Por: Fernando Baptista
Neste artigo dissertarei sobre o meu ponto de vista da política no Município do Porto Novo, onde abordarei algumas questões, nomeadamente: o alimentar de um sonho com promessas não cumpridas, de um sonho a hipocrisia política, etc. Porém antes de emitir o meu olhar sobre esse assunto, convém dizer que tenho a minha ideologia política, mesmo tendo a minha ideologia política, ele não antecede os meus valores e princípios que norteiam a minha conduta, os interesses da minha comunidade, do meu município, da minha ilha e de Cabo Verde (CV) em geral, pois caso contrário não faz sentido estar na política…
Jorge Luís (JL) é uma localidade da Freguesia de Santo André do Concelho do Porto Novo, que fica aproximadamente 29 km de distância da Cidade do Porto Novo, com 347 habitantes, destes 179 são do sexo masculino e 168 do sexo feminino, encontra-se inscritos no caderno eleitoral mais de 200 eleitores e a sua principal fonte de rendimento é a atividade agrícola. (Censo 2010)
O Movimento Para Democracia (MpD) no Porto Novo desde meados de 2000, aquando que a Câmara Municipal do Porto Novo (CMPN) era ainda liderada pelo Engenheiro Joel Barros, até o atual momento que é liderada pelo Economista Aníbal Fonseca, sistematicamente vem prometendo a população de Jorge Luís – a minha zona natal, a construção de uma placa desportiva, e justificavam o incumprimento da mesma pelo facto de não terem disponibilidade de terrenos, porém, esta questão foi ultrapassada desde o ano de 2016, em que foi colocado a disposição da CMPN três (3) lotes de terrenos para que a mesma escolhesse de acordo com a conveniência e facilidade na construção.
Dizer que, em 2016 a promessa foi feita pela atual equipa camarária. Após o candidato Dr. Aníbal Fonseca, ter ganho as eleições autárquicas de 2016, por tanto já na qualidade de presidente da CMPN, ele deslocou-se para Jorge Luís em meados de 2017, num encontro com a comunidade, onde reiterou a promessa antes feita num contexto eleitoralista, que a partir daquele momento passaria a ser um compromisso da CMPN, com os jovens e a população em geral desta pacata localidade, assumiu que até o final do ano de 2017 a placa desportiva seria uma realidade, realidade esta que não passou de uma promessa até os dias de hoje.
De um sonho a hipocrisia política
O maior desagrado que os jovens e a população em geral tem perante este compromisso assumido em público pelo senhor presidente da CMPN, é de, a atual equipa camarária privilegiar outras localidades que já beneficiavam de campos de futebol, em detrimento da nossa zona que não tem onde se quer treinar quanto mais praticar desporto. Quando falo de desporto, falo do desporto rei (futebol/futsal). A título de exemplo a equipa camarária construiu placas desportivas em Ribeira Fria, Lagoa de Ribeira das Patas e Ribeira da Cruz, todas com campos de futebol de onze. Ao nosso ver trata-se de descaso da equipa gestora do município perante esta localidade que há aproximadamente 20 anos sonha com uma placa desportiva para a prática do desporto bem como a realização de outras atividades lúdicas e recreativas.
Práticas de futebol nas estradas calcetada em pleno 2022
Entretanto, sem condições para a prática do desporto, a juventude utiliza as estradas calcetadas que ligam Jorge Luís e Porto Novo para jogar futebol nas horas de lazer.
Das “peladas” amigáveis nas calçadas conseguimos ser:
Campeões do campeonato de futsal de São João Baptista realizado na Vila de Ribeira das Patas em 2015;
Em 2016, vice-campeões no mesmo escalão a cima referido;
Em 2017, finalistas do campeonato anteriormente referido no escalão de Sub 17;
No ano de 2019, campeões do campeonato de futebol de Santo André, com participação de todas as zonas da referida freguesia e de outras zonas como Esfigueira e Círio. Também temos vários troféus de torneios quadrangulares que já vencemos bem como outros troféus de 2º classificado.
Posto isto, dizer que, está mais do que comprovada a vontade da nossa juventude na prática do desporto rei, evidentemente, mesmo sem condições para tal, temos conseguido algum destaque a este nível. Razões que justificam a construção de uma placa desportiva em Jorge Luís, entretanto a justificação não se baseia tão somente nas conquistas relativamente as competições, mas ainda na ocupação do tempo livre dos jovens, de modo a prevenir comportamentos desviantes, ou seja, o desporto é uma forma de manter a juventude ocupada para não se perderem nos males sociais que afetam as sociedades, tais como: o consumo abusivo de álcool e outras drogas, a criminalidade, entre outros. Também, a construção da referida placa desportiva proporcionará uma nova dinâmica à nível cultural, social e económica, pela transversalidade da sua utilidade.
