O Presidente da República de Cabo Verde deixou hoje uma mensagem aos trabalhadores cabo-verdianos, neste dia 1 de Maio, em que se assinala o Dia Internacional do Trabalhador. O chefe de Estado recorda que os três anos de seca severa, dois anos de pandemia (ainda em curso) e a guerra na Ucrânia resultaram em queda do PIB, mais desemprego e crescente inflação, com um efeito devastador na vida dos nossos trabalhadores e das suas respetivas famílias.
Por ocasião do Dia Internacional do Trabalhador, que se assinala neste domingo, 1º de Maio, José Maria Neves apela ao Estado, os Municípios, às ONG’s, as Igrejas, as empresas (públicas e privadas), e aos sindicatos, entre outras instituições, a darem as mãos e socorrerem os que estão a atravessar momentos de grande fragilidade, inclusive de privação de alimentos, neste momento de crise.
“Em Cabo Verde, quando se fala do Dia do Trabalhador, geralmente imaginamos alegria, comemorações e muita confraternização. Este ano, infelizmente, o 1o de maio deixa- nos poucos motivos para celebrar. A realidade hoje vivenciada por muitos trabalhadores não constava das nossas previsões mais pessimistas, de há um par de anos”, começa por dizer, JMN.
Uma série “bastante improvável e consecutiva de ocorrências incrivelmente desfavoráveis” para a economia nacional, recorda o Chefe de Esatdo, “tiveram um efeito devastador na vida dos nossos trabalhadores e das suas respetivas famílias”.
Três anos de seca severa, dois anos de pandemia (ainda em curso) e a guerra na Ucrânia resultaram em queda do PIB (que em 2020 já era de 14,8%), mais desemprego e crescente inflação.
Drama social
“Não é difícil de imaginar, principalmente, o sentimento e o estado de carência dos chefes de família que perderam os seus postos de trabalho e de muitas famílias que hoje dispõem de muito pouco, ou mesmo nenhum tipo de rendimento, estando mesmo em causa a satisfação das necessidades mais básicas”, alertou.
José Maria Neves afirma que perante este contexto, “estamos perante um drama social cujo impacto é mais sentido pela população de rendimento baixo, cuja erosão do poder de compra a torna incapaz de adquirir os produtos de primeira necessidade”.
“Temos plena consciência de que muitos desses lares, que têm passado por momentos de penúria, são chefiados por mulheres, e que a pobreza tem o rosto feminino”, reconhece JMN, lembrando que são pessoas que se dedicam à agricultura de subsistência, pecuária, venda ambulante, ou outras
atividades similares, “duramente atingidas por esta crise persistente”, sendo que, estas mulheres, “que carregam Cabo Verde às costas, muito mais do que bons propósitos, clamam por ações concretas, com impacto nas suas vidas e que possam concorrer para a resolução dos seus problemas mais ingentes”.
Se por um lado está a ser posta à prova a capacidade de sacrifício e de resistência das pessoas mais vulneráveis, o Chefe de Estado apela, que também não deixa de ser o momento de todos os cabo- verdianos, residentes e na diáspora, mais uma vez, “demonstrarem toda a sua compaixão, empatia, solidariedade, generosidade e sentimento de partilha para cotodos os que estão a atravessar um momento de dificuldade e de provação”.
O cabo-verdiano, diz JMN, “é feito de uma fibra que não lhe permite baixar os braços, cair em desânimo ou capitular perante obstáculos”.
“Tenho a certeza de que, com o recurso às qualidades mais nobres deste povo, muito rapidamente, o que é hoje uma esperança de dias melhores, muito em breve deixará de ser uma miragem, para se transformar numa firmeza em dias melhores, de felicidade e de progresso para todos”.
Contudo, admite que os trabalhadores têm vindo a conviver de “forma cada vez mais acentuada”, com o “desemprego, emprego precário e a perda de poder de compra”.
Cultura da poupança
Perante uma realidade tão adversa, diz, o lema de que “juntos somos mais fortes”, sugere uma sindicalização mais generalizada como a melhor maneira de os trabalhadores se unirem, de forma coletiva e em coligação de esforços, em defesa das causas que lhes dizem respeito”. E, para isso, afirma, “quanto mais representativos e vigorosos forem os sindicatos, tanto melhor estes conseguirão representar e defender os seus filiados”.
O momento, destaca, “é o mais apropriado para a preservação e o reforço das instituições sindicais, que estão alicerçadas na história, graças aos contributos decisivos para a afirmação do sindicalismo em Cabo Verde. Pelo contrário, fragilizar o sindicalismo é fragilizar o trabalhador”.
Assim, deixa um “veemente apelo” para que, “de forma serena, com capacidade de diálogo e equilíbrio possam ser encontrados os melhores caminhos de convergência, que dignifiquem e reforcem os sindicatos, que são pilares do Estado de Direito Democrático.
O Chefe de Estado reforça ainda que “há que ter a exata noção da realidade” que se vive e de se “interiorizar a cultura de poupança, de racionalização e de busca de eficácia no uso dos recursos e na concretização dos objetivos preconizados”.
“Faço votos para que, no próximo ano, sem seca, pandemia ou guerra, esta crise já tenha sido ultrapassada e que tenhamos fundadas razões para celebrar o 1o de maio com paz, alegria, emprego para os trabalhadores e confiança no futuro”, finaliza.