Osvaldo Lopes da Silva apresenta, esta quinta-feira, 20, na Presidência da República, na cidade da Praia, o seu mais recente livro, “Crónicas Soviéticas”, que retrata a sua vivência na União Soviética (Rússia), país onde se formou, nos anos 1960, em Economia. A apresentação, sob a chancela da Rosa da Porcelana, enquadra-se na programação da Semana da República que decorre entre 13 e 20 de Janeiro.
“Crónicas Soviéticas” chega ao público esta quinta-feira, 20 de Janeiro, Dia dos Heróis Nacionais, como mais um importante contributo de Osvaldo Lopes da Silva para o melhor conhecimento da nossa história contemporânea. Esse combatente da liberdade da pátria, figura muito conhecida de Cabo Verde, desempenhou altas funções, desde a Independência, até 1990, altura em que se retirou da vida política.
Manuel Brito-Semedo, o escolhido para apresentar a obra, diz que Lopes da Silva procura neste livro fazer um “exercício de memória” para registar a fase da sua vivência prolongada na então URSS. Isto, desde a sua chegada como bolseiro de Economia em 1961, o período de formação académica e militar, e, mais tarde, nos anos 1970-80, as várias vezes que se deslocou àquele país, no quadro da busca de cooperação entre Praia e Moscovo.
“Primeiro, como ele estudou na União Soviética e domina a língua, teve essa vivência e conhecimento da história que ajudou a perceber as análises que faz e apresenta no livro. Ele tinha uma relação privilegiada. Enquanto estudante estrangeiro, ouvia informações em outros meios, para além daquilo que a Rádio Moscovo transmitia ao mundo, tinha uma visão do que se passava, no interior do país; além disso, foi um dos primeiros africanos a chegar à União Soviética, isto em 1961, altura em que esse país começava a abrir-se ao mundo, depois da morte de Estaline. Ainda se cruzou com gente que vinha do regime antes da Revolução Russa de Outubro de 1917. É esta vivência, prolongada e atenta, que ele procura verter para o livro, memórias suas, confirmadas com documentos que foi tendo acesso”, explica Brito-Semedo ao A NAÇÃO.
O escritor e professor diz que identificou neste livro um aspecto importante e de grande mérito, referindo-se ao “exercício de memória” da geração de cabo-verdianos, que hoje tem 80 e poucos anos, e que exerceu funções extremamente importantes no país, mesmo antes e no processo da independência, daí a utilidade de livros como o que Osvaldo Lopes da Silva dá agora à estampa.
Além disso, “Crónicas Soviéticas” junta-se a outros livros, de outros combatentes, sobre o período da luta de libertação, construção do Estado de Cabo Verde independente, o que por si constitui uma obra a ter em conta, doravante. Por exemplo, neste seu livro, Lopes da Silva relata o choque que foi tendo com outros colegas guineenses, também bolseiros do PAIGC, sobre o velho problema da unidade Guiné-Cabo Verde, bem como o confronto que acabou por ter com o próprio Amílcar Cabral sobre o mesmo assunto.
Contributo para a história contemporânea
Também a Rosa da Porcelana que edita a obra destaca como “mérito maior” da vinda a público das “Crónicas Soviéticas” o “desbravar de um caminho novo”, em matéria de conhecimento da história contemporânea não só de Cabo Verde, mas também de outros países africanos, especialmente, os de língua oficial portuguesa.
“É que são praticamente inexistentes memórias de quadros de movimentos de libertação que, tendo feito formação na URSS ou alhures, se predispuseram a relatar suas vivências. Diríamos até que esta é, indiscutivelmente, uma das grandes omissões da literatura anticolonial dos espaços de colonização portuguesa em África. Por isso, não podia deixar de enfatizar a importância deste contributo de Osvaldo Lopes da Silva para a História Contemporânea”, escreveu a editora em nota de imprensa.
Revisitar um tempo histórico…
“Crónicas Soviéticas”, de 242 páginas, encontra-se dividido em 11 sessões numa linha cronológica, desde a chegada de Osvaldo Lopes da Silva à União Soviética, na década de 1960, até o período de 1989, quando debruçou sobre a extinção da União Soviética, época do Perestroika Glasnost por Gorbatchev.
No prefácio, o investigador guineense Julião Soares Sousa afirma sobre esse livro que, através da sua leitura, ter-se-á a “oportunidade de revisitar um tempo histórico sem dúvida idiossincrático e em que o autor faz desfilar vários acontecimentos e várias personalidades que foram (mal ou bem e para o mal ou para o bem, dependendo das perspectivas analíticas de cada um) verdadeiros protagonistas”.
Sobre o autor
Osvaldo Lopes da Silva nasceu na ilha de São Nicolau em 1936. Estudou a instrução primária na cidade da Praia e os estudos secundários no Mindelo. Também teve uma vivência angolana, já que, criança, acompanhou o pai, um funcionário colonial, àquela então colónia portuguesa.
Cursava Engenharia Civil, em Portugal, quando, em 1961, juntamente com Pedro Pires, José Araújo, Maria da Luz Boal, Elisa Andrade, integrou o grupo de estudantes angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos que fugiu para Paris, França, para integrarem o movimento anticolonial, no caso dos cabo-verdianos, nas fileiras do PAIGC, de Amílcar Cabral.
Completou o Curso de Economia em Moscovo, tendo depois integrado a luta armada de libertação nacional, como comandante de artilharia.
Com a proclamação da Independência de Cabo Verde em 5 e Julho de 1975, assumiu as pastas ministeriais da Economia e Finanças, até 1986, e de Transportes, Comércio e Turismo, até 1990.
Foi-lhe outorgado a condecoração do Primeiro Grau da Ordem Amílcar Cabral. Em 2011, publicou o seu primeiro livro, “Nos tempos da minha Infância”, reeditado recentemente.