Promessa eleitoralista e a perda de confiança
Nas últimas eleições autárquicas, mais uma vez, tanto a CMPN como o Governo Central prometeram construir a referida placa desportiva até o final do ano de 2020, conseguindo assim, uma vez mais vencer as eleições em Jorge Luís (JL). Convém realçar que, desde 1991 nunca outro partido político venceu uma eleição em JL, a não ser o MpD, partido na qual sou militante ativo. Sabendo que sempre vencemos as eleições em JL, penso que fazem descaso por terem a certeza de que vencerão sempre as eleições, cumprindo ou não as promessas. Contudo, desde que existe eleições livres em Cabo Verde pela primeira vez houve em JL uma derrota, referente as eleições presidenciais de 2021, do candidato apoiado pelo MpD. Convém desmistificar o seguinte: o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), ou a candidatura apoiada pelo PAICV não cresceu em termos de número de eleitorado mas sim, os militantes, simpatizantes e apoiantes do MpD em JL descontentes com as promessas não cumpridas não quiseram ir as urnas para votar, como forma de reivindicação. Isso, a semelhança de todo o país.
O MpD deverá tirar as devidas ilações das últimas eleições presidências para em tempo útil corrigir ou mudar a tendência das coisas, caso contrário nas próximas eleições será uma “catástrofe”. Visto que, um partido que vence de forma que venceu em Abril de 2021 e após de 6 meses o candidato apoiado por este partido perde de forma “feia”, é sinal que algo esta mal… mas para isto existe os analistas políticos que saberão melhor do que eu fazer a análise destas eleições.
As eleições presidenciais são eleições onde se devem votar numa candidatura, ou melhor dizendo, na pessoa (candidato), mas infelizmente em Cabo Verde, qualquer que seja o tipo de eleições, as pessoas votam nos partidos e não no candidato. Isto muito por culpa dos partidos políticos que não dão espaço de reflexão ao eleitorado para estes analisarem as propostas e assim tomar uma decisão de voto baseado nas ideias apresentado pelos candidatos.
De uma coisa tenho a plena certeza, que caso a placa não for uma realidade até 2024 (perderemos a esperança), provavelmente o MpD não vencerá as eleições autárquicas de 2024 em Jorge Luís, pelo simples facto: a falta de ética na política. É de realçar que, a nossa localidade desde de 2016 tem sido contemplada com ações das quais nunca tinha sido alvo, como forma de minimizar o não cumprimento do compromisso assumido, só que assumir um compromisso é muito diferente das promessas de campanhas eleitorais e o não cumprimento defraudou-nos completamente.
Política e ética
Política sem ética perde a sua essência, a ciência política e a deontologia são duas ciências que andam de mãos dadas, porém nós últimos tempos a aliança entre elas tem sofrido roturas e quando assim, a sociedade perde a confiança nos dirigentes políticos o que resulta em altas taxas de abstenção. Se analisarmos as últimas eleições, veremos que a abstenção foi quem venceu as eleições. Isso, demonstra que a sociedade não espelha nos atuais partidos políticos existentes no nosso país e nos atores políticos, ou seja, tanto o partido que se encontra no poder como os que se encontram na oposição não constituem uma solução para a sociedade que consequentemente desistem de ir as urnas, porque dizem “é a mesma coisa”, esta é a primeira leitura que fazemos de uma alta taxa de abstenção. Se essa tendência não for invertida, daqui à alguns anos teremos consequências graves para o nosso país.
Naturalmente, nem sempre os partidos políticos conseguem-se cumprir na íntegra todas as promessas de campanhas pelo simples facto de todos os partidos ou atores políticos quererem ganhar as eleições, logo fazem propostas de ações e programas de intervenções ainda que muitas vezes não será fácil o desenvolvimento dos mesmos, mas relativamente aos compromissos assumidos após a tomada de posse, estes sim, deveriam ser cumpridos.
De um modo geral, a equipa camarária tem-se trabalhado, não posso negar, caso contrário estaria sendo incoerente. Pois, nota-se um Porto Novo muito diferente de há alguns anos atrás, embora com défice em algumas áreas, um pouco de inércia e muito dependente do orçamento do Governo Central de Cabo Verde.
Clamar de um sonho
Eu, e toda a comunidade de Jorge Luís reivindicamos ao senhor presidente da CMPN Dr. Aníbal Fonseca e a sua equipa para cumprirem com o compromisso assumido desde 2017 sobre a construção de uma placa desportiva na nossa localidade, visto ser algo que faz falta e será importante para o desenvolvimento da nossa comunidade (atração de outros investimentos privados). Também esperemos que, tenham a hombridade de dar-nos alguma satisfação em relação ao assunto em epígrafe, sendo que, em várias seções de Assembleia Municipal o senhor presidente terá assumido a construção da placa, sempre que confrontado por deputados da oposição sobre este compromisso assumido e não cumprido.
Para finalizar, afirmo que estamos abertos para dialogar e apoiar mediante as nossas possibilidades para que, juntos conseguiremos realizar este sonho de várias gerações desta localidade de boa gente, caracterizada pela amabilidade do seu povo acolhedor.
Relativamente a localização do mesmo, a CMPN pode escolher qualquer dos terrenos colocados a disposição da mesma para a construção da referida placa desportiva, importante é ver este sonho realizado e a satisfação da sua população.
Roterdão, 28/01/22
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 753, de 03 de Fevereiro de 2022