Aos 14 anos, Wilma Vieira, jovem natural da cidade da Praia, a viver em Portugal, encontrou na escrita, o alento para esta fase “confusa” da vida. Com a poesia aventurou-se até a lançar o seu primeiro livro intitulado “Menina de Cor”. Hoje, com 25 anos, Wilma faz parte da nova geração da literatura cabo-verdiana. Neste Dia Mundial da Poesia encoraja outros jovens a abraçar esta arte, “o sal que traz sabor à vida”.
Wilma Vieira é uma jovem poetisa, da nova geração da literatura cabo-verdiana. Natural da cidade da Praia, descobriu, na adolescência, o amor pela escrita. E nesta fase “confusa da vida” resolveu abraçar a poesia e fazer dela sua amiga.
Em entrevista ao A NAÇÃO online, Wilma conta que foi justamente no mês de Março que escreveu o seu primeiro poema, num ambiente académico.
“Tratava-se de um trabalho escolar onde deveríamos de forma criativa definir Paz. Eu escolhi aventurar-me na poesia, e deu certo. Entre versos e rimas lá fui eu e nunca mais parei. Infelizmente, nunca mais encontrei aquele poema, mas foi com ele que dei o pontapé de saída neste mundo”, recorda.
A aventurar-se neste mundo desde os seus 14 anos de idade, os seus poemas são de temas diversos, transformando as suas vivências e tudo o que chama a sua atenção em obras de arte.
“Gosto de escrever sobre as minhas vivências e as dos outros, amores e dissabores da vida, histórias de superação, mundo feminino, riquezas da natureza, entre outras coisas. Às vezes simplesmente escrevo, livremente, sem tema, como uma forma de desafiar meu cérebro e, depois, fico a observar com admiração a obra de arte que ele construiu”, explica.
Fontes de inspiração
Wilma diz que neste mundo da poesia, a sua maior inspiração é a necessidade de escrever. Daí, utiliza todas as ferramentas que a vida lhe oferece para “cravar no papel o que dita minha alma”.
“Inspiro-me muito nas histórias que ouço, que vejo e que vivo. Inspiro-me também em pessoas e datas especiais. Às vezes, simplesmente expiro, cumprindo meu dever como escritora, mesmo que não sinta vontade”, acrescenta.
Tendo outros sonhos além da poesia, Wilma viajou para o Porto, Portugal, aos 17 anos, para dar continuidade à sua formação académica, depois de ter terminado o ensino secundário.
Licenciou-se em Audiologia pela Escola Superior de Saúde, mas como já era de se esperar, não deixou de lado a literatura, para ela “uma forma de expressar a sua visão, de sentir e impactar o mundo… uma pessoa, por vez”.
Ser poetisa para esta jovem talentosa é “ser um agente de cura, primeiramente para si mesmo e, depois, para o leitor”.
É também “ter um par de olhos a mais para ver além daquilo que é dito e feito e saber extrair de dentro de si a beleza e autenticidade…é ter um compromisso com a humanidade”, afir
“Menina de Cor”, seu primeiro livro
Em 2021, Wilma realizou o sonho de lançar o seu primeiro livro de poesia, exatamente 10 anos desde o dia em que começou a sonhar em ser escritora.
A obra intitulada “Menina de Cor”, sob a chancela da editora Cordel de Praia, foi lançada em Portugal e, recentemente, em Cabo Verde.
“Lançar o meu primeiro livro foi sem dúvidas uma das melhores experiências de minha vida…a realização de um sonho de adolescente. Ter chegado a este patamar deu-me mais motivação para não desistir dos outros sonhos que tenho na vida e para ser uma inspiração para outras pessoas”, conta a jovem que, em 2021, participou da antologia “Brisas de Primavera”, das edições “O Declamador” com 97 autores.
Desejo de lançar mais livros
Questionada se tem outros escritos na gaveta que pretende compilar em livros, Wilma que tem participado de diversas iniciativas sobre a poesia nas redes sociais responde positivamente: “Eu sigo escrevendo. Sou crente de que se eu parar, deixo de viver e passo apenas a existir. ‘Menina de Cor’ surgiu assim, de um compilado de poemas escritos soltos como folhas ao vento no outono. Tenho bem forte o desejo de escrever mais livros que falem de coisas que estão em vias de extinção como os valores e princípios”.
Sendo assim, diz que “por enquanto” não planejo “abandonar o género poesia” – “Na verdade, penso que mesmo que me aventure noutros géneros literários, a poesia sempre estará presente”.
“Literatura cabo-verdiana é rica e promissora”
Wilma Vieira vê a literatura cabo-verdiana como rica e promissora, salientando que “somos muito privilegiados pelo passado que nos foi deixado pelos autores que já coroaram nossa história”.
“Me alegro em ver como jovens escritores/poetas têm-se levantado e feito conhecer seus talentos. A nossa língua, cultura e identidade têm sido levadas a várias paradas pelas asas de nossos escritores. Meu sincero desejo é que nada disso se perca”, acrescenta.
Abraçar a literatura e a poesia
Para quem gosta de escrever, tanto quanto ela, incentiva a seguir “em frente”.
“Sei que às vezes parece que a escrita/poesia não é tão valorizada quanto devia, mas sempre encontrarás aquele grupo com o qual irás te identificar e que vai te motivar. Não desista no primeiro obstáculo. Explore a sua criatividade e habilidades, isso ajudará até mesmo na manutenção da saúde mental que tem sido cada vez mais escassa”.
E tendo em conta o Dia Mundial da Poesia celebrado hoje, 21 de Março, Wilma Vieira regozija-se que este género que tanto “ama” tenha um dia onde é lembrado. No entanto, diz que para ela o dia a poesia deve ser celebrada todos os dias.
“A poesia, com ou sem rimas, em prosa ou em versos, é o sal que traz sabor à vida. Para muitos, é uma válvula de escape, como para mim. Já salvou muitas vidas da mesmice. Que nunca entrem em extinção as forças que lutam para perpetuar esta arte”, termina.