O “mullah” Baradar Akhund, chefe do Gabinete Político dos Talibã, no Qatar, anunciou o Fim da Guerra no Afeganistão, com a vitória dos insurgentes, após a fuga, no domingo, 15, do Presidente Ashraf Ghani e a captura de Cabul – a Cidade-Capital.
“Conseguimos uma vitória que não era esperada (…). Devemos mostrar humildade perante Alá”, disse o antigo número dois do Movimento Rebelde, numa mensagem de vídeo – a que o portal jn.pt teve acesso -, na que é a primeira declaração pública de um líder Talibã, após a conquista daquele País da Ásia.
“Trata-se, agora, de como servimos e protegemos o nosso Povo, e como asseguramos o seu futuro, para lhe proporcionarmos uma boa vida da melhor forma possível”, acrescentou.
No primeiro dia no Afeganistão, sob controlo Talibã desde a invasão dos Estados Unidos da América (EUA), em 2001, a segurança em Cabul e na maior parte do País amanheceu nas mãos dos insurgentes, que patrulham as ruas e controlam a circulação.
Os Talibãs tomaram o controlo de Cabul no domingo, 15, depois de terem entrado na Capital sem encontrar resistência, com quase todas as províncias debaixo do seu domínio.
“O Emirado Islâmico [como os Talibãs se auto-denominam] deu ordens aos seus ‘mujahideen’ e mais uma vez reitera que ninguém pode entrar em casa de ninguém sem autorização. A vida, a propriedade e a honra não serão prejudicadas”, escreveu na Rede Social ‘Twitter’, o porta-voz Talibã, Suhail Saheen.
Os meios de comunicação locais relataram imagens dramáticas de milhares de pessoas no Aeroporto Internacional de Cabul, tentando fugir do País, apesar do cancelamento da maioria dos vôos comerciais e das restrições.
A Embaixada dos EUA em Cabul, reiterou, esta segunda-feira, 16, o aviso aos seus cidadãos e às pessoas que aguardam o repatriamento, para se manterem afastadas do Aeroporto, devido à insegurança, até serem chamadas para embarcarem.
Presidente em fuga…
A chegada dos Talibãs a Cabul precipitou a saída do País do Presidente Ashraf Ghani, após terem tomado o controlo de 28 das 34 capitais provinciais, em dez dias, e sem grande resistência das Forças de Segurança Governamentais, no âmbito de uma grande ofensiva iniciada em Maio – altura em que começou a retirada das tropas Norte-Americanas e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) do País, que deverá ficar concluída no final deste mês.
Com a partida de Ghani, um grupo de líderes políticos formou o Conselho de Coordenação para a Transição de Poder para os Talibãs, composto pelo ex-Presidente Afegão, Hamid Karzai, o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação, Abdullah Abdullah, e o líder do Partido Hizb-e-Islami e antigo “Senhor da Guerra”, Gulbuddin Hekmatyar.
No entanto, os insurgentes não deram, até agora, informações sobre como funcionará o Processo de Transição ou a Tomada do Poder.
Ashraf Ghani em fuga
O Presidente Afegão, Ashraf Ghani, justifica que fugiu do País neste domingo, 15, para “evitar um banho de sangue”, quando o Talibã entrou na Capital, concluindo uma ofensiva relâmpago, em todo o País.
Ghani, que não informou para onde foi, afirmou que “incontáveis patriotas seriam martirizados e a Cidade de Cabul seria destruída”, se ele permanecesse.
“O Talibã venceu … e agora é responsável pela honra, propriedade e auto-preservação de seus compatriotas”, disse Ghani, em Comunicado, postado no “Facebook”.
No início da noite de domingo, o ex-vice-Presidente, Abdullah Abdullah, anunciou que o Presidente Ashraf Ghani havia “deixado” o País.
“O ex-Presidente deixou o Afeganistão, deixando o Povo nesta situação. Ele prestará contas a Deus e o Povo o julgará”, disse Abdullah, também chefe do Conselho Superior para a Reconciliação Nacional.
EUA controlam Aeroporto de Cabul
O Exército Norte-Americano anunciou que assumiu o controlo do tráfego aéreo no Aeroporto Internacional de Cabul, “para permitir a partida segura do pessoal dos EUA e aliado no Afeganistão, em vôos civis e militares”.
As forças Norte-Americanas dispararam para o ar, no Aeroporto de Cabul, depois de milhares de afegãos terem invadido a pista, procurando fugir do País, após a tomada de Poder pelos Talibãs.
O Pentágono estima em 30 mil, o número total de pessoas a retirar do País, entre diplomatas e outros cidadãos Norte-Americanos ou afegãos, que ajudaram os Estados Unidos e temem, agora, pela vida.
Malala “preocupada”
A activista paquistanesa, Malala Yousafzai, vencedora do Prémio Nobel da Paz, usou as redes sociais, no domingo, 15, para falar sobre a tomada de Cabul, pelos Talibãs.
Por meio do “Twitter”, a activista pela Educação afirmou estar “profundamente preocupada com as mulheres afegãs, as minorias e os defensores dos Direitos Humanos”. Ela pediu ajuda a outros países para que os cidadãos do Afeganistão possam obter refúgio e ajuda humanitária.
“Assistimos em completo choque, enquanto os Talibãs assumem o controlo do Afeganistão. Estou profundamente preocupada com as mulheres, as minorias e os defensores dos Direitos Humanos. As potências globais, regionais e locais devem exigir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis”, escreveu a activista.
Actualmente, Malala, de 24 anos, é um dos principais nomes pelo acesso universal à Educação e pela Emancipação das Mulheres. Aos 14 anos, porém, ela era apenas mais uma jovem paquistanesa que lutava por seu direito ao Ensino, quando foi atingida por um tiro na cabeça, disparado por integrantes dos Talibãs. Na ocasiõ, Malala estava dentro de um Autocarro Escolar, na Cidade de Mingora, a 200 quilómetros do Paquistão, País vizinho do Afeganistão.
Por seu turno, a representante da Juventude Afegã para as Nações Unidas, Aisha Khurram, relatou que professores já se despedem de suas alunas-mulheres, diante do avanço dos Talibãs no Afeganistão.
As mulheres estão a ser orientadas a sairem de suas casas, usando burca e professores-homens são aconselhados a ensinar os meninos, enquanto as professoras devem leccionar as meninas, pelo viés religioso. Os Talibãs são contrários ao que classificam como uma “Educação Ocidentalizada”.