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Sociedade

Sobreviventes de cancro desafiam comunicação social a fazer novas abordagens sobre a doença no país

Um grupo de mulheres “guerreiras”, sobreviventes do cancro desafiou neste sábado,19, a comunicação social a fazer uma abordagem “mais profunda e esclarecedora” da doença no país, para que a sociedade esteja “melhor informada”, mitigando assim os tabus à volta da doença. O desafio foi lançado numa conversa aberta sobre a “abordagem do cancro em Cabo Verde” que decorreu hoje na sede da Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), na Praia.

Conversar abertamente sobre os desafios das novas abordagens que se precisa no país sobre o cancro, por parte da Comunicação Social foi o mote deste encontro, uma iniciativa de um grupo de sobreviventes do cancro, em parceria com a AJOC e o portal Balai Cabo Verde.

O encontro foi avaliado positivamente pelos participantes, mulheres “vencedoras” do cancro, profissionais da comunicação social, oncologistas e membros da Associação Cabo-verdiana de Luta contra o Cancro (ACLCC).

Fátima Barbosa, uma das sobreviventes do cancro e mentora desta iniciativa, explicou à imprensa que essa ideia surgiu há dois anos, consistindo, primeiramente, em reunir várias instituições que de uma maneira ou de outra lidam com a doença, mas que, entretanto, não foi possível devido à pandemia da covid-19.

Neste sentido, partilhou, no ano passado, esta ideia com o portal “Balai Cabo Verde”, que, posteriormente, apresentou este conceito à AJOC, e optaram por fazer, numa primeira fase, o encontro só com profissionais de comunicação social.

“Uma das instituições que mais queríamos envolver nesta questão é realmente a comunicação social, uma vez que, sobretudo em Cabo Verde, penso que televisão e rádio têm um enorme alcance e conseguem atingir todos os cantos do país. Então, pensamos ser importante que a comunicação social esteja mais activa, mais presente em tudo o que é questão de cancro”, justificou Fátima Barbosa.

Quebrar estigmas

A mesma reconheceu, igualmente, que a comunicação social não consegue agir sozinha, por isso que, frisou, à priori a intenção era que todas as instituições ligadas a esta matéria e profissionais de saúde estivessem presentes neste encontro, para serem alertados também da importância de dar o suporte aos jornalistas.

Fátima Barbosa recebeu o diagnóstico de cancro em Portugal, onde se encontrava de férias, e, conforme relatou, fez cirurgia-tumorectomia antes de vir para Cabo Verde, tendo regressado ao país para tratar de questões ligadas à evacuação, regressando novamente a Portugal para fazer quimioterapia e radioterapia.

Pelo que contou, o primeiro impacto é sempre “terrível”, mas teve apoio do médico, que lhe mostrou que havia probabilidade de ser tratada, e hoje, Barbosa apela às mulheres a investirem na prevenção.

“Todo investimento deve ser feito na sensibilização para que as pessoas mudem os seus comportamentos. Devemos trabalhar em conjunto para quebrar o tabu e estigma que existe à volta do cancro”, exortou.

Abrir caminho a novas abordagens

Para além de outros testemunhos de mulheres que lutam contra o cancro, o encontro ficou marcado também por intervenções dos jornalistas que referiram as dificuldades de acesso às fontes de informação, intervenção de médicos oncologistas sobre a realidade de cuidar de pacientes oncológicos, sistema de saúde, entre outros assunto pertinentes e esclarecedores, mas que caregem de abordagens mais profundas, como as evacuações para Dakar ou as próprias evacuações de doentes de cancro de outras ilhas, para a cidade da Praia.

Pelo seu turno, a AJOC diz ter aceite o desafio lançado por reconhecer que é preciso abrir novos caminhos e novas abordagens do cancro nos meios de comunicação social, reconhecendo que de facto, as feitas, na maioria das vezes, não são tão profundas quanto deviam, e se focam muito nas efemérides alusivas ao cancro. daí a necessidade de partilha de ideias e conhecimentos entre quem passa ou passou pela doença e os profissionais de saúde e dos media.

“Aceitamos o desafio para debater questões de facto pertinentes, por exemplo, como é que o jornalista deve abordar a questão do cancro, da doença que ainda é um tabu, para muita gente. Qual a melhor abordagem? Pôr-nos também na pele dos profissionais de saúde, do doente e perceber qual o contexto, e como funciona o circuito, a partir do momento em que a pessoa é diagnosticada com cancro, como funciona? Quais as possibilidades de tratamento? Entre outras questões que nós, os profissionais de CS, não sendo especializados na matéria e, sendo, na maioria, generalistas, acabamos por não abordar a doença da melhor maneira, às vezes”, explicou Gisela Coelho, vice-presidente da AJOC.

A AJOC lamentou a pouca adesão por parte dos jornalistas no evento, uma vez que a ideia foi de troca de ideias e partilha de conhecimentos, o que na sua óptica, acabou por ser uma “oportunidade perdida” para que muitos podessem também melhorar as suas abordagens.

No entanto, frisou que para os presentes, o encontro foi muito produtivo e esclarecedor, uma vez que “não é todos os dias que temos sobreviventes de cancro à disposição para nos darem imputs e mostrarem os melhores caminhos e como bem foi dito, a CS só trata as questões do cancro nas efemérides ou quando há alguém desesperado na sociedade apelando ao financiamento para evacuação”, terminou.

C/ Inforpress

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