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Sociedade

JMN destaca “grande ousadia” e “utilidade pública” dos media privados

O Presidente da República, que ontem visitou as instalações do A NAÇÃO, reconheceu o crescimento do sector da comunicação social no país, destacando a “grande ousadia” do sector privado, apesar dos constrangimentos e desafios que enfrentam. Em mais de trinta anos de regime democrático, esta é a primeira vez que um chefe de Estado realiza uma visita do género.

Nove anos após inaugurar a sede do Grupo ALFA, na Cidadela, Cidade da Praia, onde funciona o A NAÇÃO, na altura como primeiro-ministro, o agora Presidente da República volta a visitar este jornal, no quadro da visita que efectuou esta quarta-feira, 27, aos órgãos privados de comunicação social, no âmbito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se assinala a 3 de Maio.

Problemas e desafios

José Maria Neves, que no período da manhã visitou outros órgãos privados, deixando para o período da tarde o A NAÇAO, reiterou a necessidade de um quadro legislativo mais favorável ao desenvolvimento e afirmação desses meios. JMN fez-se acompanhar pelo seu chefe da Casa Civil, Jorge Tolentino, além de assessores. 

 “Os problemas e desafios são os mesmos para que a imprensa privada se afirme. É preciso efectivamente um ambiente muito mais amigo do sector privado”, defendeu ao A NAÇÃO.

“Só teremos uma democracia de mais qualidade e um ecossistema intelectual capaz de contribuir para acelerar o passo no processo de transformação de Cabo Verde, só teremos muito mais vigor espiritual no país, se consolidarmos o sector privado da comunicação social”, acrescentou.

JMN considera que é de “utilidade pública” o serviço prestado pelos media privados, daí defender que é necessário garantir os apoios, no quadro de uma estratégia de qualificação da democracia e política cabo-verdiana, bem como da qualificação de políticas públicas para o desenvolvimento do país.

“Grande ousadia” dos média privados

Relativamente ao próprio exercício do jornalismo, actualmente praticado no país, o chefe de Estado não só elogiou a “grande ousadia” que o sector privado tem manifestado, na abordagem de determinados assuntos, mas também a sua ousadia, coragem e ainda “grande capacidade de resiliência”.

Isto tendo em conta o escasso mercado existente, “trazendo mais gente e melhorando a qualidade na prestação dos serviços à sociedade”.

“Claro que há enormes constrangimentos, designadamente a nível da sustentabilidade desses órgãos, havendo igualmente a necessidade de termos a consolidação desse pluralismo que deve existir na comunicação social cabo-verdiana”, acrescentou.

 Combate à censura e auto-censura

Sobre a questão da censura, mais concretamente da autocensura, várias vezes apontada pelas entidades que monitoram a liberdade de imprensa em Cabo Verde, o Chefe do Estado reconheceu que existe “algum medo” na comunicação social, no geral, alertando ainda que “existem órgãos públicos que são os maiores do país, excessivamente governamentalizados”.

JMN afirmou ainda que “há denúncias e todos os relatórios de autocensura” mas que isto acontece porque, no país, há ainda “uma excessiva dependência da sociedade e do cidadão em relação ao Estado”, referindo-se também “às empresas, aos órgãos de comunicação social, etc.”.

“É preciso libertar-nos das restrições que o Estado ainda coloca à sociedade e aos cidadãos. Emponderando a sociedade e os cidadãos teremos governanças mais sustentáveis e mais democracia no país”, terminou.

De relembrar que estas visitas do PR aos órgãos privados, sedeados na Praia, enquadram-se numa uma série de contactos directos com o sector da comunicação no âmbito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Uma oportunidade que considera “ímpar” para inteirar-se das “preocupações e dos grandes desafios” que se colocam ao desenvolvido do sector privado da comunicação social, que, ao longo dos anos, tem desempenhado “um papel importante no país”.

Primeira vez

A visita de ontem, quarta-feira, 25, abarcou televisões privadas (TVA, TIVER E RECORD), as rádios (Crioula FM e Comercial), e os jornais (Expresso das Ilhas e A NAÇÃO).

Em 31 anos de regime democrático, esta é a primeira vez que um chefe de Estado realiza uma visita do género aos meios privados da comunicação social.

