Após 14 anos a ganhar a vida no mar, Carlos Mendes, jovem natural de Porto Mosquito, Ribeira Grande de Santiago, arriscou deixar para trás as lides de homem do mar para seguir o seu sonho: dedicar-se à costura. Hoje, pode-se dizer que é um empresário e um empreendedor que almeja melhorar as condições de vida da sua família e da sua comunidade.
Em conversa com o A NAÇÃO online, Carlos Mendes começou por explicar que o seu gosto pela costura não veio por acaso, uma vez que cresceu ao pé da máquina de costura da sua mãe.
No entanto, o seu gosto por esta área não se manifestou tão cedo, uma vez que crescendo numa comunidade piscatória como Porto Mosquito, o seu destino estava predestinado ao mar.
Durante 14 anos viveu esse destino, mas não esconde que, ao mesmo tempo, já experimentava a máquina de costura, até que resolveu deixar a vida no mar para se dedicar exclusivamente à costura.
Se antes já apertava e ajeitava algumas calças e camisas dos amigos e conhecidos da sua zona, passou a dedicar-se cada vez mais. Foi entrando, por assim dizer, numa relação mais séria com a máquina de costura, e descobriu que poderia ir mais além das peças de vestuário, apostando também em calçado costumizado.
Formações para aperfeiçoar
Tempos depois da pandemia, Carlos teve a oportunidade de aperfeiçoar o que tinha aprendido até então. Uma formação de dois meses, com Cinzo Gamboa, que “veio em boa hora”, para ajudar a alavancar as suas potencialidades.
Mas, antes, em Maio de 2019, conseguiu participar também em outra formação, desta vez, por três meses, proporcionada pela Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, de onde saíram novas ideias para crescer no mercado.
No seu pequeno ateliê de artes e calçado, na sua própria casa, em Porto Mosquito, este jovem cria diferentes modelos de sandálias em cabedal, com pano de terra, bandeira de Cabo Verde, tecidos africanos, entre outros, a gosto e pedido da clientela, desde homens, mulheres e crianças.
Aproveitando as vantagens das novas tecnologias, tem no Facebook a sua página Carlos Mendes PB, onde divulga o seu trabalho, de olhos postos em novos clientes, quer a nível nacional, como internacional, uma vez que os seus produtos já começaram a ganhar mercado na diáspora, mesmo antes da pandemia.
Sonho de ser empresário para ajudar Porto Mosquito
A ideia deste jovem que quer sobressair como empresário, é, sobretudo, melhorar as condições de vida da sua família e da sua comunidade. A situação está difícil por causa da pandemia, reconhece, mas almeja dar a volta por cima e atingir tais objectivos.
“Meu sonho é ser um empresário não para grande fama, mas sim para criar novas oportunidades para jovens desempregados da minha zona”, especificou, destacando que ajudar a mãe e irmã que moram na mesma casa é também uma das suas prioridades.
“O rendimento da minha família vem deste meu trabalho, mas também da minha mãe, uma grande batalhadora que depois de ser peixeira e costureira, hoje ganha a vida como ajudante da construção civil”, contou, justificando que a sua mãe, ex-costureira, perdeu a carreira com as novas invenções nesta área.
“Ela costurava há muito tempo, mas sem nenhuma formação nesta área. Com a entrada de muitos jovens nesta área, ficou difícil acompanhar as evoluções, sobretudo para responder aos pedidos”, explicou sobre a mãe, chefe de família, que também já foi peixeira.
Máquina de costura precisa-se
Carlos Mendes diz que o caminho para o seu grande sonho, sobretudo, poder dar uma vida mais digna para a sua “rainha” parece um pouco longe, mas que não vai desistir, até porque é visto na sua sociedade como um jovem exemplo.
Neste momento, precisa de melhores condições financeiras para apostar em uma máquina de costura mais adequada para calçado e matérias-primas mais sofisticadas. Mais à frente, a ideia é investir em um atelier maior onde poderá contar com mais jovens para trabalhar e aprender com ele.
