Os agricultores e criadores de gado em Santo Antão estão com as esperanças renovadas depois da queda das últimas chuvas na ilha. A perspectiva é de boa produção agrícola e pecuária, mas o medo das pragas ainda não dá garantias e deixa os homens do campo em meio a incertezas. Para já, os criadores de gado já começaram a reduzir custos com a ração e as sementeiras continuam, apesar da queixa de falta mão-de-obra para o trabalho agrícola.
Aqueda das últimas chuvas em Cabo Verde trouxe alívio aos homens do campo. Em Santo Antão, os agricultores e pecuaristas renovaram as esperanças, depois de quase cinco anos de escassez de água e de pasto, incrementados com crises sanitárias e humanitárias que afectam o país.
Os municípios da Ribeira Grande e do Paul têm sido os mais contemplados com as chuvas. No município do Porto Novo também já choveu, porém em menor quantidade. Cada pingo de chuva tem sido recebido com muita alegria e entusiasmo por quem sentiu na pele os efeitos desastrosos da seca.
“Boas perspectivas”
A perspectiva de boa produção agrícola é alta, seja no regadio, seja no sequeiro. Nos planaltos leste e norte da ilha os agricultores asseguram que a sementeira já está garantida, muitas feitas em pó, como avançou ao A NAÇÃO António Pinto, agricultor em Lagoa, no Planalto Leste.
No Planalto Norte muitos agricultores só agora iniciam as sementeiras, isto devido a incerteza da chuva. Agora, o excesso de monda nos terrenos começa a dar “algum trabalho” na sementeira, segundo disse Fidel Castro, agricultor em Chã de Cruz.
Receio das pragas
Apesar da quantidade considerável de chuva que caiu nas últimas semanas e com a previsão de mais chuva para o arquipélago, os agricultores temem, de alguma forma, a propagação de pragas nos cultivos, como tem sido hábito em algumas localidades.
Para o agricultor Arlindo Delgado, na Ribeira das Patas, Porto Novo, apesar das boas previsões agrícolas, o Ministério da Agricultura deve estar em alerta para evitar a propagação de pragas de antemão.
“O nosso maior receio é ter o nosso cultivo destruído por pragas. Não adianta ter boa chuva se não há muito combate as pragas.
O Ministério da Agricultura e os agricultores devem estar atentos e em alerta para evitar a propagação de pragas”, alerta este agricultor.
Os agricultores têm também enfrentado o problema da falta de mão-de-obra para trabalho agrí-cola. Com a queda das chuvas, são vários os agricultores e proprietários de terrenos agrícolas que tem estado à procura de trabalhadores, mas as buscas têm se revelado em vão. O problema de mão-de-obra se dá devido ao aumento da procura neste período e da pouca disponibilidade de trabalhadores.
Criadores reduzem custo com ração
Já os criadores de gado têm motivos para celebrar. Depois de anos a enfrentar falta de água e de pasto, bem como constrangimentos com os vale-cheques do MAA, os pecuaristas já começam a sentir o impacto das últimas chuvas no bolso.
O surgimento de pasto, que aumenta todos os dias, tem possibilitado a diminuição do custo com ração, mas também refletido no aumento da produção de leite e queijo, como adianta o criador e representante dos criadores de gado do Porto Novo, Romeu Rodrigues.
Se em tempos estavam a vender o gado ao desbarato numa tentativa de evitar a morte por desnutrição, agora, com a chuva, os tempos parecem outros, com criadores mais animados e esperançosos e agricultores confiantes numa boa colheita.
Chuva faz aumentar procura por paisagens e queda de água
A queda das chuvas fez surgir um “novo Santo Antão”. As últimas chuvas que caíram na ilha trouxeram de volta a paisagem verdejante e aumentou a disponibilidade de água nas ribeiras, vales e nascentes.
O cenário paradisíaco que se vê em fotos torna-se num convite para descobrir a ilha.
Muitas pessoas de outras ilhas e de Santo Antão, inclusive, têm procurado paisagens e cachoeiras, principalmente as do Paul e da Ribeira da Torre, para o seu regalo.
A chuva aumentou o turismo interno para Santo Antão que, nestes últimos dias, além dos agricultores e pecuaristas estarem felizes, os promotores económicos têm também se mostrado satisfeitos com o pulsar económico provocado pelo aumento de visitantes.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 785, de 15 de Setembro de 2022
