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Santiago

Praia: Revoltados com furtos de gado, criadores ponderam fazer justiça com as próprias mãos

Criadores de gado em Água Funda e São Paulo, arredores da cidade da Praia, dizem-se cansados com roubos dos seus animais em plena luz do dia. Revoltados, pedem a colaboração das autoridades na “caça” aos ladrões, antes que comecem a fazer justiça com as próprias mãos.

Os pastores da zona de Água Funda, uma pequena comunidade de criação de gado nas extremidades da Achada Mato, encosta da Jamaica, dizem-se revoltados com as ondas de assalto de animais. Como confessaram ao A NAÇÃO, este é um problema que se arrasta há já algum tempo. Um dos criadores relatou, a propósito, como foi que lhe roubaram um carneiro, no passado dia 10, na zona de Vila Victória.

“Recomendei ao rapaz que trabalha comigo para não levar os animais para a pastagem na Vila Victória porque já tinha ouvido falar em roubos por essas bandas. Ele desobedeceu, e foi mesmo assim; distraído, a jogar carambola com outros adolescentes da comunidade, uns rapazes pegaram-lhe um carneiro sem que ele desse por isso e regressou no fim do dia sem o animal”, contou Silvino Lopes,  avançando que, no mesmo dia, saiu atrás do animal, mas que não encontrou nenhuma pista.

No dia seguinte, prossegue o mesmo criador, decidiu ele próprio pastorar para ver se conseguia alguma pista do roubo. “Quando cheguei à Vila Victória, uma mulher dirigiu-se a mim discretamente e me disse para ficar de olho nos animais para não ser roubado. Foi então que lhe contei que, no dia anterior, tinha perdido um carneiro. Ela disse-me que sabia quem tinha roubado o animal e contou-me a história toda.

Inclusive, que pegaram o animal, fecharam dentro de casa e levaram depois para o Sucupira”.

O mesmo criador conta que depois de contactar os três suspeitos envolvidos no roubo, apresentou uma queixa na Polícia Nacional e que aguarda uma decisão sobre o assunto, mesmo sabendo que, à partida, pouco poderá esperar disso.

Roubos frequentes na Vila Victória
Silvino Lopes acrescenta que, sem o carneiro, ficou com oito cabeças de animais (cinco cabras, um bobe e dois carneiros) e que os roubos em Água Funda têm sido frequentes, sobretudo depois que as pessoas se mudaram para as moradias do programa Casa para Todos, na Achada Limpo, baptizadas de Vila Victória.

“Muitas pessoas preferem levar os seus animais para Vila Victória porque é melhor em termos de pastagem. Mas, ultimamente, depois que estas pessoas mudaram para cá, as queixas de roubo tornaram-se frequentes. Inclusive, houve um senhor que lhe roubaram 15 cabras de uma só vez”.

Para esse cidadão, os larápios chegam a invadir os currais e as casas e que os criadores, revoltados, temem a situação de terem que fazer justiça com as suas próprias mãos.

 “Há dias, encontrei-me com um criador que estava muito revoltado porque lhe tinham roubado um carneiro e um bode dentro do curral. Ele disse-me que se encontrar alguém dentro do seu curral, quem acabará preso será ele pela punição que dará ao ladrão”, contou, realçando um outro assalto, desta vez, na casa de um dos pastores: “Levaram-lhe todo o dinheiro que tinha para comprar ração dos animais, para além de outros pertences”.

Diante dos prejuízos, tendo em conta que muitos destes criadores vivem exclusivamente de criação de gado, Silvino Lopes diz que as autoridades precisam intervir antes que o pior aconteça, pois o roubo é cada vez mais frequente e os pastores, mais cedo ou mais tarde, acabarão por fazer tocaias para apanhar os ladrões.

Mesmas queixas em São Paulo
Também em São Paulo, mais precisamente na ribeira situada atrás da Zona de Ponta d’ Água, os pastores passam pela mesma aflição. “Eu, pessoalmente, perdi nos últimos tempos dois carneiros durante a pastagem; o roubo aqui é constante e em plena luz do dia”, contou Bartez ao A NAÇÃO. Há mais de sete anos dedica-se à criação de cabras, carneiros, patos, galinhas, entre outros animais.

Ao contrário dos criadores da Água Funda, os de São Paulo dizem que ainda não tiveram a sorte de pegar ninguém em flagrante e que por isso não vão “apontar o dedo’’ a ninguém, nem a nenhuma comunidade, dado que “os ladrões podem estar mais perto do que imaginamos”.

No entanto, garantem que se as autoridades não agirem “enquanto é tempo”, farão uma “tocaia” para surpreenderem os ladrões e que no dia em que isso acontecer, asseguram, os larápios haverão de “pagar muito caro pelos prejuízos que nos andam a causar”.

Assalto e vandalismo crescem na Vila Victória

A comunidade Vila Vitória nasceu a 10 de Julho de 2020, dia em que o então edil da Praia, Óscar Santos, entregou 309 casas de Classe A do programa Casa Para Todos na Achada Limpo. 

De lá para cá, muitas iniciativas foram realizadas pelos moradores para que a comunidade, formada por pessoas de vários bairros da Praia, se destacasse “pela positiva”.

E foi assim que nasceu uma associação que luta pelos interesses comuns e progresso da Vila Victória, desenvolvendo actividades e realizando formações em diversas áreas, sobretudo, para os jovens, temendo que estes, desempregados, se sintam tentados a seguirem maus caminhos. No entanto, apesar desse esforço, Vila Victória tem registado, a cada dia, o aumento de assaltos, acompanhados por vezes por actos de vandalismo vários.

“Para além de entrar na casa das pessoas, os ladrões danificam os apartamentos que estão vazios, retirando janelas, portas, louças das casas de banho… Os maus elementos chegam a reunir-se nos espaços comerciais que estão vazios, para as suas actividades ilícitas, entre elas, fumar canábis”, avançou um morador.

Questionado se seria um problema de falta de emprego, o nosso entrevistado responde: “Creio que não porque muitos deles já receberam algumas oportunidades que desperdiçaram. Encontram trabalho e largam dias depois porque o que querem mesmo é vida fácil e sem esforços”. 

Para esse cidadão, tendo em conta a dimensão da comunidade e da zona, impõe-se pelo menos a existência de um posto policial e outros serviços para que Vila Victória não se transforme, em pouco tempo, em mais uma zona problemática da Praia. “É agora que alguma coisa tem de ser feita e não deixar para depois, quando for tarde, para se vir pôr os delinquentes na linha”, apela.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 750, de 13 de Janeiro de 2022

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