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Política

Pensamento de Amílcar Cabral é “uma bela lição para a política em Cabo Verde hoje”, diz José Maria Neves

O Presidente da República, José Maria Neves, considera que o pensamento de Cabral é “uma bela lição para a política em Cabo Verde hoje” e uma resposta para as diferentes questões e os desafios que acontecem actualmente no mundo.

“Basta ler as referências que Cabral faz à questão da seca em Cabo Verde e as medidas que devem ser tomadas, basta ver as sugestões que Cabral faz em relação à administração nas zonas libertadas e as medidas que tinham de ser tomadas para melhorar a qualidade da prestação de serviços nas áreas libertadas, afirmou José Maria Neves, este Sábado, na cerimónia de atribuição, a título póstumo, do grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral, realizada pela Universidade do Mindelo (UM), em comemoração ao 20º aniversário daquela instituição de ensino superior.

O Presidente da República que fez questão de “trazer Cabral para os dias de hoje”, apontou vários outros aspectos do seu vasto legado, nomeadamente a sua “pedagogia política” e faceta de “grande multilateralista que defendia as Nações Unidas, o direito internacional e a solução negociada dos conflitos”

“Basta ver a insistência de Cabral na discussão, no diálogo. Ele diz em 71 que a política é contradição, mas também é discussão é possibilidade para a construção de pontos e de consenso”, argumentou José Maria Neves, considerando que a profundidade da análise dos escritos de Amílcar Cabral ajuda a formular as questões que devem ser respondidas nos tempos de hoje.

“Hoje vivemos um momento de poli crise. Temos a crise ambiental, temos em Cabo Verde secas cada vez mais severas, temos os conflitos, as guerras, a pobreza, as desigualdades, os desafios que o continente africano ainda tem, vivendo um pouco à margem do que acontece no mundo. Então, lendo Cabral encontraremos as respostas para os desafios de hoje”, sublinhou José Maria Neves.

Presidente de Portugal destaca méritos de Cabral 

Por sua vez, o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, convidado a fazer o elogio académico, mostrou-se “privilegiado” com o convite, considerando que a atribuição, a título póstumo, do grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral é a consagração dos seus méritos no saber, na militância cívica e na personalidade moral.

Marcelo Rebelo de Sousa também manifestou o seu “júbilo” por regressar à cidade do Mindelo, recordando Cesária, saudando Kiki Lima, relendo Onésimo Silveira ou Germano Almeida e admirando o Centro Nacional de Arte Artesanato e Design (CNAD).

Segundo o Presidente português a distinção a Amílcar Cabral poderia ser em qualquer parte do mundo, como Bafatá, em Santa Catarina de Santiago, na Praia, em Lisboa, Santarém, Angola, Bissau ou Conacri. Mas, opinou, tinha de ser na cidade do Mindelo onde Amílcar Cabral terminou o liceu há 80 anos.

“Poderia ser em qualquer parte do mundo porque Amílcar Cabral foi e será de todo ele. Tal como a paz, a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a tolerância, o diálogo que o fizeram grande entre os grandes, mas tinha de ser aqui no Mindelo pela mão de uma universidade, por natureza universal e portadora dos seus valores, em encontro de universitários”, sentenciou o Chefe de Estado português, acrescentando que, no Mindelo, Amílcar Cabral recebe a consagração dos seus méritos no saber, na militância cívica, na personalidade moral.

“O seu doutoramento Honoris Causa é isso mesmo. Gratidão, homenagem, proclamação de exemplo. Ao estudioso, ao cientista, ao teórico e ao prático, ao especialista e ao humanista, ao pensador e ao homem do terreno, das pessoas de carne e de osso, ao universitário da universidade dos livros, e ao universitário da universidade da vida”, argumentou o Presidente da República portuguesa.

Pedro Pires foi padrinho da cerimónia

O comandante Pedro Pires, ex-Presidente da República de Cabo Verde, actual presidente da Fundação Amílcar Cabral, colega de Amílcar Cabral na luta colonial e padrinho da cerimónia, 

revisitou, na ocasião, o percurso pessoal de Amílcar Cabral, o convívio, a colaboração e a cumplicidade política de ambos na luta de libertação nacional.

O também ex-Primeiro Ministro de Cabo Verde nos primeiros 15 anos de independência, destacou em Amílcar Cabral aspectos como “a formação da sua personalidade singular e de cidadão, de combatente anticolonialista de estratega político e militar, de pensador e humanista, de líder e condutores de homens, seus companheiros de arma ao serviço da nossa libertação”.

Sublinhou, igualmente, que a presença dos dois chefes de Estado, de Portugal e de Cabo Verde, “empresta à cerimónia uma expressão engrandecida de grande alcance cultural e político”.

Universidade do Mindelo e a distinção a Amílcar Cabral

Apesar de normalmente distinguir, ainda em vida, personalidades contemporâneas, o reitor da Universidade do Mindelo Albertino Graça, destacou que o conselho científico da instituição decidiu distinguir Amílcar Cabral para “reconhecer e iluminar a sua faceta científica de pensador e pedagogo na abordagem de questões políticas e sociais, no quadro da sua participação no processo histórico da emancipação dos povos oprimidos, em especial, pela afirmação e reconhecimento das nações cabo-verdiana e guineense”.

“Foi uma personalidade de múltiplas facetas, um pensador internacionalmente reconhecido e bastante estudado por muitos analistas políticos e sociais e uma figura distinguida por vários países, várias universidades e várias instituições internacionais”, acrescentou o reitor Albertino Graça.

Refira-se que apesar de não se ter deslocado a Mindelo, São Vicente, a filha de Amílcar Cabral, Iva Cabral, agradeceu a distinção numa intervenção através de registo em vídeo.

C/Inforpress

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