCO não recomenda, isto é, o método top-down!!
Ela recomenda, como correcta, precisamente o contrário, da base ao topo; significa que tudo devia partir da base da pirâmide, com consentimento, ou sustentação, ao topo!!
Voltarei ao tema quando reunir todos os dados… se conseguir!!
A meu ver, com o que a senhora deputada devia se preocupar é com o estado de ensino e aprendizado das duas línguas.
A nossa Língua Materna, para protegê-la, valorizá-la, promovê-la, como recomenda a UNESCO.
A LP como língua segunda que é, apesar de Oficial!!
Chumbada… Adoptada
E, de trapalhada em trapalhada, a iniciativa lá foi 1° declarada chumbada… para depois ser… adoptada.
A Proponente, ditada a 1ª sentença, i.e., chumbada, na sua declaração de voto vencido, insurgiu-se logo, contra tudo e contra todos, alegando fantasmas…só pode ser de nosso passado, agressores, essa não entendi bem… de se “matar sonhos”, só pode ser dos “saudosistas”…
Quanta ignorância política!!
Quem não gosta dos tugas nesta terra!!???… chamando de, imagine-se, irresponsáveis, deputados “não comprometidos com o desenvolvimento”…
Tudo isto, só porque entenderam não votar uma proposta no mínimo… desnecessária!!
Bom, depois não ouvi o fim das coisas.
A RCV resolveu fechar antena logo nessa hora de grande… suspense!!
Paxenxa!!
Tratando-se de assunto tão importante!!
Afinal, no fim, o dito 1° ficou… nnão dito!!
Isto é… temos LP…PCI-CV…
Austelino dixit!!
Quem quiser…que vá ao Tribunal queixar-se.
Eu… já decidi!!
Sinceramente!!
Mas…a procissão ainda vai no adro!!
Parece que, ouvindo o conselho do Correia, alguém pondera levar a coisa às barras dos Tribunais.
Pois!!
Aí…é que a “porca torce o rabo”…Tribunal!!!
Os cabo-verdianos sabem porquê!!
Concluindo
Depois de toda esta trapalhada, uma pergunta emerge. E o Ministro que tutela esta matéria!!??
Em política, há a figura “tirar conclusões políticas”.
Totalmente desautorizado nisto tudo… fosse num país normal um Governante sai de cena.
É que é vergonha demais ser-se desautorizado pelos próprios que te suportam…que suportam teu/seu Governo.
Aqui, não há desculpas.
Fosse eu, também sou eu, logo após a votação na AN ia à casa do Sr. Premier e lhe dizia:
Premier, não tenho condições de continuar!! O sr. mesmo viu o que aconteceu!!
E o Sr. Premier, em princípio, deve saber o que dizer/fazer nessas condições.
Tenho dito.
16/04/23.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 817, de 27 de Abril de 2023