PUB

Ambiente

Clima: Ambientalistas pedem maior combate às alterações climáticas

Os dados sobre as mudanças climáticas no mundo não são nada animadores. Em Cabo Verde, as associações ambientalistas querem “mais acção e menos conversa” das autoridades e pedem também aos cidadãos que “não fechem os olhos” perante a emergência climática que se vive.

O recente estudo do painel intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas dá um veredito: se as nações não se unirem para travar a poluição, o aquecimento global “fará estragos incontornáveis”, com a hipótese de a temperatura do planeta aumentar 2ºC.

Cabo Verde, como um estado insular, situado ainda por cima numa das regiões mais afectadas pelo aquecimento global e deser-tificação, o Sahel, deve preocupar-se “mais do que nunca”, alertam os ambientalistas.

Autoridades estão perdidas, diz Tommy Melo

Tommy Melo, presidente da Biosfera 1, é de opinião de que as autoridades cabo-verdianos estão “perdidas” neste combate e cita várias incoerências.

“Se de um lado falam muito em ponderar, por outro quando se fala em ambiente vemos o que vemos; são novas regras a legalizar arco de pesca que são conhecidas a nível internacional por serem super-destrutivas, continuamos a ver apanha de inertes e construções que não devia ser, vemos leis contra a captura de espécies que são desenhadas, mas que na prática são difíceis de implementar”, refere Tommy Melo ao A NAÇÃO.

Sobre-exploração do ecossistema

Aquele biólogo acrescenta ainda a sobre-exploração do ecossistema em Cabo Verde como um dos maiores problemas ambientais que, como efeito, tem causado a acidificação dos oceanos, desaparecimento de corais, diminuição de machos de tartarugas, acentuada pela pesca destrutiva e ilegal, extração de inertes e construções nas encostas marinhas do país.

Para além das consequências nos mares, Cabo Verde sofre ainda com a poluição do ar, nomeadamente bruma seca, secas prolongadas, falta de chuva, aridez e falta de água. Um cenário que poderá agravar-se nos próximos tempos, caso não se consiga frear os impactos negativos no ambiente, segundo ambientalistas.

Combate “aquém do esperado”

“Cabo Verde, devido à sua pequenez, vamos sofrer um forte golpe caso não comecemos já agora a prevenir e usar
os recursos de forma sustentável porque esses recursos já vão sofrer uma pressão muito grande por parte do clima. Se nós não conseguirmos refrear o nosso próprio uso, vamos estar com um quadro muito agravado e vamos ter grandes problemas a nível ambiental e social”, alerta Tommy Melo destacando que “não está a ver” o combate acontecer intramuros.

Paulo Ferreira: “falta muita coisa por fazer”

Por sua vez, Paulo Ferreira, presidente da Quercus, entende que “falta muita coisa por fazer” para que Cabo Verde possa dizer que trabalha, verdadeiramente, para a sustentabilidade e na melhoria do clima.

Esse responsável diz “não ver” sinais claros em Cabo Verde que mostram preocupação com o clima, a começar, segundo diz, pelas instituições públicas no país que tem “pouca cobertura” de energias renováveis.

“Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável devem sair do Governo para a sociedade civil. O Palácio do Governo não tem nem 10% de energias renováveis e esses edifícios do Estado devem dar exemplo. Cabo Verde tem estado a desviar muito do objectivo, basta ver o Orçamento de Estado e o montante destinado a questões ambientais”, entende o presidente da Quercus.

Energias renováveis nas instituições

Para Paulo Ferreira, as instituições públicas, e não só, devem ter uma declaração de política ambiental, no sentido de serem os “exemplos para a sociedade”.

“Nas instituições em Cabo Verde, actualmente, tudo funciona com as luzes acesas e ar condicionado ligado e isso já justifica o aquecimento global em Cabo Verde”, exemplifica.

No país, a taxa de penetração de energias renováveis ultrapassa os 20%, tendo o objectivo de atingir 50% de penetração em 2030 e 100 % em 2040, no sentido de reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

Tommy Melo, da Biosfera, diz ser uma “estupidez coletiva” se a população continuar a “fechar os olhos” perante as necessidades “urgentes” de reformulações a serem feitas na gestão inteligente dos recursos.

“É preciso que os nossos governantes vejam que não estamos aqui a brincar e que o aquecimento global é sério, já bateu à porta e está a entrar”, diz Tommy.

Áreas protegidas: 20 anos à espera do Plano de Gestão

Para ilustrar a “despreocupação” com o ambiente, menciona as áreas protegidas do país que diz não serem levadas a sério, com Santa Luzia e Ilhéus a aguardar há mais de 20 anos para a aprovação do seu Plano de Gestão.

No entanto, apesar daquilo que chamam de inércia das autoridades e das pessoas no combate às mudanças climáticas, as associações dizem continuar “mais fortes” na luta a favor do clima, com ações ambientais de proteção e sensibilização das pessoas na proteção ambiental.

Contudo, o apelo é para que as autoridades se esforcem e intensifiquem o combate às mudanças climáticas para que a contribuição de Cabo Verde seja mais intensa e faça a diferença no clima.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 729, de 19 de Agosto de 2021

PUB

PUB

PUB

To Top