Jeremias Reis Tavares (Professor e Activista Social, São Domingos)
– O Estado da Nação não é o ideal. A inflação aumentou, o poder de compra diminuiu de forma drástica, há cada vez mais pessoas em situações de vulnerabilidade e pobreza extrema, o desemprego, que afecta sobretudo a juventude e as mulheres, e ainda deparamos com graves problemas de insegurança, causados pela onda de violência e criminalidade urbana. E há outros problemas como o endividamento excessivo do país (quem pagará as contas será o povo) e nem tudo é culpa da pandemia. Os sectores da saúde e da educação precisam de uma atenção séria, porque só definir a “qualidade” como lema do ano lectivo não chega.
A falta de resolução dos problemas na raiz e a inversão das prioridades, a falta de transparência na gestão pública e a nossa conivência como povo que simplesmente se cala, não nos deixa estar num bom caminho e os culpados somos todos nós.
Como cidadão, activista social e bolseiro do YALI 2017, tenho organizado fóruns, debates e conversas abertas, projectos sociais na área de desenvolvimento comunitário e empreendedorismo social. Como professor, tento trazer assuntos do quotidiano para o debate nas salas de aulas, para que a nova geração possa crescer com maior consciência cívica e participativa.
Carlos Lopes (agente cultural, Porto Novo)
– Neste momento o Estado da Nação é instável e não está favorável, principalmente, para jovens que querem investir. Fala-se em oportunidades, mas as oportunidades continuam não ser para todos. O país poderia estar melhor se as políticas apresentadas pelo Governo saíssem do papel.
Não há uma política clara de desenvolvimento e quando isso não acontece ficamos aquém das expectativas de crescimento. Tenho dado o meu contributo através da cultura e acredito que a cultura também pode ajudar no crescimento do país.
Elodie Gamboa Leal (Psicóloga, Praia)
– A nação cabo-verdiana está numa situação crítica. Há falta de emprego, ainda por cima, continuam barreiras burocráticas e tecnológicas para o desenvolvimento. Devemos apostar mais na educação. Não faz sentido culpar indivíduos ou instituições por uma crise nacional, porque é de responsabilidade individual face à presente situação.
Eu faço a minha parte e ainda, às vezes, faço a dos outros. Como digo, a mudança terá que ser em todos, buscando alternativas e estratégias que possam ser benéficas, tanto para o país, como para aqueles que nele habitam ou não. Uma das soluções viáveis para contornar a crise actual é apelar ao empreendedorismo.
Odailson Bandeira (engenheiro agrónomo, São Vicente)
– Enquanto cidadão comum, mas atento às dinâmicas sociais e económicas do meu país, muito honestamente, o Estado da Nação é muito preocupante. Não só pelo fraco desempenho do Governo em sectores-chaves (agricultura, transporte inter-ilhas, justiça, a educação, a energia…), mas também por causa dos sucessivos anos de seca, da pandemia e da guerra que gerou uma tripla crise (económica, energética e alimentar) agravando de forma drástica o custo de vida das famílias.
Portanto, creio quer o Governo, quer a oposição devem ser honestos com os cabo-verdianos e informar o seu povo qual é o verdadeiro Estado da Nação, até para que cada um tenha a real consciência de qual será́ o nível de sacrifício que deverá se submeter de modo a poder enfrentar os dias desse futuro cada vez mais incerto.
Domingos Rodrigues (Professor, Santo Antão)
– Cabo Verde não está a desenvolver. Tem-se passado uma imagem de desenvolvimento mas é uma farsa. Cabo Verde teve algum crescimento, o que não significa desenvolvimento. Desenvolvimento é quanto as pessoas têm emprego digno e bem remunerado, acesso à saúde, alimentação, habitação e educação. Segundo o INE, 30% da população está mergulhada na miséria, sem falar dos que estão na categoria de pobres.
Precisamos de uma justiça não politizada que mete todos os políticos vagabundos na cadeia. Aí é que reside o mal. O país está a retroceder, não há nada de evolução. Tenho dado a minha contribuição na educação, mas não está fácil visto que o Ministério da Educação está mais preocupado com a quantidade do que com a qualidade da educação.
Silvino Lopes Évora – Professor Universitário e investigador, Praia
– Cabo Verde está a viver numa espécie de rotunda, com várias vias de saída, esperando a direcção que o futuro poderá sugerir. Tem que se saber escolher a via que leva ao destino sonhado e desejado. O tempo atual é de incerteza a vários níveis.
O país deveria estar melhor. Se chegamos até aqui e, considerando o homem é falível nas suas decisões e opções, claramente que sempre se poderá estar num patamar mais acima do que se encontra.
Muitas vezes, perde-se muito tempo nos diagnósticos e pouco se faz para a materialização. Discursos sobretudo políticos que introduzem chavões conjunturais nas narrativas públicas não tem sido traduzido em instrumento concreto de transformação da sociedade.
Enquanto formador, a minha responsabilidade é contribuir para que tenhamos, ainda, homens e mulheres, que participem no processo de transformação social com um pensamento divergente, disruptivo e construtivo, no sentido de não continuarmos a alimentar um país de mesmices. Porém, existem níveis de intervenções mais emergentes, uma vez que as transformações sociais acontecem de forma lenta. Para os setores mais emergentes, outras pessoas, com certeza, têm nas mãos as responsabilidades e condução dos processos sociais.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 778, de 28 de Julho de 2022