Um grupo de mulheres, trabalhadoras no perímetro florestal do Planalto Leste, Santo Antão, voltam a reclamar por salário digno. Ganham, por dia, 249 escudos do Ministério da Agricultura e Ambiente, cerca de cinco mil escudos por mês, sem proteção legal ou providência social. Algumas passam fome.
São mulheres e chefes de famílias revoltadas com um salário considerado precário, há mais de 30 anos e mergulhadas em dificuldades económicas.
“Trabalho escravo”
Joana Neves, trabalhadora, há 35 anos no perímetro florestal, fala mesmo em trabalho escravo.
“Há 35 anos que trabalho nas mesmas condições, com um salário precário. O Governo fala tanto em reduzir a pobreza, mas para nós, no meio rural, esta redução nunca chega. Trabalhamos como escravos, a escravatura nunca acabou. Só faltam nos prender e nos chicotear, porque mesmo doentes temos de trabalhar”, conta a trabalhadora rural.
Sustento
Por sua vez, Orlandina Fortes, também trabalhadora no perímetro, fala das dificuldades de sustentar os filhos e pagar as despesas, em tempos de seca e de conjuntura económica desfavorável.
“Trabalho sem comer porque muitas vezes não há nada para comer. Trabalhamos duro aqui e o nosso trabalho não é reconhecido”, expressa indignada.
Medo da Fome
O jornal A Nação esteve no mês de março no perímetro florestal do Planalto Leste e constatou a dificuldade que mulheres e homens do perímetro têm passado para levar a panela ao lume.
Na ocasião conversamos com Joana Batista e Francisca dos Santos, ambas relataram medo da fome.
“Tenho medo da fome. Meu rendimento é uma vergonha. Somos dez em casa e apenas eu trabalho. É quase impossível sustentar a família com esse rendimento”, disse Francisca dos Santos, de 55 anos.
Por sua vez, Joana Batista diz que faz de tudo para que o salário garanta, pelo menos, um saco de arroz e sal para enganar a fome e arcar com custo de transporte e eletricidade.
Todos os trabalhadores deste perímetro estão revoltados e pedem, com urgência, um aumento salarial e melhoria das condições de trabalho.