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Colunistas

Olhares de Lisboa: Flashes

Por: Filinto Elisio

“Quem acordado com os seus sentidos iluminados de frente”. – Arménio Vieira

Sol ardendo sem aquecer a manhã fria. Pássaros em revoada, Lisboa a barganhar o azul e eu acordado, a mesa de trabalho com documentos esparramados, o tanto devido a Luís Moita e que mais? O País? O País comigo permanece (vejo a tua mensagem e já lá vamos), ora bálsamo, ora inquietação.

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Aniversariantes, ontem, Arménio Vieira e António de Castro Guerra. Sou amigo, leitor e editor (orgulhoso) de ambos. Arménio tem um versejar alcandorado e primoroso, parecendo estar a chegar, com o novo projeto na forja, ao tal “livro futuro”. E António, todo ele prosa, aporta a sofreguidão e a estesia de narrador com surpreendente “mergulho interno”. Conhecem ambos os vértices e vórtices da boa escrita (bons leitores que são) e é deste modo que também me prendem a admiração. Desejo-lhes as melhores venturas…

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Sim, o País. Não estou entre aqueles que se rejubilam quando uma associação estrangeira de agências de viagens e operadores turísticos interpõe ação judicial contra a TACV/Cabo Verde Airlines ou Cabo Verde desce para a quarta posição no Índice Ibrahim de Governação Africana (por declínio nas bases para as oportunidades económicas, na participação, direitos e inclusão, no desenvolvimento humano, no da segurança e no do Estado de direito). Nem me alinho aos incrédulos e tampouco faço o coro aos descontentes, se o FMI estima o crescimento real do PIB em 10,5%, se a regata Ocean Race amplia a imagem internacional de Cabo Verde, é investimento venturoso e contribui para a consciência em prol dos oceanos, e se a Freedom House classifica o País como o mais livre da África e da CPLP, pontuando-o em 92/100.

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Dito isto (à navegação e ao trânsito profuso da nave dos loucos), não comprometo um milímetro da minha cidadania para, sem perder a ternura e o patriotismo, fazer crítica consequente às coisas que, ao meu modesto entender, carecem de urgente melhoria. Quando olho para a pobreza e a extrema-pobreza, a desigualdade e a criminalidade, o desemprego e o emprego precário, a não subsidiação do trigo em tempo de insegurança alimentar, o Governo gorducho e a Oposição esquálida, a omnipresente classe política e a submissa sociedade civil, e o quanto tudo isso vampiriza a nossa vida coletiva, repito que sou crítico e defendo (mas no civismo, na serenidade e na responsabilidade) que tomemos providências devidas…

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O País? O País (amanho, semente, fruto) é única página que permanecerá sempre aberta, como um lugar/tempo elíptico de não desistência. O compromisso com esta permanência não desconfigura a minha liberdade de pensar e de expressar, nem condiciona o artesanato da minha matéria poética. Por isso, sabe-me a pouco a santa inquisição da politiqueira local e a maluqueira medíocre na rede social, que só me aguçam a intenção e me retemperam o gesto. De atravessar o Rubicão. Direi mesmo que ando acordado…e com os sentidos iluminados de frente!

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 805, de 02 de Fevereiro de 2022

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