O Governador do Banco de Cabo Verde (BCV), Óscar Santos, considerou, Quarta-Feira, 29, que o perdão dos juros às empresas beneficiadas com as moratórias pode ser um “mau sinal” aos parceiros internacionais.
Em entrevista à Inforpress, instado a comentar o pedido dos representantes do sector privado para o perdão dos juros acumulados pelas empresas durante a vigência das moratórias, Óscar Santos frisou que quando a classe empresarial está a falar de perdão das dívidas está a falar directamente ao Governo, o que significa mais despesas para o Estado.
“Nós estamos num contexto em que o Estado tem algumas limitações. Acho que o que as empresas devem fazer é negociar com os bancos, em primeira mão. Cada um dos actores deve fazer o seu trabalho de casa. Não estar sempre a exigir do Estado neste contexto difícil que tem de apoiar as famílias e aumentar cada vez mais as suas despesas”, considerou.
Perdão dos juros, segundo disse, não seria um bom sinal quando o Estado está a pedir moratórias na dívida externa e fazer perdão das dívidas das empresas. Isto pode ser um mau sinal para os nossos parceiros.
Na sua perspectiva as empresas têm de fazer a reestruturação interna necessária e negociar com os bancos.
“O que o banco central pode fazer, dependendo da conjuntura, é manter a política monetária acomodatícia e seguir com atenção a qualidade da carteira dos bancos. Cada cliente, se possível, pode sempre negociar com os bancos os termos e condições em que os créditos devem ser pagos na retoma da vida normal”, sustentou.
Saída gradual das moratórias
Para já indicou que o BCV, que fez o acompanhamento a nível prudencial desta medida adoptada pelo Governo, definiu um calendário para suavizar a saída das moratórias, já que as mesmas não são uma solução definitiva, mas uma medida temporária.
“Tem de ser terminado hoje. É por isso que em quase todos os países adoptaram a estratégia de ‘fashing out’, um ‘exit’ gradual das moratórias e isso já começou aqui. Algumas entidades já começaram a pagar, pelo menos, os juros e outros a partir do próximo ano, o reembolso do capital”, explicou.
Assim, de acordo com o calendário, desde 01 de Julho, houve a retoma do pagamento de juros por parte dos municípios e das empresas que não pertencem aos sectores afectados pela pandemia e a 01 de Outubro houve a retoma do pagamento de juros por parte de particulares não abrangidos pelo ‘lay off’.
A 01 de Janeiro de 2022 haverá a retoma do reembolso de capital para as entidades que começaram o pagamento de juros a 01 de Julho de 2021 e os particulares que retomaram o pagamento a 01 de Outubro.
Em Março está previsto o fim das moratórias. Óscar Santos adiantou que com o relançamento das actividades e com o fim das moratórias, os clientes podem negociar com os bancos novos termos e condições.
O representante do banco central está ciente de que a recuperação económica vai ser “seguramente desigual”, havendo algumas empresas de alguns sectores como o turismo e os transportes que poderão enfrentar mais dificuldades do que outras, por causa da conjuntura externa incerta.
Ainda assim considerou que o país não deve dar o sinal de que as moratórias são “ad eternum” (para sempre).
“Não há Estado nenhum que aguente moratórias para sempre. E coloca ainda a questão mais de fundo que é a questão da estabilidade financeira. Nunca podemos perder de vista que a suspensão do pagamento também tem custos”, sustentou.
C/ Inforpress