Por: Adelino Barros*
Os fenómenos sociais “são acontecimentos que resultam a partir do comportamento humano”. Por sua vez o comportamento define-se por “conjunto de reações provenientes de estímulos internos, externos e ambientais”. Como seres humanos que somos o nosso processo do pensamento é formado pelas imagens que projetamos em nossa mente, pela razão que julga, atribui significado e decide e as emoções são o que sentimos, aquelas que nos movem em busca da satisfação. Estas últimas conforme diz a ciência ocupam grande parte do processo do pensamento influenciando nossas decisões e consequentemente o nosso comportamento. Analisar os fenómenos sociais sejam eles positivos ou negativos é logicamente e sobretudo fazer abordagem obrigatória sobre as emoções. Portanto no mais simples ato do pensamento, nas decisões e atitudes estão sempre presentes as emoções de forma consciente ou inconsciente.
Observemos os fenómenos sociais negativos como suicídios, homicídios, violência baseada no género, atentados contra indivíduos ou patrimónios, depressão*, ansiedade*, stress*, alcoolismo e toxicodependência. Podemos referenciar outros tantos mas analisemos estes para exemplificar. Todos estes possuem em comum o desequilíbrio emocional nas suas causas!
Vejamos de forma reflexiva e prática tendo em consideração toda abordagem feita no primeiro parágrafo. A partir do momento que um indivíduo tem um desejo seja este um amor, uma família, um lar, emprego, negócio, estabilidade financeira ou mesmo realizar um sonho, como também manter ou recuperar a saúde, ser ou ter algo… Estamos perante situações que exigem esforços, conhecimentos e inteligência emocional que “é a capacidade que nos permite identificar, compreender e gerir as emoções” dando-nos melhor habilidade para produzir respostas e resultados positivos mesmo em situações de adversidades. O desejo é algo normal e legítimo que não constitui um problema mas requer sacrifícios para a realização de qualquer que seja. Até aqui estando consciente da realidade e das exigências criadas a partir do momento em que se cria um desejo e tornando-o numa necessidade tudo se apresenta normalmente desde que se assuma o compromisso e os riscos da forma responsável e positivo.
Quando um desejo poderá se transformar num problema? Através das expectativas criadas tanto com relação à certeza da realização, ao tempo, facilidade e até contribuições alheios para alcançar o almejado, efetivamente se se constatar na prática situações contrárias às expectativas e haja resistência na aceitação com reflexos de pensamentos negativos e atitudes distorcidas acompanhadas de inconsciência ou má gerência emocional um simples desejo pode se tornar num grave problema.
Dessa forma aparentemente ingênua poderão nascer decepções, traumas, frustrações, dores e outros desequilíbrios emocionais que poderão como consequência originar os fenómenos sociais como os citados anteriormente no segundo parágrafo. Estes actos nunca aparecem como causas mas sim são consequências últimas de um processo doloroso e alguns deles apresentam-se como fuga ou soluções para pôr fim ao desespero e sofrimento.
Importante será ainda levar em conta que acontecimentos traumáticos vividos por um indivíduo durante a infância (feridas emocionais e heranças emocionais) como também noutras fases da vida com experiências negativas que surgem com as adversidades do dia-a-dia se não tratados ou atribuídos novos significados podem contribuir para o aumento de fenómenos sociais.
No presente tempo para que estejamos prontos a lidar com as circunstâncias e adversidades da vida, obrigatoriamente temos a necessidade de conhecer nossas emoções, entender seus efeitos sobre nós e nosso pensar, decidir, agir, saber geri-las e usá-las de forma consciente e inteligente influenciando assim positivamente o ambiente do nosso viver. Se o homem é movido pelas emoções significa que a pessoa que não trabalha sobre si mesmo para conhecer suas emoções não conhece a ela mesma. Quando o indivíduo não conhece a si mesmo ele não se encontra preparado para lidar consigo mesmo nem com as situações adversas e exigências que a vida impõe. Pois este no seu percurso poderá facilmente ser dominado pelas emoções provocando desequilíbrio emocional, originando respostas automáticas, ineficazes e negativas com consequências nocivas para a sua própria integridade e de outrem.
