Há fortes indícios de que em Santo Antão (Porto Novo) e Santiago Sul (Praia, Ribeira Grande e São Domingos), 20 a 30% da população esteja em situação de “insegurança alimentar aguda”. Fora isso, estima-se que mais de 10% dos cabo-verdianos serão confrontados, a breve trecho, com tal quadro, o que corresponde a cerca de 50 mil indivíduos com dificuldades de levarem a panela ao lume.
Conforme informações apuradas por este semanário, “insegurança alimentar aguda” é quando as pessoas começam a vender bens para se alimentarem.
Os anos de seca, a recessão provocada pela covi-19 e agora a guerra na Ucrânia, a par do aumento da pobreza, estão entre as razões da crise alimentar que está a assolar Cabo Verde, um país que mesmo em períodos de boa produção agrícola importa mais de 80 por cento (%) das suas necessidades de consumo.
Vários dias sem comer
O ministro da Agricultura e Ambiente admitiu esta semana, numa entrevista à RCV, que cerca de 9% da população está a ter dificuldades em ter uma alimentação equilibrada. Segundo os dados avançados por Gilberto Silva, cerca de sete mil famílias, num total de 30 mil indivíduos, estão a ter dificuldades em ter uma alimentação equilibrada.
Este governante citou o chamado “quadro harmonizado”, uma metodologia de avaliação da segurança alimentar na região africana aplicado pela FAO. “Este quadro harmonizado aponta hoje para cerca de 30 mil pessoas na chamada fase três de crise alimentar”, o que significa que “as pessoas podem passar vários dias sem suprir as suas necessidades energéticas”.
Para contornar a situação, conforme Gilberto Silva, o Governo decidiu abrir “frentes de emprego público”, a partir do mês de Julho, e já mobilizou verbas para o efeito. “São cerca de 231 mil contos, que irão ser empregues em três meses, o que significa que o programa deve arrancar no mês de Julho e terminar em finais de Setembro”.
A expectativa, uma vez mais, é que as chuvas venham a ajudar a debelar a situação agrícola, sobretudo neste momento em que a produção alimentar mundial se encontra em colapso por causa da guerra na Ucrânia.
A cidade da Praia não descura também, segundo aquele ministro, a assistência directa a famílias através de organizações da sociedade civil e confissões religiosas, várias das quais têm vindo a relatar situações de dificuldades extremas, uma informação nem sempre do agrado do Governo.
Programa Alimentar escolar
Por seu turno, dados recentes da FAO estimam que mais de 10% da população cabo-verdiana será confrontada com insegurança alimentar aguda entre Junho e Agosto de 2022, um quadro que se repete nos demais países do Sahel.
Aquela agência das Nações Unidas fez saber que realizou recentemente uma missão conjunta com o PAM (Programa Alimentar Mundial) a Cabo Verde na sequência de um pedido de apoio do Governo. A conclusão é que a situação mais crítica são nas ilhas de Santiago e Santo Antão.
“A FAO, juntamente com os outros parceiros, está a apoiar o Governo na mobilização de recursos financeiros para salvaguardar os rendimentos das pessoas e seus meios de subsistência”, diz uma fonte dessa agência. “O programa alimentar escolar poderá ser apoiado pelo PAM, de momento, apenas no ensino básico, com refeições quentes no âmbito do programa implementado pela FICASE”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 772, de 16 de Junho de 2022