Por: Francisco Fragoso*
Teatro & Medicina estão inscritos na verticalidade celeste do
“não direito ao erro”. A arte tempera a verdade, visto que é
uma transpiração da alma que se liberta. O Médico ele, por
seu turno, obtempera as suas comunicações, porquanto são
as transpirações do doente/paciente que atravessam os seus
próprios medos e receios!
Todo o húmus de fundo que sustenta o íntimo da medicina reside no “risco” orgânico da escuta! Esta competência requer uma preparação drástica nova, paradoxalmente “lúdica” do Médico, mesmo e, sobretudo porque ele (o médico, obviamente) foi, no decurso dos tempos, o sábio/erudito soberbo e
a autoridade decisória!
Infelizmente, já nada existe desta eloquente memória!
A tecnologia banalizou a morte, radiografando-a até ao extremo fôlego
do viver e existir!
Eis porque, obviamente, formar um ser à doença, assume reaprender
os textos antigos que falavam do Princípio do mundo. O sopro criador de Mãe Natura muito sofreu! Hélas! Hélas! . . . Enfim! …
Mais, afinal o que é um paciente senão um ser que espera — Uma qualidade de acolhimento e de presença, pois que os testes e exames já tudo disseram! Incitar uma atenção mais fina, um silêncio que acolhe, uma benevolência que tranquiliza!
Destarte, eis que o homem de Teatro questiona, avisadamente a prática e a ética da Medicina, pelo jogo de uma escuta mais sensível do doente/paciente e dos seus mais íntimos e parentes, de uma escuta que começa pelo “rosto do outro”.
Tornar permeável à esse escrínio de vida para além dos ecrãs!
Convém então falar não do tumor, nem do rumor, sim: ao ser privado
de esperança, que se encontra enfermo diante da máquina do tempo!
Eis que então, o Teatro (esta nobre e milenária) Arte vem ajudar os médicos a entender a alma e o íntimo dos doentes/pacientes, bem assim,
a perturbação quão inopinada de uma vida ferida e castigada pela doença.
Destarte, impõe-se, então, apaziguar os receios, suspender o espectro
da morte por mais empatia!
Sim, efetivamente:
A escuta, é a pedra angular de toda relação humana!
Em tais circunstâncias, milagres congraçadas emergem no vivo, pois que em Medicina não estamos verdadeiramente na graça que alivia, entretanto, sim, ante o peso do real que anuncia o dobre.
Aliás: Não interpelar adequadamente uma humanidade ficcional como
no teatro, o médico encontra-se sem defesa e sem factício!
EST MODUS IN REBUS!
Feito em Lisboa, nesta data de hoje, 08 Julho 2023
Médico, Humanista e Intelectual Cabo-Verdiano
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 828, de 13 de Julho de 2023