O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse hoje, no Parlamento, que o Estado absorveu, direta e indiretamente, 80% do choque externo provocado pela inflação, agravado pela desvalorização do euro face ao dólar ocorrida em 2022.
José Ulisses Correia e Silva falava no âmbito do debate sobre a Inflação e Rendimentos das Famílias, no qual referiu que as medidas financeiras, fiscais e de regulação implementadas para mitigar os efeitos da inflação importada, permitiram que apenas 20% do choque chegasse aos consumidores.
“Devido às medidas tomadas pelo Governo, apenas 20% desse choque foi transmitido aos consumidores. O Estado absorveu, direta e indiretamente, 80% do choque”, frisou o governante, que lembra que, desde 2017, Cabo Verde tem sido exposto a choques climáticos, económicos e sociais com forte impacto no rendimento das famílias.
Contração económica com pandemia
Por outro lado, frisou que a pandemia da covid-19 provocou uma elevada contração económica, e que o Governo fez frente, através de medidas de proteção ao emprego e às empresas, da abrangência do Rendimento Social de Inclusão através do Rendimento Social de Inclusão Emergencial e do Rendimento Social Solidário, dirigido aos operadores do setor informal e do regime REMPE.
“Implementamos medidas financeiras, fiscais e de regulação para mitigar os efeitos da inflação importada que atingiu fortemente os preços dos combustíveis e da eletricidade e de produtos de primeira necessidade os cereais”, sublinhou, indicando que a inflação provocou, em Cabo Verde, um agravamento dos custos dos produtos energéticos em 2,1 milhões de contos.
Caso as medidas não fossem implementadas, defende Correia e Silva, os preços do gás butano, da gasolina, do gasóleo e da eletricidade teriam tido aumentos muito superiores aos registados.
Contribuição da agricultura no PIB diminuiu
As secas severas, segundo avançou o governante, provocaram uma quebra de produção agrícola, traduzida no peso da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB), que passou de 8,6% em 2016 para 4,9% em 2021.
Nesta conjuntura, recorda que o Governo implementou programas de mitigação dos efeitos da seca e dos maus anos agrícolas em benefício dos agricultores, criadores de animais e famílias das zonas rurais.
Aumentos “brutais”
Os produtos alimentares de primeira necessidade, lembrou, também foram fortemente afetados pela inflação importada, particularmente o milho, o trigo e óleos alimentares.
“Caso as medidas não tivessem sido tomadas, os preços do milho e da farinha de trigo em 2022 teriam aumentos de 19% e 28% respetivamente”, indicou, lembrando que recentemente o Governo acertou com a MOAVE uma redução de 14,4% do preço final da farinha de trigo para as panificadoras.
Em contexto “difícil” de crises conjugadas provocadas pelas secas severas, pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, Ulisses Correia e Silva diz que o Governo tomou medidas com impactos sobre os salários e as pensões dos trabalhadores, como, por exemplo, o alimento do salário mínimo, fixado agora nos 14 mil escudos.
Com uma previsão de inflação para 2023 em 3,7%, diz que o contexto ainda é de incertezas, mas que o Governo vai continuar a acompanhar a evolução dos mercados internacionais e tomar as medidas adicionais de proteção.