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Desporto

Santo Antão: Os melhores resultados de sempre apesar da falta de investimentos

Apesar do destaque que mereceu nas últimas competições, Marina Delgado não é a única atleta de Santo Antão que conseguiu bons resultados no nacional de atletismo de pista. A ilha subiu duas posições no pódio por regiões e ambiciona mais, apesar das fracas condições de treino.

De acordo com Eliseu Fortes, este foi o melhor nacional de sempre para a ilha, com a região a sair da quinta para a terceira posição. Arrebatou, no total, 17 medalhas, entre sub-18 e sénior. 

Satisfeito com os resultados alcançados, Eliseu Fortes lamenta, apenas, que “as autoridades nacionais não olhem para o desporto como uma mais-valia.

“As condições têm sido as mínimas, não temos locais apropriados para treinar”, refere o treinador, segundo o qual são utilizados três pontos, a ilha, para treinar, nomeadamente as estradas nacionais em Povoação, na Ribeira Grande, em Lagoa e o campo relvado do Porto Novo.

A escola, que reúne atletas dos três concelhos da ilha, tem tido, entretanto, “resultados palpáveis”.

“Não é algo que surgiu do dia para a noite. Tivemos recentemente a melhor prestação de sempre na competição nacional, mas nós viemos de lá atrás. Começamos a levar quatro atletas, depois cinco, seis, sete, oito, até que este ano conseguimos levar dez atletas”, sublinha.

Já em preparação para a próxima época, num trabalho contínuo, Fortes diz que as dificuldades são sentidas a nível de material de treino, nomeadamente sapatilhas, sobretudo para atletas de fundo, cujas sapatilhas duram até seis meses, e velocistas, cujas sapatilhas duram menos tempo, tendo em conta a intensidade dos treinos.

O sonho de uma pista de atletismo

Entretanto, a maior dificuldade e também o maior sonho tem a ver com a construção de uma pista de atletismo de terra batida, à volta do campo de futebol de Lagoa. Isto porque, o lugar mais adequado que conseguem treinar é a volta do estádio no Porto Novo, porém, em treinos esporádicos, em altura de competições regionais.

“O meu maior sonho é ter um espaço de treino em Lagoa, de terra batida, à volta de um campo de futebol que existe ali. Com isso criaríamos um centro de treinamento em Lagoa, onde os atletas ficariam em para residência, desciam para a estudar e subiam de novo para treinar e dormir”, explica.

Falta de apoios

Fortes destaca que os atletas têm recebido apoios de vários pontos de Cabo Verde e outros países, com vários amigos a acarinhar este projecto, e com a ajuda de padrinhos. Entretanto, a nível das autoridades nacionais com responsabilidade no desporto, deixa a desejar.

“Ano após ano estamos a alcançar os melhores resultados possíveis. Todas as vezes somos bastante acarinhados, recebidos pelas entidades municipais nos três concelhos. Não vou dizer que eles se esquecem porque temos tido apoios dos três municípios, não é o apoio que sonhamos, mas sabemos também que as câmaras municipais têm as suas limitações”, sustenta, perguntando, contudo, onde está o Instituto do Desporto cabo-verdiano.

Uma feliz coincidência 

A escola de atletismo, segundo Eliseu Fortes, nasceu há sete anos, quando, enquanto professor na sua primeira experiência lectiva, foi colocado na localidade de Lagoa. Esta colocação profissional segundo conta surgiu numa altura em que se estava a refletir sobre o rumo da modalidade em Santo Antão e os resultados que tinham estado a alcançar nas competições nacionais.

“Percebemos que era necessário começar a apostar na formação, como forma de, não só rejuvenescer o atletismo na ilha, mas também ter resultados que nos permitissem sonhar como outras ilhas, como outros países”, recorda.

Lagoa, com quase 1500 metros de altitude, apresentou-lhe as condições ideais para treino, sobretudo do atletismo de fundo, curto e longo.

“Um dos melhores lugares para treinar em Cabo Verde. Comecei a ter resultados de forma muito rápida, que nem esperava. Já tinha a intenção de criar um projecto de formação, então foi só colocar em prática. E as próprias crianças no projecto começaram a ter resultado muito rápido”, explica.

Com uma aposta forte no atletismo juvenil, a escola trabalha com crianças desde os cinco anos de idade, em Lagoa, e partir dos 11, em outros pontos da ilha. Tem actualmente à volta de 50 atletas, de vários pontos da ilha, sendo que todos os anos escolhe dez que entram no projecto competitivo.

Quando as crianças chegam no patamar de competição, elas são deslocadas para o Internato da Ribeira Grande, onde passam a estudar, com suporte de um padrinho, ou em alguns casos da Câmara Municipal que paga as propinas, para poder frequentar os treinos mais específicos.

“A criança tem que estar na escola, respondendo a um dos objectivos principais do projecto. Ela fica no internato da Ribeira Grande, ajudamos na escola, em todo o processo, até ao 12º ano. Após terminar o ensino secundário tentamos a obtenção de bolsa de estudo, para seguir para a universidade”, explica o treinador, que agora também vive na Ribeira Grande.

Exemplo disso hoje é a própria Marina, cujo potencial despontou quando se mudou para a Ribeira Grande e passou a treinar de forma mais direcionada para os seus objectivos.

Este ano lectivo 2023/2024 ela entra para o oitavo ano, no Internato da Ribeira Grande.

Leia o perfil da Marina aqui

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 834, de 24 de Agosto de 2023

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