Por: Filinto Elisio
O jornal A Nação, neste tempo e nesta edição, celebra 14 anos, contados a cada semana com as suas tiragens impressas e, ultimamente, a cada dia com as suas atualizações online. Não consigo deixar de lembrar do dia da aparição do jornal, produto da Alfa Comunicações, mas caldeado e composto no sonho realizado de uma meia dúzia de amigos e colaboradores, cujo propósito era criar um produto que fosse uma “terceira via” no campo mediático cabo-verdiano. Para tanto, seria generalista e popular, lastreado em ideias-chave como reportagem, notícia e noticiabilidade, opinião plural e diversa e ampla distribuição no País e na Emigração (fazendo jus ao nome A Nação), assim como espaço e serviço comerciais, pilastras da sustentabilidade do jornal. Há 14 anos (recordo-o como se fosse hoje), ele vinha bem-intencionado e ousado, com uma linha editorial afirmativa, com todos os efes e erres de um órgão de imprensa, numa sociedade sequiosa da pluralidade informativa e num país que não tem feito feio no ranking mundial da Liberdade de Imprensa.
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Ciente estou de trancos e barrancos, de alguns imponderáveis e de não menos obstáculos, que o jornal teve de enfrentar. Mesmo sabendo que “todos os caminhos levam a Roma”, sei quão difícil às vezes é “atravessar o Rubicão”; estando certo que o jornal dobraria o seu Cabo de Boa Esperança, superando ao que lhe era antes Cabo das Tormentas; fazendo o tirocínio semanal do comercial, a pleitear por assinantes assíduos, a dinâmica das distribuições e das vendas, das demandas da publicidade e do anúncio, dos parceiros públicos e privados; o também tirocínio da redação, com as pautas da semana, as apurações dos factos e dos feitos, o jogo de cintura do editor no diálogo com os responsáveis das secções e páginas diferenciadas, a aculturação coletiva, paulatina e cumulativa de um “livro de estilo” próprio, a consagração, jornal a jornal, de uma identidade (de estilos, de escritas, de primeiras páginas e de grafismos) e de um caldeamento, a cada dia mais substantivo, do way of life do A Nação, com jornalistas, diagramadores, ilustradores, colaboradores, funcionários, verdadeiramente capital humano (sem desprimor semântico, note-se); o ainda tirocínio da concorrência, com a sua dura gramática das relações de força e de influência e o seu insidioso jogo de sombras, apanágio de mercado pequeno, onde a fome é muita e o rancho minguado -, sim, trancos e barrancos, mas felizmente a maior parte vencidos, para que o jornal cumprisse o ano Sete (o mais místico e desafiante da numerologia) e agora esteja a celebrar o ano Catorze. Alguém muito dado às lides políticas e aos jargões do carrossel do poder, terá dito que o A Nação está quase a fechar o “terceiro mandato”.
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Entrementes, o que encanta neste trajeto de 14 anos é a superação diária, a aprendizagem permanente e a resiliência reforçada a cada edição, como também encanta a fidelidade (isto sim, um sine qua non) dos leitores e dos parceiros comerciais. Creio que, havendo arte, mas faltando engenho, não estou habilitado, nem sou competente, para fazer uma avaliação de desempenho da Família A Nação. Não conseguirei ser neutro, embora tente ser isento e imparcial, colaborando com ideias, aconselhando num ou noutro caso e escrevendo crónicas, outrora semanais, agora quinzenais. O sentimento de pertença à grande família, não sendo parte da coisa, mas assumindo por inteiro a causa, continuo com o jornal A Nação a cumprir o seu 14.º Aniversário. Haja vida e saúde, posto sete mais sete são catorze, com mais sete são vinte e um, como cantofalávamos todos na nossa infância. De modo que, tal como no primeiro dia do Ano I, exemplar que guardo no lado esquerdo do peito, estou orgulhoso do percurso deste jornal e auguro a todos que de corpo e alma garantem o seu venturoso futuro. Agora baixinho, um rasgo de imodéstia, não vá cutucar a fera com vara curta, com assaz e estilosa edição comemorativa: Já somos a primeira via do jornalismo cabo-verdiano!
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 731, de 02 de Setembro de 2021