Encontramo-nos no final do Setembro amarelo ou o mês da prevenção ao suicídio. Não se deve falar do suicídio ou de qualquer outro fenómeno social ignorando a importância dos fatores emocionais presentes e a necessidade emergente de apostar na inteligência emocional e levar este conhecimento à todos os indivíduos. Será impossível combater e controlar qualquer fenómeno social sem promover a inteligência emocional para todos!
Pois não será suficiente investir em infraestruturas, nas legislações, em reforçar o controle da ordem social (força policial), na criação de recursos e equilíbrio de oportunidades, nem mesmo em campanhas sazonais de sensibilização. Sem antes investir na educação emocional em massa fazendo com que as pessoas estejam preparadas e conscientes para que possam perceber e gerir de forma eficaz as contrariedades, haverá sempre uma grande deficiência na eficácia do combate.
Imaginemos fazer uma forte campanha de sensibilização sobre um determinado fenómeno social para pessoas que nem sequer entendem sobre os principais fatores envolvidos na causa sem antes dar-lhes esses importantes conhecimentos. Nesse caso qual seria o efeito ou a chance do sucesso da campanha se o público alvo ainda não possui sensibilidade suficiente para compreender a essência do assunto? Façamos seriamente essa reflexão.
A inteligência emocional constitui uma das essenciais habilidades para o desenvolvimento de qualquer ser humano. Este conhecimento nos oferece capacitação a nível do despertar da consciência para compreensão da nossa forma de pensar, interpretar os estímulos ou acontecimentos, entender porque tomamos certas decisões e optamos por determinados comportamentos. Dá-nos também ferramentas que nos ajudam a aprimorar e ter maior aproveitamento dos nossos conhecimentos técnicos, ter melhor capacidade na gestão de conflitos internos e externos, ajuda-nos a desenvolver o equilíbrio emocional que na prática representa ser mais resiliente, consciente e inteligente.
Uma vez mais afirmo ser de fundamental importância o reconhecimento das influências emocionais na origem de qualquer fenómeno social seja ele positivo ou negativo. Isto mesmo por questões não somente de afirmações científicas e lógicas mas principalmente por questões existenciais tendo em conta os elementos (as emoções e os pensamentos) que nos tornam humanos e diferentes dos outros animais ou seres. Posto isso, devemos analisar claramente e assumir a consciência da necessidade de se trabalhar fortemente a educação emocional para que possamos ter melhor controle sobre os fenómenos sociais e construir uma sociedade mais saudável, equilibrada e segura. Uma sociedade com estas condições se constrói quando os indivíduos que nela coabitam possuem estas mesmas qualidades. Para que uma sociedade ou um país alcance bom nível de desenvolvimento deve-se apostar no empoderamento das pessoas ou seja apostar em proporcionar conhecimentos aos seus recursos humanos. Isso consegue-se com eficácia pela via da educação das massas e uma das fundamentais ferramentas para que se possa materializar esse objetivo é sem dúvida o conhecimento da inteligência emocional.
Hoje em “todo o mundo” a palavra de ordem é a inteligência emocional e já se reconhece esta como indispensável para todo o ser humano e como uma habilidade que deve ser desenvolvida desde a infância e estar presente no sistema educacional. Pelo que está-se a fazer forte aposta e investimentos para levar esse conhecimento à todos porque sabe-se da sua importância em todas as áreas da vida humana e particularmente no combate e controle dos fenómenos sociais. A inteligência emocional constrói a elevação do homem e do mundo, pois é chegado a ora de Cabo Verde tomar parte do novo mundo e conseguir com sabedoria viver o novo normal.
*Mentor em Inteligência Emocional