Felisberto Veiga, empresário e presidente da Associação Comercial, Agrícola, Industrial e de Serviços de Santiago (ACAISA), defende uma atenção especial das autoridades locais e centrais no sentido de dotar Santiago Norte de infra-estruturas e espaços capazes de atrair e cativar os grandes investidores. Como diz, sem portos e um ordenamento do território com espaços apropriados para receber grandes fábricas, de nada servem as potencialidades da região, que alberga mais de 120 mil pessoas.
O presidente da ACAISA) considera que a inexistência de infraestruturas, nomeadamente pequenos portos e espaços apropriados para acolher grandes fábricas têm dificultado o investimento e instalação de grandes empresas na região Santiago Norte. Felisberto Veiga aponta ainda a predominância do sector informal como uma outra dificuldade que o sector empresarial enfrenta, particularmente em Santa Catarina, o maior concelho de Santiago Norte.
“É preciso uma atenção especial das autoridades”
E, por isso, para reverter essa situação, defende que é preciso uma atenção especial das autoridades locais e centrais no sentido de dotar Santiago Norte de infra-estruturas e espaços capazes de atrair e cativar os grandes investidores que queiram implementar os seus projectos na região.
“O nosso maior problema é que Santiago Norte neste momento não é atractivo para o investimento. Ainda é preciso fazer muita coisa no sentido de garantir a fixação de empresas, sobretudo as ligadas à agricultura, pesca, turismo, serviços e comércios. Daí que, o grande desafio é o ordenamento do território para termos espaços apropriados para receber grandes fábricas na região com capacidade para produzir em quantidade.
E também portos de pequenas dimensões que permitam o escoamento dos produtos de forma eficiente”.
Infra-estruturas prioritárias para a região
É neste sentido que o presidente da ACAISA defende um maior engajamento e visão dos responsáveis dos municípios de Santa Catarina, Santa Cruz, São Lourenço dos Órgãos, São Salvador do Mundo, Tarrafal e Calheta, no que tange ao ordenamento territorial para receber grandes investimentos empresariais.
“Deve haver coragem e agenda de entendimentos entre os seis municípios para definir as infra-estruturas prioritárias para a região. Não faz sentido termos infra-estruturas repetitivas em todos os concelhos. Há que pensar em Santiago Norte numa lógica de complementaridade.
Só assim podemos criar um desenvolvimento polarizado e ter um Santiago Norte mais harmonioso e com capacidade de criar riquezas e outro nível de vida da população”.
Construção de porto em Santa Cruz
Felisberto Veiga salienta que a construção de um pequeno porto é uma reivindicação antiga de Santiago Norte.
“Os sucessivos Governos já falaram muito no cais de pesca na Ribeira da Barca, Rincão e um pequeno porto em Santa Cruz nos seus programas, mas até agora nada disso saiu do papel.
E, se calhar, ainda nem projecto existe. É preciso levar em conta que estamos a falar de uma região com cerca de 120 mil pessoas”, sublinha.
Conforme Veiga, enquanto os municípios de Santiago Norte não tiverem uma área específica para receber uma fábrica ou empresa de algum porte vai perder grandes projectos para outra região ou ilha por causa de ineficiências e da inexistência de infra-estruturas.
“Se vier um empresário para montar uma fábrica com determinada capacidade para produzir aguardente e capaz de empregar 100 ou mais pessoas terá dificuldade em encontrar espaços com condições para chegar e montar uma fábrica dessa dimensão em Santiago Norte.
E quando não houver condições criadas para exercer a sua actividade com tranquilidade e fazer o negócio crescer é lógico que ele prefere investir na Praia ou numa outra ilha. Isso porque o investidor tem pressa e actua na lógica de “era tudo para ontem”.
Alta taxa de informalidade
O presidente da ACAISA mostra-se também preocupado com a alta taxa de informalidade e mortalidade das empresas.
“No concelho de Santa Catarina principalmente, há situações muito preocupantes em que se cria muitas empresas mas poucas são as que funcionam.
A taxa de mortalidade das empresas é alta. Isso deve-se até um certo ponto à falta de infra-estruturas públicas que permitam às empresas, sobretudo as ligadas ao comércio, desenvolver a sua acitividade sem um custo de funcionamento elevado”.
Sem um porto, diz o entrevistado do A NAÇÃO, “somos quase que obrigados a afunilar tudo para a cidade da Praia e isso tem revelado um constrangimento.
Temos que ter capacidade para produzir em quantidade e condições para escoar também em quantidade e de forma mais eficiente”.
E, diante de um tal constrangimento, conclui, esperançoso:
“Se a região não tiver infra-estruturas de base significa que não está a ser atractiva para o investidor, uma vez que o custo para ter acesso à matéria-prima e escoamento do produto final é elevado. Isso leva muitas empresas a fecharem as portas ou actuar na informalidade para evitar certas despesas”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 728, de 12 de Agosto de 2021