Fernando Ortet “expectante” no apoio que o PR pode prestar aos media privados

O presidente do Grupo Alfa, Fernando Ortet, diz-se “muito esperançoso” no poder de influenciação que o Presidente da República poderá ter na resolução de alguns problemas “estruturantes” que se colocam ao sector privado da comunicação social de Cabo Verde.

“Sabemos que ele não é o Governo mas acreditamos que tem possibilidades de sensibilizar, influenciar e ajudar-nos a vencer os desafios existentes”, disse, na sequencia da visita de José Maria Neves, ontem, às instalações do jornal A Nação, que faz parte do Grupo Alfa, na Cidadela.  

Fernando Ortet, que é também presidente da Associação dos Média Privados de Cabo Verde (AMPCV), expressou que ficou satisfeito com a visita do PR, que aconteceu numa altura em que o grande problema que se coloca ao sector tem a ver com a sua sustentabilidade financeira, tendo em conta que o grosso dos recursos, nomeadamente publicitários, vai todo para a comunicação social pública.

No entanto, defendeu, “todos nós – da comunicação social do Estado e dos  privados-, trabalhamos para a esfera pública, para informar melhor os cabo-verdianos, para reforçar a democracia, e para aumentar o grau de cidadania do nosso povo”. 

“Sabemos que os meios de comunicação social privados não vão poder cobrir todas as ilhas, todos os municípios e todos os cantos do país, porque não têm recursos. Mas, achamos que se o Estado disponibilizar aos órgãos de comunicação social privados 10 a 15 por cento (%) dos recursos que disponibiliza aos órgãos públicos, a qualidade da informação e da democracia vão melhorar de uma forma que será perceptível por todos”, terminou.

“A NAÇÃO precisou adaptar-se para sobreviver à pandemia” – Fernando Ortet

À margem da visita do Presidente da República à redacção do nosso Jornal, o presidente do Grupo Alfa abordou o facto de o A NAÇÃO não estar a sair na versão papel, desde a altura da pandemia, conforme o desejo de muitos leitores. 

“Houve uma situação da pandemia em que oficialmente estamos a ter retomas, mas ainda com muitas precauções. Aliás, tendo em conta a realidade, na altura, entre fechar e passar a produzir em digital, optamos por esta segunda hipótese. Graças a esta decisão, conseguimos sobreviver”.

Entretanto, diz Fernando Ortet, mesmo com o fim da covid-19, os velhos problemas com os transportes, quer do exterior para Cabo Verde, quer internamente, continuam. Sendo o jornal impresso em Portugal, transportado de avião para Praia, e da Praia para as outras ilhas, os custos desses dois factores aumentaram grandemente, aliás aumentaram em mais de 400%.

“Além disso, continuamos a não ter transportes regulares entre as ilhas”, lembrou Ortet, para quem, sem se resolver certos estrangulamentos, “não vale a pena fazer um semanário em papel para depois não chegar aos utentes em tempo útil”.

Do ponto de vista financeiro, Ortet diz que A NAÇÃO teve de fazer das “tripas coração” para poder enfrentar certas dificuldades, tendo em conta que há dois anos que o jornal deixou de ser colocado nas bancas. No entanto, do ponto de vista do reconhecimento público do jornal, mesmo no digital, é de longe maior.

“Antes da pandemia, com total de 3500 exemplares impressos, nós só podíamos ter um alcance médio de 7 mil pessoas, na melhor das hipóteses. Hoje, com o digital, no mesmo dia, no mesmo minuto, conseguimos pôr o jornal em todo o mundo, para todos aqueles que estiverem interessados em saber o que se passa em Cabo Verde. Distribuimos o mesmo conteúdo do jornal impresso, em suporte PDF para mais de 15.000 leitores. Além disso, esta é uma tendência geral, no mundo inteiro”, explicou.

Entretanto, no meio disso tudo, “é preciso saber que os jornais, particularmente o A NAÇÃO, fizeram um esforço financeiro muito grande não só para sobreviver, continuando a pagar aos seus funcionários, como também para se adaptarem à nova realidade imposta pela covid-19, que ainda não está de todo superada. Da nossa parte vamos continuar a acompanhar a situação e ver como agir quando o momento for o mais indicado”.

Enquanto isso não acontece, o Grupo Alfa continua a apostar em novos projectos. Um dos quais uma estação radiofónica, Rádio Alfa, cujo início está previsto para Setembro.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 765, de 28 de Abril de 2022

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