Rui Semedo será, ao que tudo indica, candidato único à liderança do PAICV. Caso for eleito, o actual líder interino desse partido terá um mandato a prazo, até 2024, altura em que serão realizadas novas eleições no partido tambarina. Essa estratégia envolve Janira Hopffer Almada que poderá regressar à liderança do PAICV, depois das eleições autárquicas.
Rui Semedo foi o primeiro a manifestar pubicamente a candidatura à liderança do PAICV, nas eleições directas do partido agendadas para 19 de Dezembro.
Confirmou essa decisão, numa publicação na sua página do Facebook, com a qual pretende “enfrentar as dificuldades, mobilizando todas as energias e capacidades e contando com o suporte dos militantes, simpatizantes e amigos do PAICV no exercício de tão elevado cargo”.
“Ao fazer isso estou, mais uma vez, a disponibilizar-me para servir o partido e dar a minha modesta contribuição para o engrandecimento e o reforço da intervenção do PAICV no xadrez político nacional, onde sempre ocupou posições relevantes e continua a ter um papel de primeira linha para o reforço e a
consolidação da nossa prestigiada e muito bem referenciada democracia”, afirmou.
Dúvidas
Contudo, alguns dirigentes e militantes do maior partido da oposição consideram que essa candidatura “não é autêntica”.
Isto porque, ao ter assumido interinamente a liderança do PAICV, “fê-lo num quadro muito particular de preparar as eleições internas, num prazo de seis meses, como estipula o estatuto do partido, e não para concorrer nas mesmas”.
Mas um outro alto dirigente afirma que Rui Semedo “é a melhor alternativa”, neste momento, para dirigir os destinos do partido.
“E tem havido um trabalho no sentido de se alcançar um consenso em torno de Rui Semedo,
com base numa estratégia de preparar o PAICV para novos embates”.
“Estamos a atravessar um momento sui-generis e é preciso garantir a unidade em torno do partido, alcançada durante as eleições presidenciais”, realça o nosso interlocutor que considera que Rui Semedo é a pessoa indicada para congregar todos os militantes, simpatizantes e amigos do PAICV, pelo menos até o congresso de 2024.
“Rui Semedo está no Parlamento e não podemos correr o risco de ter uma pessoa na liderança do partido que esteja a residir fora da Praia ou de militantes que não são deputados”, sublinha a nossa fonte, numa clara alusão a situações de Nuías Silva, José Sanches e José Veiga, que também têm sido apontados como potenciais candidatos à liderança do PAICV.
Francisco Carvalho
Também se fala da possibilidade de o presidente da Câmara da Praia avançar com uma candidatura. Mas para um dos nossos interlocutores, Francisco Carvalho deve concentrar-se no seu “quintal” e mostrar serviço antes de tentar dar esse salto.
“Além disso, Francisco Carvalho, que não tem conseguido consensos com os vereadores do próprio partido, seria a última pessoa para liderar o PAICV, neste momento em que precisa de paz e união”, realça
a mesma fonte, afirmando que “avançar por avançar, qualquer um pode concorrer á liderança
do partido”.
“Tem de haver uma visão estratégica que permita que as lideranças despontem com naturalidade e num quadro de consenso. Rui Semedo é quem, neste momento, reúne as melhores condições para liderar o PAICV”, realça o nosso interlocutor que considera, no entanto, que, em 2024, poderá surgir “uma fornalha” de potenciais candidatos “cada vez mais fortes”.
Estratégia para favorecer Janira
Para um antigo dirigente do PAICV que esteve ligado ao chamado “Grupo de Reflexão”, a candidatura de Rui Semedo “é uma péssima decisão”, por considerar que o mesmo foi o “braço direito” de Janira Hopffer
Almada durante todos esses anos e “a sua fraca capacidade de liderança ficou patente quando dirigiu o grupo Parlamentar. Funcionava, na altura, como uma espécie de porta-voz da Janira”.
Para este militante, apresentar Rui Semedo, neste momento, como candidato de consenso “é demagogia”, sobretudo, porque “ele não tem intenções de mexer na estrutura deixada por Janira. Vai manter todos os vice-presidentes, o que é péssimo quando se fala em reunificar o partido”.
O nosso interlocutor considera ainda que, manter o Nuías, João Baptista Pereira (vice-presidentes) e Julião Varela como secretário-geral, ou seja, continuar com as mesmas pessoas da actual direcção, “não é eleição, não é mudança no partido e não é tentar implementar uma nova estratégia interna”.
“Estou convencido de que a decisão de Rui Semedo, no sentido de avançar para a liderança do PAICV, é uma estratégia para guardar o lugar para Janira, nas eleições de 2024”, avança o nosso interlocutor.
“O Rui mudou de ideias, porquanto, há muito tempo que tem estado a dizer que ia aposentar-se da política (está reformado há mais de 10 anos), mas sempre que há eleições e distribuição de lugares ele está disponível para receber alguma função”.
Rui Semedo, um líder a prazo?
Ao que tudo indica, ao concorrer às eleições directas de 19 de Dezembro, Rui Semedo será um líder a prazo, na perspetiva de guardar o lugar para Janira, que deverá regressar à liderança do PAICV,
em 2024, com vista às eleições legislativas de 2026.
Aliás, essa possibilidade foi deixada em aberto pela própria, numa recente entrevista ao A NAÇÃO (727).
Contudo, vários analistas próximos do PAICV consideram que uma liderança a prazo contribuiria ainda mais para o enfraquecimento do maior partido da oposição.
É que, depois de um período transitório de interinidade, que, per si, “desacredita” uma força política, “não é de bom tom ter um líder que não teria capacidade para definir estratégias e políticas próprias”.
Adiamento das eleições
Para alguns militantes, as eleições internas no PAICV deveriam ser adiadas para o final do primeiro trimestre de 2022 e, para o feito, Rui Semedo, como presidente interino, deveria reunir o Conselho Nacional.
“Com esse adiamento poderíamos aproveitar a acalmia que houve agora no partido, por causa das eleições presidenciais, para falarmos uns com os outros, resolver os problemas antigos e depois num ambiente mais acolhedor e federador fazer essas eleições”, enfatiza.
Um dos nossos interlocutores defende que “não é preciso ter pressas em acelerar as eleições internas”, porquanto “estamos a sair de um ciclo eleitoral que culminou com as eleições presidenciais”, sublinha, lembrando que já no dia 5 de Dezembro terão que ser apresentadas as candidaturas.
Ou seja, “os militantes não tiveram tempo para pensar em eleições, embora soubessem que estavam previstas para Dezembro. Fazer eleições em cima do Natal, sem necessidade prática, não se justifica.
O presidente interino deveria reunir os seus órgãos, a Comissão Política e o Conselho Nacional para se tomar uma decisão sobre o adiamento dessas eleições”.
O estatuto do PAICV estabelece, “obviamente”, que o presidente interino não deve liderar por mais de seis meses, “mas isso é na normalidade. Em caso excecionais, o Conselho Nacional, que é o órgão mais alto entre congressos, tem o poder de decidir, transitoriamente, coisas que não estejam no estatuto”, conclui.